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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

A história da subcultura Chola: conheça as gangs de garotas latinas.


www.modadesubculturas.com.br /2017/12/a-historia-da-subcultura-chola-conheca-as-gangues-de-garotas-latinas.html

A história da subcultura Chola: conheça as gangs de garotas latinas.



A subcultura Chola tem suas origens na cultura pachuco da década de 1940 e possui identidade marcada pela segregação e racismo históricos, guerras de gangues, violência, pobreza e papéis de gênero conservadores. Sua estética não é apenas moda, mas uma declaração simbólica sobre luta e identidade conquistada.

Existe uma história de resistência e resiliência entre as mulheres mexicanas-americanas da Califórnia, também chamadas de Chicanas. 

 As Pachucas, antepassadas das cholas, eram donas de um estilo não conformista e rebelde. 

A transição do estilo de pachuca para o chola ocorreu a partir da década de 1960, mas foi na década de 1990 que viveu seu auge no underground influenciando também a cultura dominante.

Acredita-se que a palavra "Chola" deriva de Xolotl, um antigo deus Asteca que  guiava os mortos para o submundo. Quando os espanhóis conquistaram o império asteca no século 16, as crianças de mistura espanhola e ameríndia eram insultadas como 'xolos'. No começo do século 20, quando ocorreu a migração mexicana para as áreas pobres de Los Angeles, eles foram chamados de 'cholos' e então, na década de 1960, a classe trabalhadora mexicana retoma o termo e o subverte como símbolo de resistência durante o movimentos dos direitos civis chicanos: o Chicano Power ou Movimento Chicano.

Assim, "Cholo" identifica méxico-americanos ou chicanos afiliados à gangues do sul da Califórnia. Os grupos latinos ofereciam um senso de família e orgulho, identidade e pertencimento e em alguns casos proteção. Chola define as jovens latinas que são parte de gangues.

Cholas: jovens latinas pertencentes à gangues.

Gangs

Culturalmente associamos gangues a situações negativas as gangues chicanas surgiam como uma forma de proteção e resistência contra a opressão. A cara fechada demonstra desprezo ou apatia pela sociedade que os exclui. Os cholos e cholas  envolvem-se em gangues visando a auto proteção nas ruas. Assim como  os seus pais e avós, eles valorizavam o conceito de família, eram orgulhosos de sua etnia e defendiam sua identidade e a lealdade entre os companheiros. As garotas latinas envolvidas em gangues na década de 90 são conhecidas como Homegirls.

Homegirls: "Aztek Nation" e "Brown Sugar Crew", gangues de garotas chicanas nos anos 1990.

Estilo de Vida

O estilo de vida da subcultura chola demonstra interesse musical por hip hop, o rap chicano, gangsta rap e até mesmo rockabilly e punk rock. 

Há a cultura Lowrider, criada pelos mexicanos-americanos no começo do século 20, documentado nas páginas de publicações como Teen Angels que destacava arte, moda, tatuagens e códigos morais. 

Alguns filmes retrataram a subcultura, como Corredor Polonês (Walk Proud, 1979), Boulevard Night (1979) e Mi Vida Loca (1994), sendo este o mais famoso e que se tornou cult por mostrar a vida e os relacionamentos de quatro garotas de uma gangue em Los Angeles na vizinhança de Echo Park. 

As atrizes selecionadas eram pertencentes a gangues reais. 

A diretora Allison Anders,  disse-se interessada em mostrar a subcultura como cultura pop, abrangendo música, roupas, lealdade, amor e sororidade feminina.

Cultura Lowrider: carros antigos customizados.

carros-lowrider-cultura-lowrider

Bicicletas Lowrider


Páginas da revista Teen Angels.

Mi Vida Loca é o mais famoso filme sobre as Cholas.
Hoje é cult e considerado feminista.

Estética

A estética da garota mexicana-americana da periferia é composta por estilo, trejeitos e atitudes próprias e principalmente orgulho de suas raízes. 

Cabelo e Maquilhagem:

Esse é o ponto mais marcante da estética chola. 

É composto por sobrancelhas finas e arqueadas desenhadas a lápis, olhos bem marcados podendo ter maquilhagem gatinho (cateye makeup), lápis de boca mais escuro que o batom (vermelho escuro ou preto com batom vermelho vibrante), lágrima desenhada abaixo de um olho representando a opressão dos mexicanos na América. 

Cada gangue tem uma forma autoral de fazer a maquiagem o que permite identificar a qual pertence cada garota.

Sobrancelhas pretas e arqueadas, cateye, sombra e lápis de boca contornando os lábios: característica marcante das cholas.

À direita, cholas em 1997.

Grandes topetes ou franjas pin-up ou beehive são adornados com bandanas. 

É suposto que os altos pompadours são usados para esconder canivetes. 

Elas podem fazer pequenos cachos nos cabelos bem juntos à pele.
Tanto o cabelo quanto a maquilhagem retrô podem ser interpretadas como homenagem às antepassadas pachucas, boa parte das referências remetem à década de 1940.


chola-hairstyle-pompadour

cholas-hairbands

Como adornos, óculos gatinha (cat eye glasses), grandes brincos de argola dourados ou prateados e tatuagens constantemente celebrando as origens mexicanas, com palavras grafadas em fonte Old English, imagens de veneração à família ou à virgem de Guadalupe.


Roupas e calçados:

As Cholas usam camisetas/regatas brancas ou estampadas com símbolos religiosos, tatuagens ou palavras na fonte Old English; por cima camisa xadrez oversized abotoada só no primeiro botão. 

A barriga de fora é comum assim como suspensórios, longas correntes e cintos com grandes fivelas. Jeans ou calça baggy Dickies em denim ou na cor cáqui. Como sapatos, as cholas são vistas usando "chanclas" (espadrilles), ténis ou algo que permita fugir da polícia, contrastando com os altos saltos usados nos eventos de lazer que costumam ser acompanhados de roupas em estilo retrô, especialmente da década de 1940, época das Pachucas.

Além do visual calça, regata e camisa xadrez, as cholas também adotam a estética retrô da década de 1940, época em que as pachucas viveram.

As pulseiras de plástico são uma marca forte na subcultura, cada menina monta do jeito que quiser, de forma única ou montam em combinação com a turma.


O Estilo Masculino:

Como vimos no post anterior sobre os pachucos, o estilo cholo de calça cáqui (Dickies) e regata branca pode ter evoluído tanto do visual militar quanto do uniforme das cadeias. O visual encontra elementos comuns ao estilo feminino: camiseta branca, camisa xadrez sobre camiseta branca abotoada só o primeiro botão, calça ou bermudas largas cáqui ou denim, tatuagens em homenagem à cultura chicana, lágrima nos olhos, bandana, óculos escuros e cabeça raspada. 

Nos pés, ténis. As peças são bem largas, homenageando o terno Zoot Suit dos antepassados Pachucos. Assim como as cholas, é comum os cholos formarem os seus gangues, é deles a ideia de tatuagens de gangues representando o grupo ou local de origem, comumente usando a fonte Old English nas escritas.

A tatuagem de lágrima remete ao sofrimento do povo mexicano na América assim como simboliza a perda de algum ente querido. São comuns tatuagens no rosto, cabeça e boa parte do tronco.


O boné de aba reta é amplamente adotado assim como calças ou bermudas largas que lembram as calças larguíssimas do terno zoot da década de 1940.
O visual encontra paralelos no visual das subculturas skate, rap e hip hop, embora cada um destes grupos use os trajes por motivos específicos, há vários pontos em comum entre estas subculturas que influenciam umas às outras.

Cholos: "vida loca" é uma frase da subcultura 

que habita a área 818 do Vale de Los Angeles.

cholos-chicanos-los-angeles

Cholos e Cholas: "Brown Pride" é uma expressão que simboliza o orgulho de suas origens indígenas e mexicanas.

Curiosidade: as calças Dickies existem desde 1922, mas foi durante o período da segunda guerra mundial que sua durabilidade e conforto as tornaram pioneiras no traje de trabalho moderno. 

Na década de 1960 se tornou unissex e podiam ser tingidas de qualquer cor. 

Nos anos 1980 passam a ser desenhadas para as formas femininas e é no fim desta década que as Dickies se tornam peça fundamental da cultura latina de rua, tanto para homens quanto para mulheres por ser barata e durável. 

Foi adotada por skatistas, roqueiros, sendo uma das adeptas mais famosas a cantora Gwen Stefani.

Na cultura dominante

Na década de 1990 a subcultura Chola viveu seu auge no underground influenciando fortemente a cultura dominante. Uma das artistas que levou a estética ao grande público foi Gwen Stefani, conhecida pela adesão ao estilo. 

A cantora declarou em entrevista que as Cholas são sua maior influência: 

"As cholas... elas tinham uma maquilhagem inacreditável... eu cresci em Anahein (cidade no sul da Califórnia) de imensa população hispânica, eu sonhava acordada vendo minhas colegas de sala passando maquiagem, eu ficava hipnotizada". 


Stefani homenageia as cholas no vídeo "Luxurious". Anaheim, a cidade de Gwen que fica a 2hr da fronteira com o México, hospeda o The Viejitos Summer Show N Shine um grande evento Low Rider, ou seja, a cantora cresceu num ambiente onde recebeu grande influência da cultura chicana e isso formou sua personalidade e estilo.

Gwen Stefani: regata branca, calças da marca Dickies, cinto de tecido, sobrancelhas finas, lábios contornados de cor mais escura - a cantora nasceu numa cidade Chicana, sendo fortíssima a influência chola em seu estilo pessoal.

A maquilhagem chola de Gwen no vídeo Luxurious.

Kat von D

A empresária e tatuadora tem pais argentinos, mas nasceu no México. Como Stefani, von D recebeu grande influência da cultura chicana quando nova, tanto que um de seus batons é nomeado “Homegirls” e possui o tom roxo avermelhado escuro, típico de uma Chola. 

Ela conta: “Meu batom líquido Homegirl  foi inspirado pela primeiro batom que eu tive. 

Eu era muito, mas muito pobre. Muito pobre mesmo... Eu era uma garota gótica e minha irmã era uma Chola, então nós podíamos compartilhar aquele batom.”

Kat nasceu no México e posa com a irmã Karoline, que era Chola; seu batom "homegirl" - gíria que se refere às garotas de gangues.

Jennifer Lopez é de ascendência porto riquenha, conhecida por ter orgulho da cultura latina. 

Ela interpreta uma personagem chola no vídeo “Get Right.”

Amy Winehouse e a cantora Selena possuem referências visuais da cultura Chicana: 

A imagem estética da chola foi explorada também por artistas como Lana del Rey no clipe “Sad Girl”, Nicki Minaj em "Senile", Fergie, Rihanna e Demi Lovato também foram algumas que chegaram a usar o visual que também foi relido em desfile da Givenchy de Riccardo Tisci, na Rodarte e em editorial de 2012 na Vogue Itália fotografado por Steven Meisel. Em todos estes casos houve crítica por apropriação cultural da estética da subcultura.

Cholas comentando o visual de Nicki Minaj, Rihanna e Jennifer Lopez:

vídeo




A estética chola é tão forte e marcante que o artista Michael Jason Enriques criou o projeto Cholafied, que através de manipulação de imagens transforma celebridades em Cholas. Divertido, mas ao mesmo tempo poderoso por mostrar como a subcultura de Los Angeles deixou sua marca na cultura americana e na cultura pop.


Como subcultura, os cholos e cholas mostram resistência à pobreza, adversidade, preconceito e dominação. 

Seus trajes vão além de uma declaração de moda, são de grande importância social. 

Para as cholas, ser parte de uma gangue é uma forma de empoderamento, muito mais do que um modismo de "squad girls" de filmes hollywoodianos, é sobrevivência, real senso de comunidade.

Chola por vida! 




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