15 – Jorjais de Perafita, Alijó Abrigo de pedra Lajes de 1,50 a 2,50 m de comprimento e cerca de 1 m de largura
22 – Serra da Amarela Penedo com covinhas onde deitam a comida para os cães em frente ao forno da branda do Vidoal
17Segundo Jorge Dias, as casarotas da Amarela seriam as casas de uma branda de tempos antigos em que cada dono acompanhava apenas o seu rebanho às pastagens altas da serra, onde tinha o seu abrigo; tendo se posteriormente descoberto uma maneira mais cómoda de realizar esse tra balho, mediante uma organização colectiva em que dois pastores, substi tuídos diàriamente por outros dois, à vez por todos os vizinhos, só precisam de passar uma noite na serra, para o que lhes basta uma cabana em cada lugar de pernoita, as casarotas ter se iam abandonado, e paulatinamente arruinado.
Des. 1 – Abrigos de materiais vegetais fixos: a) S. Pedro da Cadeira, Torres Vedras. Canas recobertas por palha de fava. b) Santiago de Cacém. Esqueleto dum abrigo,
c) S. Pedro da Cadeira, Torres Vedras. Canas dispostas em duas águas.
36De todos estes géneros aparecem exemplos dispersos em muitas partes, e por vezes outros que se podem considerar como suas variantes. Entre Espinho e Ovar, ao Sul do Douro, por exemplo, vêem se abrigos deste tipo, de planta quadrangular, de duas águas, com aspecto e estrutura – de caibros e ripas – semelhantes aos das cabanas de palha milha a que adiante nos referiremos, e revestidos com essa mesma palha ou, mais frequentemente, com a palha caniça que vão buscar aos alagadiços da beira mar ou da Ria de Aveiro, que dura mais tempo e dá melhor cobertura ; por vezes o seu cume é vedado com colmo. Na Beira Alta (onde aliás abundam diversas outras espécies de construções em materiais vegetais), por sua vez, encontra mos também com bastante frequência – por exemplo nos concelhos de Viseu, Mangualde, Castendo, Fornos de Algodres, Celorico, Gouveia, etc., e também de Aguiar e Sernancelhe a Moimenta e Tabuaço –, abrigos deste tipo, com certo predomínio dos de duas águas e planta rectangular; numa área limitada da região de Sátão, no Avelal, predominam, pelo contrário, os abrigos cónicos (que se assemelham a outros móveis, muito correntes também nesta Província, e que adiante estudaremos), de feitura cuidada, e para guarda de campos: dispostas em círculo, espetam se no chão umas oito varas, de pinheiro ou carvalho, fixas no alto, em entalhes abertos num pião de pau (para o que as pontas das varas são adelgaçadas e facejadas) travadas por três ou quatro paus pequenos pregados a elas, muito no alto, e dispostas diametralmente; à volta deste cone pregam se arcos de varas finas, geralmente em número de cinco; o colmo é passado em feixinhos sobre estes arcos, atados com vencilhos de palha; em cima, o remate é, como nas medas, feito com o enrolamento de um cordão de palha; a entrada ocupa a largura entre duas varas, e tem 50 a 70 cm de altura (fig. 41).
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41Na região compreendida entre Torres Vedras e o mar, onde abunda a cana, que é utilizada para inúmeros fins, são frequentes os abrigos feitos nesse material, mormente nas vinhas; umas vezes, esses abrigos são de planta quadrangular, ora de duas águas (fig. 50 e des. 1 c), ora com uma cobertura horizontal igualmente de canas; outras vezes, eles são de planta circular, constituídos por um cone de canas que se encostam simplesmente a qualquer árvore; etc.
42Num caso excepcional, em Gião, no concelho de Loures, perto de Lisboa, para guarda de campos, vimos um abrigo também de planta quadrangular e de duas águas; mas, em lugar do cume, tem duas varas paralelas, afastadas cerca de 50 cm: os prumos, de pinho, enterram se no solo, atrás e à frente, com a entrada enquadrada entre dois deles; sobre eles correm, de cada lado, as duas varas do cume, das quais se lançam, até ao solo, os caibros inclinados; a cobertura dos lados e das empenas é em palha, presa entre vários pares de varas horizontais amarradas umas às outras e recobertas com ramagens de pinheiro e mato (fig. 49).
Des. 3 – Águas de Moura, Setúbal. Abrigo do guarda das pilhas de cortiça, feito de pranchas desse material.
43Em certas regiões de sobreiros, vêem se por vezes pequenos abrigos de guarda das pilhas da cortiça já apanhada, feitas de pranchas desse material; num exemplo perto de Águas de Moura (Setúbal), essas pranchas, muito grandes, dispunham se – a partir de uma vara fazendo de cume, passada entre um sobreiro e um prumo baixo à frente – em duas águas, encostadas umas às outras com o lado côncavo para fora, e outras com o convexo, recobrindo as juntas; o cume era tapado também por pranchas idênticas com o lado côncavo para baixo, sobre a junta das duas águas; pedaços pequenos de cortiça empilhados uns sobre os outros faziam a vedação nas empenas, atrás e à frente; e aqui ficava, a um lado, a porta feita de outra prancha mais ou menos direita, que girava em dobradiças fixas ao prumo central do cume (des. 3).
Des. 4 Vila Boa, Belmonte. Aspecto geral dum abrigo móvel de pastor e esquema da sua estrutura. A esteira é quadrada, com 1,70 m de lado.
52Em Trás os Montes, o tipo fundamental das cabanas de pastores, onde estas existem (porque em muitas partes em vez delas usa se o abrigo sobre carros) é de uma só esteira plana, apoiada numa ou, mais raramente, em duas estacas oblíquas. Em Terras de Miranda vimos resguardos laterais em molhos de giesta amontoada, ou (por exemplo em Duas Igrejas e Genísio) em grade de ripas quadrangular revestida de palha.
Des. 5 – Caria, Belmonte. Neste exemplar, a esteira foi alongada pelo comprimento da palha. Anteparos triangular e em absidíolo. Este último tem como esqueleto uma forca de três galhos, com vergas grossas servindo de ripagem, amarradas com vergas delgadas, a) Pormenores do esqueleto do absidíolo, e disposição dos feixes de palha, b) Processo de enlaçamento dos feixes, com verga delgada. c) Remate frontal do absidíolo.
53Nos arredores de Castelo Branco, enfim, as cabanas de duas esteiras (de giesta), com anteparo em absidíolo num dos lados, têm mais uma esteira – o guarda-vento – que prolonga uma das águas cavalgando a ligei ramente e orientada conforme o quadrante do vento, apoiada à frente numa estaca oblíqua, formando uma espécie de vestíbulo de uma só água abri gando a entrada. Estas cabanas, bastante espaçosas, compõem se assim de três partes: o absidíolo, a cabana pròpriamente dita (de duas águas), e o guarda vento, à frente (figs. 72 e 74). Elas são aqui sempre montadas de modo a ficarem orientadas no sentido Poente Nascente, com a entrada para este lado (51).
54As esteiras são por toda a parte fundamentalmente idênticas: duas travessas laterais, com ripas fixas a elas e a ligá las – os banzos (Cabeço de Vide) – formando uma espécie de grade sobre a qual assenta a palha ou outro material de cobertura
Des. 6 – Figueira de Castelo Rodrigo. Abrigo móvel de pastor. A esteira é muito encur vada, e a palha, espalhada, é apertada por varas que amarram para as ripas. Os anteparos triangulares, e a esteira que se encosta na frente, não têm qualquer caixilho; a palha é apenas apertada entre varas.
55A fixação dos materiais da cobertura à grade faz se por vários processos, que por vezes correspondem a certas áreas geográficas. Na forma normal e mais corrente, a palha é simplesmente espalhada às fiadas, a direito, sobre a grade, e apertada contra ela, pelo lado exterior, por varas pousadas na altura das ripas, e presas a elas por fios ou arames. Noutros sítios, como por exemplo Sernancelhe, a palha é aplicada, com o couce para baixo, em feixes seguidos que vão sendo enlaçados sucessivamente por um cordel grosso contra a ripa da grade (des. 7 a).
Des. 7 – Sernancelhe. Três tipos de prisão da palha nas esteiras, observados em Penso e Vila da Ponte. O tipo c é uma combinação dos dois primeiros.
Des. 8 – Serpa. a) Grade de esteira. b ) Esquema da prisão das manadas de palha, cosidas para as ripas.
56Os anteparos laterais, quadrangulares, são fundamentalmente idênticos às esteiras, no que se refere ao sistema de construção. Em Terras de Miranda, nas cancelas do cerro, o espaço entre as travessas é frequentemente fechado por um teçume de varedo entretecido (as va ras mais delgadas inteiriças, as mais grossas rachadas a meio) (fig. 75), como melhor protecção do gado contra o frio e a raposa (53); os anteparos laterais do abrigo do pastor são também, por vezes, nesse mesmo teçume.
Choços
57Um segundo tipo de abrigo móvel também inteiramente em materiais vegetais, é o casoto de palha assente numa armação de varas, de estrutura cónica ou semi cónica, a que daremos o nome genérico de choço (54), mas que mostra, do mesmo modo que as cabanas de esteiras, certas variações regionais.
Des. 10 – Avelai, Sátão. Choço de pastor. a) Aspecto geral. b) Pião de madeira, do vértice do cone, ao qual pregam as varas. c ) Processo de amarração da palha às ripas.
Des. 11 – Pinhanço, Gouveia. Cibana de pastor. a) Aspecto geral. b ) Maneira de enlaçar as manadas de colmo, c) Esqueleto da cibana, podendo ver se, no alto, duas varas hori zontais, que apoiam nos ombros da pessoa, quando do seu transporte.
Choços semi-cónicos (57)
59Noutras regiões, na Beira Baixa, em Penamacor, Proença a Velha, Castelo Branco, etc., e também no Alentejo, por exemplo em Castro Verde, Vimieiro, Mora, etc. (58), o choço, em vez da forma cónica e planta circular, é semi cónico e de planta semi circular. A sua armação, neste caso, tem como peça mestra um galho bifurcado ou um forte pau arqueado, que ficam à frente fazendo a entrada do choço, e a partir do qual seguem, para trás, mais pernas encurvadas, às quais se pregam, como nos choços cónicos, varas horizontais em semi círculo, a alturas diferentes. Por vezes, sempre que possível, um galho polifurcado substitui o conjunto do pau ou galho da frente com as pernas encurvadas (figs. 80, 81 e 82). Em Castro Verde, vimos um destes choços com a palha presa exteriormente por varas curvas horizontais ligadas entre si por cordas ou fios cruzados em X; e em Castelo Branco, por cima da palha, põe-se por vezes uma cobertura de giesta ou varedo rachado.
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61Estes choços, cónicos ou semi cónicos, aparecem, em muitos casos, de dimensões diminutas, servindo como casota de cão ou galinheiros, e por vezes ao lado dos abrigos de esteiras.
Des. 13 – Alpalhão, Nisa, Socho móvel de pastor, na sua forma mais perfeita, a) Aspecto geral e corte pelo plano transversal mediano. b) Estrutura do tejadilho; a palha é esten dida em dois sentidos e amarrada pelo processo normal. c) Estrutura do esqueleto dum absidíolo, na sua forma tipo. Na realidade vêem se geralmente varas suplementares (tracejadas) que se colocam quando conveniente.
64Para o sul desta área, este tipo apresenta uma forma mais simples: no concelho de Fronteira, as duas esteiras – as cancelas – encostam em cima, não existindo o tejadilho, e usam apenas um choço num topo, sendo o outro vedado por um simples anteparo triangular; e o mesmo sucede em S. Miguel de Machede, entre Évora e Redondo.
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Des. 14 – Salvaterra do Extremo, Idanha a Nova. Planta e corte esquemático dum choço móvel de pastor.
66Como no caso geral dos choços semi cónicos, preferem para a sua construção uma pernada de árvore com três patas, pregando lhe algumas suplementares nos intervalos (des. 15 a); quatro ou cinco varas constituem o ripado. As esteiras são formadas por duas pernas e quatro travessas ou tábuas. As pernas são feitas dum pau um pouco encurvado, esquadrejado grosseiramente e serrado a meio a todo o comprimento; as tábuas espigam em furas abertas nessas pernas (des. 15 c). Sobre esta grade assenta o reves timento do abrigo, composto duma primeira camada de giesta, uma inter média de colmo, e uma última novamente de giesta. Varas (nos choços semi cónicos) e tábuas (nas esteiras) exteriores, amarradas com arames, nas pontas e a meio às varas e tábuas inferiores, apertam e firmam esse reves timento (des. 14 b). Nas juntas entre as diferentes peças colocam molhos de palha para melhor vedação. A base do abrigo é protegida por ramagens calcadas com pedras. Junto ao cume vê se ainda, em alguns casos, uma fiada de pedras ladeiras que encostam à última travessa e ajudam a firmar o revestimento. Não há qualquer divisória interior; a rama – não raro ape nas palha espalhada no solo – é geralmente instalada no fundo do abrigo; a meio fazem o fogo; à volta amontoa se o parco mobiliário e utensilagem (fig. 86). O chão é por vezes lajeado, sobretudo no sítio do fogo. Em volta do abrigo cavam um rego de modo a escoar as águas da chuva. Em média, têm cerca de 6 m de comprimento, 2 m de largura e 1,80 m de altura máxima.
Des. 15 – Salvaterra do Extremo, Idanha a Nova. Pormenores dum choço. a) Esqueleto do choço semi cónico. b) Disposição das camadas de giesta e palha num choço semi cónico. c) Prisão da giesta e da palha nas esteiras, d) Porta lateral aberta numa das esteiras.
3– Abrigos sobre carros
67Um outro tipo de abrigo móvel que dá ao pastor muito maior conforto, é o carro, carroça ou carreta de pastor.
53 – Sendim, Miranda do Douro Abrigo móvel de esteira, com anteparos de molhos de giesta. Bardo de vergas rachadas e entretecidas
57 – Penso, Serancelhe Bardo com uma camada de giesta, para estrume Ao lado, o abrigo móvel de esteira
70 – Sendim, Miranda do Dour Abrigo móvel de esteir com anteparos de molho de giesta Bardo com cancelas de madeira rachada e entretecid
86 – Zebreira Idanha a Nova Interior Socha móvel A lareira a meio; ao fundo a cama. Chouriços pendurados
87 – Veiga de Chaves Abrigo sobre carro Cobertura de palha disposta em rolos paralelos sobre uma estrutura de varas
95 – Podence, Macedo de Cavaleiros Abrigo sobre carro Casota de tabuado e cobertura de palha a duas águas
3 – Abrigos em barcos
81Em muitos sectores da costa ou da zona litoral, os barcos velhos, já fora de uso, são por vezes aproveitados, com arranjos diversos, para abrigos ou mesmo para casas de habitação.
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