Vitorino Silva, candidato às eleições presidenciais, recusa falar de Ana Gomes, critica Marcelo e diz que as pessoas “valorizam quem não desiste”. Pode ouvir a entrevista esta quinta-feira às 13h na Renascença.
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Defendeu o adiamento destas eleições presidenciais. Acha que só devia haver eleições quando passasse a pandemia?
Temos que pensar nos outros e nas pessoas que mais lutaram para que hoje possamos votar que são os idosos, que tiveram um papel muito importante no 25 de Abril, e que são a classe que menos se abstém. Vai haver uma grande abstenção e vai ser uma vergonha para a democracia.
Adiar as eleições também não era estranho para a democracia?
Não, toda a gente iria perceber. E digo isto não a pensar em mim porque o meu eleitor nem sequer é o idoso. Quem vai ser mais prejudicado com a abstenção dos idosos é outro candidato.
Vai haver campanha suficiente?
Acho que sim. Ainda há uma semana não havia nem um debate, apartaram-me, fecharam-me a porta e agora querem fazer debates. Não há fome que não dê em fartura! As pessoas, que estão em casa porque não saem tanto, pelo menos vão poder estar mais atentas à mensagem dos candidatos. Têm mais tempo para ouvir os políticos.
Porque é que concorre de novo às eleições presidenciais?
Concorro, porque sou português e não sirvo só para pagar impostos. Há cinco anos fui candidato e tive 152 mil votos. Concorro, porque tenho respeito por quem acreditou em mim há cinco anos e por aqueles que não acreditaram e entretanto mudaram de ideias. Sou candidato para dar voz ao povo e fui excluído dos debates televisivos por isso. Porque sou arraia-miúda. As pessoas sabiam que eu ia conseguir as assinaturas, sabiam que a minha campanha é séria, que eu sou uma pessoa equilibrada. Só que [as televisões] têm favores a pagar aos partidos com assento parlamentar e estão feitas com eles.
Como funciona o seu partido? Quantos militantes têm?
Já fizemos dois congressos, convidámos a comunicação social e ninguém apareceu.
Tem cerca de 100 militantes. O meu partido, na primeira vez que foi a votos [eleições regionais da Madeira a 22 de Setembro de 2019], teve mais votos do que o Chega. Nenhum rio nasce no mar, nasce no alto da montanha, mas tenho a certeza que um dia [o meu partido] vai chegar ao mar e que vai ter um grande caudal. Toda a gente sabe que não sou nenhum totó. O Tino não é só palco. Sou uma pessoa séria, com estrutura, sou pai, já fui presidente de uma junta de freguesia, dou formação, sou escritor.
Já foi militante do PS. Considera-se um homem de esquerda?
Sou um homem de esquerda às direitas.
Imaginemos que um dia o seu partido chega ao Parlamento. Seria capaz de fazer maioria quer à esquerda, quer à direita?
Mais importante que ser de esquerda ou de direita, é ser central. Quando António Costa fez aquela jogatana com a “geringonça”, o PSD ficou muito agitado, mas depois nos Açores fez o mesmo: é tudo farelo do mesmo saco. As pessoas não devem andar ao sabor das marés.
Disse sobre Marcelo que “há partes” de que gosta. Que partes são essas?
A forma de comunicar. Marcelo tem inteligência e esperteza, mas às vezes põe a esperteza à frente da inteligência e devia fazer o contrário. Às vezes, fala de mais e quando era preciso que falasse não falou.
Já o criticou por “muitas vezes ter deixado o sentido de Estado de lado”. Está a falar de que ocasiões?
Ele guarda-se muito para os focos. Quando há televisões, ele é outra pessoa.
No caso da pandemia, o que podia ter feito de diferente?
Vou dar o exemplo de Penafiel, que está na zona crítica, na zona vermelha, e não vi o Marcelo a estar ali.
Deveria ir aos locais onde há muito contágio?
Não iria para se misturar. Mas o hospital de Penafiel, que serve 500 mil pessoas da região, não tem uma máquina para fazer ressonâncias magnéticas. É uma vergonha!
Os titulares de cargos políticos deviam estar na primeira prioridade da vacinação?
Os políticos não estão na linha da frente. Quem estão são os enfermeiros, os médicos, os assistentes operacionais. Não me importo de ser o último português a tomar a vacina.
Mas não é por não confiar na vacina?
Não. Enquanto houver um português que não é vacinado, eu dou-lhe a minha vez.
O que pensa da candidata Ana Gomes? Ponderaria votar nela?
O que digo é que já sei em quem vou votar na segunda volta. Tenho muito respeito pelos outros candidatos, não vou comentar.
Vai haver votos para todos nestas eleições, embora infelizmente quem vai ter mais votos vá ser a abstenção.
Dizia que basta ir às redes sociais para vermos que a sua candidatura tem força. Está a dizer que a democracia hoje assenta no que se passa nas redes sociais?
Temos que curar a democracia e é urgente arranjar uma vacina que combata os populismos.
O que é para si os populismos? O Chega?
Respeito todos os partidos a partir do momento em que foram aprovados pelo Tribunal Constitucional.
Uma coisa são partidos ilegalizados ou não, outra coisa são populismos.
Nestas eleições, há três candidatos que são muito populares que se destacam em relação aos outros: Marcelo, eu e Ventura.
Eu sou popular, há um que é popular-populista, Marcelo, e há outro que é populista popular, Ventura. Marcelo já cá anda há muito tempo, cresceu muito, foi evoluindo muito de eleição para eleição. Percebeu que a autenticidade também dá votos.
Acha que ele é autêntico?
É uma pessoa imprevisível, muito bem preparada, gosto do Marcelo quando é ele próprio, não gosto do Marcelo quando é influenciado pelos seus assessores.
É candidato pela segunda vez à Presidência, o seu partido já concorreu a legislativas. Gostava de ser deputado?
Não fui deputado por quatro ou cinco décimas. Naquele domingo das eleições, às dez da noite, toda a gente me ligava a dizer:
“Está quase!” Depois vieram os votos do Porto e Gaia, e eu não fui. O telefone deixou de tocar e às 7h da manhã recebi uma chamada de Inglaterra, era a minha filha a dizer:
“Ó pai, não fiques triste”. Eu não estava na valeta, eu estava abaixo da valeta.
E ela: “Pai, daqui a quatro anos eu vou ser rica e quem te vai pagar a campanha sou eu”. Foi das coisas mais bonitas que ouvi até hoje. Claro que não fui deputado porque o povo não quis, mas muita gente não votou no Tino, porque não sabia. O Tino foi completamente abafado e não teve visibilidade.
Portanto, esta campanha [presidencial] também é importante para si para aumentar a sua notoriedade com vista às próximas eleições legislativas?
O que lhe digo é que todos os portugueses me conhecem, gostam muito da minha maneira de ser. Sabem que estou na política com seriedade e com paixão.
Já foi presidente de uma junta de freguesia. Não está nos seus planos candidatar-se à Câmara de Penafiel?
Já estive numa das pontas do novelo. Não tenho dúvidas nenhumas que um dia vou chegar à outra ponta do novelo.
O Biden chegou lá com 77 anos, porque não desistiu e as pessoas valorizam muito quem não desiste. Só tive a noção que a minha candidatura tinha força quando, aqui há dias, quando eu já tinha tudo prontinho para entregar as assinaturas, dois amigos meus me pediram para desistir a favor de uma candidata e a favor de outra.
De quem? Ana Gomes?
Não vou dizer mas as pessoas sabem muito bem quem é. Quando eu já tinha 10 mil assinaturas, começaram a dizer-me “ah, tu não vais ter votos nenhuns, vais ter um resultado muito pior, não faças isso, não arrisques”.
Uma das decisões que o próximo Presidente terá de tomar será sobre a lei da eutanásia que sairá do Parlamento. Qual é a sua opinião sobre o assunto?
Se estivesse no Parlamento, o que eu faria era alterar o número de 50% [de participação] para o referendo [ser vinculativo].
Então defende que devia haver um referendo à eutanásia?
Era a minha primeira opção, mas sem o travão dos 50%.
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