Se a cultura se faz, nestes dias de confinamento e emergência, nas redes digitais, é também a partir delas que o sector vai, este sábado, protestar e reivindicar mais atenção, e mais meios, para que possa continuar a cumprir o seu papel, de resto constitucionalmente consagrado.
Inicialmente anunciada como uma acção de rua, um protesto nacional destinado a alertar o Governo e as instituições públicas para as consequências devastadoras da pandemia na sobrevivência dos profissionais da cultura, a renovação do estado de emergência levou as mais de três dezenas de associações e estruturas do sector a transferir a manifestação para as redes sociais.
É assim que, desde a primeira hora deste sábado, sob o mote #naruapelofuturopelacultura, o país cultural (e não só, esperam os organizadores) irá manifestar a sua preocupação perante o estado do sector.
“Mesmo que o protesto não estivesse, como não poderia estar, proibido, decidimos não ir para a rua por razões que têm a ver com o confinamento, e porque, perante os números da pandemia, não poderíamos insistir numa acção que se tornaria improdutiva”, diz ao PÚBLICO Rui Galveias, coordenador do Cena-Sindicato dos Trabalhadores de Espectáculos, do Audiovisual e dos Músicos (Cena-STE). Mas tal não diminui a necessidade nem a urgência do protesto, até porque os organizadores entendem que as medidas anunciadas há duas semanas pelo Governo para fazer face à emergência “deixam ainda muita gente de fora, e muita coisa por cumprir”, nota o sindicalista.
No mesmo sentido se manifesta Amarílis Felizes, da associação Plateia. “O que está escrito [no pacote anunciado conjuntamente pelos ministros da Cultura e da Economia] é muito reduzido, são apenas dois parágrafos; não sabemos muito bem o que é.
Falta regulamentação e falta explicar o seu alcance”, diz esta produtora cultural.
Este será, de resto, o tema da reunião de trabalho que a ministra da Cultura, Graça Fonseca, convocou para o próximo dia 3 de Fevereiro, em que é esperada uma clarificação dos moldes em que vão ser disponibilizados os 42 milhões de euros anunciados pelo Governo a 14 de Janeiro.
Uma fotografia, um vídeo, uma frase...
Enquanto esperam por esse esclarecimento, os promotores de #naruapelofuturopelacultura apelam aos profissionais do sector, mas também aos espectadores e aos cidadãos em geral, que participem na acção deste sábado, partilhando uma fotografia, um vídeo, um testemunho ou uma frase de protesto a partir do seu caso pessoal ou de outro(s) de que tenha conhecimento, e que permitam pressionar os governantes e responsáveis públicos a acudir a uma crise que previsivelmente vai prolongar-se ao longo de todo o ano de 2021.
Amarílis Felizes e Rui Galveias convergem nas questões a que esperam que a ministra da Cultura dê resposta: avançar rapidamente com a regulamentação das medidas de emergência; reforçar o montante dos apoios, para que os beneficiários não fiquem no limiar da pobreza, e aumentar a sua abrangência, já que houve muitos profissionais da área que ficaram excluídos das ajudas avançadas em 2020; obrigar os municípios e as instituições culturais a pagarem 100% dos custos da programação suspensa e alargar os seus compromissos a todos os eventos cancelados; e pensar em medidas a médio prazo, que possam perspectivar o futuro além do confinamento e dos sucessivos estados de emergência.
“Às vezes sinto que estamos num loop, repetindo sempre as mesmas exigências, mas a verdade é que a resposta não foi ainda a mais adequada”, diz Rui Galveias, mesmo se considera que os 42 milhões de euros já anunciados pelo Governo são uma verba relevante. “É um número que soa bem, olhando especialmente ao que ele significa no apoio às artes. Mas quando espraiamos esses 42 milhões pela realidade, e pela quantidade de pessoas envolvidas, percebemos que continuam a ser insuficientes”, acrescenta o sindicalista do Cena-STE, lembrando, uma vez mais, que o problema de fundo reside na suborçamentação crónica do Ministério da Cultura.
Depois do protesto deste sábado nas redes digitais, uma acção de rua continuará na agenda? Amarílis Felizes responde que isso irá depender de “as coisas avançarem ou não”, mas também do impacto e da eficácia deste #naruapelofuturopelacultura.
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