A maioria das pessoas está ciente de algumas das experiências médicas hediondas do passado que violavam os direitos humanos. A participação nesses estudos era forçada ou coagida sob falsos pretextos. Alguns dos exemplos mais notórios e conhecidos incluem os experimentos feitos pelos nazistas, o estudo da sífilis de Tuskegee, o Experimento da Prisão de Stanford e os estudos sobre LSD da CIA. Mas existem alguns outros menos conhecidos que passaram despercebidos. |
Os "voluntários" dos estudo, muitas vezes de populações vulneráveis, não deram -ou não puderam- dar consentimento para participar dele. Às vezes, eram atraídos a participar com a promessa de melhorar a saúde ou com uma pequena compensação. Outras vezes, detalhes sobre o experimento eram divulgados, mas a extensão dos riscos envolvidos, não.
Isso talvez não seja surpreendente, já que os médicos que realizaram esses experimentos eram representativos das atitudes predominantes na época de seu trabalho.
Mas, infelizmente, mesmo depois que o a obrigação do consentimento foi introduzido na década de 1950, o desrespeito pelos direitos de certas populações continuou. Alguns dos trabalhos desses pesquisadores resultaram em avanços científicos, mas eles chegaram às custas de procedimentos prejudiciais e dolorosos em assuntos desconhecidos.
Aqui estão cinco experimentos médicos do passado que você provavelmente nunca ouviu falar. Eles ilustram até onde avançou a orientação ética e legal, que enfatiza o respeito pela dignidade humana acima de tudo.
O médico da prisão que fazia transplantes testiculares
De 1913 a 1951, o eugenista Leo Stanley foi o cirurgião-chefe do Presídio Estadual San Quentin, a instituição correcional mais antiga da Califórnia, nos Estados Unidos. Depois de realizar vasectomias em prisioneiros, a quem recrutou por meio de promessas de saúde e vigor melhorados, Leo voltou sua atenção para o campo emergente da endocrinologia, que envolve o estudo de certas glândulas e dos hormônios que elas regulam.
Ele acreditava que os efeitos do envelhecimento e da diminuição dos hormónios contribuíam para a criminalidade, desvio de moralidade e atributos físicos deficientes. Transplantar os testículos de homens mais jovens em homens mais velhos restauraria a masculinidade, ele pensava.
Leo começou usando os testículos de prisioneiros executados, mas logo se viu desafiado pela "escassez de suprimentos".
Ele resolveu isso usando testículos de animais, incluindo cabras e veados.
No início, ele implantava fisicamente os testículos diretamente nos internos. Mas isso gerou complicações, então mudou para um novo plano: triturava os testículos do animal em uma espécie de pasta, que ele injetava no abdômen dos prisioneiros. No final de seu tempo em San Quentin, Leo fez cerca de 10.000 procedimentos testiculares.
O oncologista que injetava células cancerosas em pacientes e prisioneiros
Durante os anos 1950 e 1960, o oncologista Chester Southam do Instituto Sloan-Kettering, de Nova Iorque conduziu pesquisas para saber como o sistema imunológico das pessoas reagiria quando exposto a células cancerosas. Para descobrir, injetou células vivas de câncer HeLa em pacientes, geralmente sem sua permissão.
Quando o paciente dava seu consentimento, detalhes sobre a verdadeira natureza do experimento eram frequentemente mantidos em segredo. Chester fez experiências pela primeira vez em pacientes com câncer em estado terminal, aos quais tinha fácil acesso
A injeção resultou no crescimento de nódulos cancerosos, o que levava à metástase em uma pessoa.
Em seguida, Chester fez experimentos em indivíduos saudáveis, que ele achava que produziriam resultados mais precisos.
Ele recrutou prisioneiros e, talvez não surpreendentemente, seus sistemas imunológicos mais saudáveis responderam melhor do que os de pacientes com câncer.
Eventualmente, Chester voltou a infectar os doentes e providenciou para que os pacientes do Hospital Judaico de Doenças Crônicas no Brooklyn, fossem injetados com células HeLa. Mas desta vez, houve resistência.
Três médicos convidados a participar do experimento se recusaram, renunciaram e foram a público.
As escandalosas manchetes dos jornais chocaram o público, e procedimentos legais foram instaurados contra Chester.
Alguns membros da comunidade científica e médica condenaram seus experimentos, enquanto outros o apoiaram.
Inicialmente, a licença médica de Southam foi suspensa, mas não durou nem um ano para que levantassem a suspensão. Sua carreira continuou a ser ilustre, e inclusive acabou sendo foi eleito presidente da Associação Americana para Pesquisa do Câncer.
O apropriadamente denominado "estudo de monstro"
O patologista pioneiro da fala Wendell Johnson sofria de gaguz severa desde a infância. Sua própria experiência motivou seu foco em encontrar a causa e, com sorte, uma cura para a sua própria gaguez.
Ele teorizou que a gagueira em crianças podia ser impactada por fatores externos, como reforço negativo.
Em 1939, sob a supervisão de Wendell, a estudante Mary Tudor conduziu um experimento de gaguez, usando 22 crianças de um orfanato de Iowa, nos EUA.
Metade recebeu reforço positivo.
Mas a outra metade era ridicularizada e criticada quando falava, gaguejasse ou não. Isso resultou em um agravamento dos problemas de fala das crianças que receberam o feedback negativo.
O estudo nunca foi publicado devido à infinidade de violações éticas. De acordo com o Washington Post, Mary se arrependeu amargamente pelos danos causados pelo experimento e voltou ao orfanato para ajudar as crianças.
Apesar de seus erros éticos, a Clínica de Fala e Audição da Universidade de Iowa leva o nome de Wendell Johnson e é uma referência às suas contribuições para o campo.
O dermatologista que usava prisioneiros como porquinhos da Índia
Um dos maiores avanços na dermatologia foi a invenção da tretinoína, um creme que pode tratar os danos causados pelo sol, rugas e outras doenças da pele, como acne.
Seu sucesso levou à fortuna e à fama o co-inventor Albert Kligman, dermatologista da Universidade da Pensilvânia.
No entanto, Albert também é conhecido por seus nefastos experimentos dermatológicos em prisioneiros, que começaram em 1951 e continuaram por cerca de 20 anos. Ele conduziu sua pesquisa em nome de empresas como DuPont e Johnson & Johnson.
O trabalho dele muitas vezes deixava prisioneiros com dor e cicatrizes enquanto os usava como sujeitos de estudo na cicatrização de feridas e os expunha a desodorantes, pós para os pés e muito mais para empresas químicas e cosméticas.
Certa vez, a Dow convocou Albert para estudar os efeitos da dioxina, uma substância química do Agente Laranja, em 75 presidiários da prisão de Holmesburg, na Pensilvânia.
Os prisioneiros receberam uma pequena quantia por sua participação, mas não foram informados sobre os potenciais efeitos colaterais.
No jornal da universidade, Almanac, o obituário de Albert enfocou seus avanços médicos, prêmios e filantropia.
Não houve reconhecimento de seus experimentos na prisão. No entanto, ele mencionou que, como um - "membro destacado na área, ele também experimentou seu quinhão de polémica."
O endocrinologista que irradiava prisioneiros
Quando a Comissão de Energia Atómica quis saber como a radiação afetava a função reprodutiva masculina, eles procuraram o endocrinologista Carl Heller.
Num estudo envolvendo prisioneiros da Penitenciária Estadual de Oregon entre 1963 e 1973, Heller projetou uma engenhoca que irradiava seus testículos em quantidades variáveis para ver qual efeito tinha, particularmente na produção de esperma.
Os prisioneiros também foram submetidos a repetidas biópsias e foram obrigados a fazer vasectomias assim que os experimentos terminaram.
Embora os participantes do estudo fossem pagos, isso levantou questões éticas sobre a potencial natureza coercitiva da compensação financeira para as populações carcerárias.
Os prisioneiros foram informados sobre os riscos de queimaduras na pele, mas provavelmente não sabiam sobre a possibilidade de dor significativa, inflamação e o pequeno risco de câncer testicular.
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