O «Público» de hoje traz um saboroso artigo de Bárbara Reis sobre a personalidade de um vice-presidente do partido da ignóbil criatura.
Tendo por único aspeto curricular meritório o de ter sido filho de Maria Germana Tânger - que influenciou toda uma geração de declamadores de poesia para deixarem de fazer as tristes figuras dos que anteriormente se ridicularizavam nos gestos enfáticos e nas entoações grandiloquentes! - o ex-embaixador denota um passado, que justifica a sua associação àqueles que Robert Musil definiu como homens sem qualidades.
Na juventude andou na Juventude Centrista e privou de perto com Freitas do Amaral e Lobo Xavier. A boa agenda de contactos terá sido determinante para entrar ao serviço do Ministério dos Negócios Estrangeiros, quando a AD de Sá Carneiro ganhou as eleições e logo preparou uma lista dos embaixadores e cônsules a sanear, só o travando o bom senso da generalidade dos diplomatas, que tinham passado sem problemas do regime anterior para o subsequente à Revolução de Abril e decerto recearam que, nas voltas dos acontecimentos, não se vissem de novo poupados, quando a relação de forças se voltasse a inverter.
De qualquer forma, a coberto da proteção política, Tânger fez carreira por vários consulados e embaixadas em quase todos deixando marca danosa do que foram os seus atos. Em Toronto foi subornado com dois veleiros no valor de dezenas de milhares de dólares, porque fez saber à comunidade de emigrantes o quanto gostava de se fazer ao mar. Afundando um, logo outro o substituiria com os corruptores a reporem o que, por inépcia, perdera. Em Goa arrombou as portas de uma casa, dela correndo com a família aí residente, para firmar a representação portuguesa. Quando os amigos dos escorraçados vieram tratar-lhe do pelo, só a polícia e uma chusma de gorilas contratados para o efeito o eximiu de pagar os custos do comportamento arruaceiro. Mais recentemente em Vilnius andou a gastar as verbas confiadas à embaixada sem apresentar os respetivos justificativos, pressupondo-se que no todo, ou em parte, o fez em seu proveito.
É pois esta personagem que se fez próximo da ignóbil criatura, mesmo sendo exemplo absolutamente contrário das «virtudes» propagandeadas pelo seu führer. Corrupção, assaltos a casas alheias e outras habilidades levaram uma ex-colaboradora numa das representações portuguesas que dirigiu, a dizer que o apelido fazia mesmo jus à personagem: se Tânger representou, em 1437, uma das mais trágicas páginas da História portuguesa, o mostrengo com esse mesmo nome constituía uma verdadeira calamidade para todos os cargos infaustamente por ele ocupados.
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