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segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Orgulho na guerra do ultramar… não!


 postal.pt

Daniel Graça

Opinião


Artigo de opinião da autoria do professor Daniel Graça: "Como posso ter orgulho em ter ido para uma guerra onde morreram novos, velhos, homens, mulheres e crianças que estavam na sua terra, nas suas casas de miséria, no seio das suas famílias a comerem o que a terra lhes dava?"

Estive dois anos na guerra da Guiné porque fui obrigado, tempo perdido na vida, não posso ter orgulho numa coisa que me obrigaram a fazer!

Ouço e vejo escrito muitas vezes que alguém tem orgulho em servir ou ter servido a pátria, o que é isso de pátria? Eu nasci no planeta Terra.

Como posso ter orgulho em ter montado minas para, traiçoeiramente, mutilar ou matar alguém?

Como posso ter orgulho em ter ajudado a defender interesses económicos e políticos contrários à razão humana?

Como posso ter orgulho em ter ido para uma guerra onde morreram novos, velhos, homens, mulheres e crianças que estavam na sua terra, nas suas casas de miséria, no seio das suas famílias a comerem o que a terra lhes dava?

Esse orgulho é para os militares profissionais. A sua profissão é criar estratégias para aniquilar o “inimigo”, bem como arranjar os meios materiais e humanos para tal desiderato. Ora, um não profissional das forças armadas não pode ter orgulho na sua participação numa guerra para onde foi obrigado a ir. Outra coisa é ter a convicção de ter feito bem tudo aquilo que foi obrigado fazer.

Portugal não comemora o dia da sua fundação como Estado por D. Afonso Henriques, mas comemora, com pompa e circunstância, o dia da sua independência de Castela, tudo bem, mas dominou outros territórios durante séculos e os seus (nossos) governantes não queriam dar a independência a esses povos, os quais são na realidade outras Nações.

Considerando que ‘Província’ é uma qualquer parte da divisão territorial de uma nação, como Portugal constitui uma nação no espaço geográfico situado na Europa, e, pressupondo a uniformidade de origem da sua população, então as colónias portuguesas situadas em outros continentes jamais poderiam honestamente ser denominadas províncias portuguesas, isso só aconteceu porque interessou politicamente ao Estado Novo para substituir a designação de colónia, como se a realidade pudesse ser iludida por uma qualquer ideologia política.

Como posso ter orgulho em ter participado numa guerra que pretendia manter estas contradições insanáveis? 

Eu teria orgulho se Portugal tivesse tido uma atitude de formação e elevação social e política daquelas populações ao longo dos séculos, e que eu também tivesse contribuído com a minha parte desse esforço colectivo.

Já meditei muito sobre os conceitos de ‘Pátia’, ‘Bandeira’, ‘Hino’ e ‘Fronteira’, todos tiveram origem em tempos remotos para agregar as populações, obrigadas ou voluntárias, em defesa dos interesses dos Senhores daquelas épocas. É uma realidade que se mantém plenamente nos nossos dias.

Poderei não ter razão, mas não tenho orgulho em ter ido obrigado para uma guerra, perpetuar uma situação indesejável por aqueles que constituem aquelas Nações!

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