A reescrita da história e o objectivo de confundir criminosos com aqueles que sempre lhes resistiram é um elemento cada vez mais presente e constante na difusão de ideias seja pela comunicação social de massas, seja por supostos historiadores, comentadores e outros alinhados com os grandes interesses financeiros e económicos.
A Assembleia da República pronunciou-se sobre os votos visavam exaltar o texto aprovado pelo Parlamento Europeu (PE) sobre «a importância da memória europeia para o futuro da Europa», que reproduz a mensagem de falsificação da história.
O objectivo é de ir dando passos no sentido de procurar consolidar no plano institucional português deturpações e manchas na história da luta dos povos que, em última análise, atacam a democracia portuguesa e as conquistas da Revolução de Abril.
Os partidos de direita, promotores deste debate, procuram obter ganhos imediatos com a «onda». O PS, com a sua pantanosa posição, não quis colocar-se do lado certo da memória e da história – onde figuram muitos dos seus militantes resistentes antifascistas.
Quem ganha com a promoção destas ideias?
A promoção do anti-comunismo, com recurso a falsificações históricas e difusão de ideias mistificadoras e que instigam à confusão e ao ódio constituem um verdadeiro ataque à democracia. É nesta lógica que se insere a ideia de equiparar o fascismo ao comunismo, que serve àqueles que desprezam a democracia e visam obter ganhos com a expansão dos populismos mais reaccionários a que se assiste com particular acuidade na Europa, mas também no mundo.
Este tipo de discursos leva, em essência, a que, por um lado, se minimizem os crimes e atrocidades perpetrados pelo nazi-fascismo e, por outro, se escondam as responsabilidades conjugadas dos interesses monopolistas alemães com as potências ocidentais na ascensão do nazismo, que tinham em comum o objectivo de combater a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e o seu prestígio, cujas políticas económicas e sociais de inigualável alcance no plano mundial contrastavam com a grave crise do capitalismo e animavam as lutas dos povos um pouco por todo o mundo.
O objectivo, que não é novo, de abrir caminho à intensificação e generalização da repressão contra os comunistas e, por arrasto, de outros democratas e antifascistas, permite ao mesmo tempo reabilitar e elogiar o fascismo e glorificar os colaboradores do nazi-fascismo. Tais opções levam à promoção da xenobofia, do racismo e da promoção de forças de cariz fascista.
O que o voto não diz e a história desmente
A URSS e os resistentes antifascistas na Europa foram determinantes na derrota da barbárie nazi-fascistas na Segunda Guerra Mundial. O documento, com simplificações e mentiras históricas, acaba por esconder importantes elementos para compreender o curso da história, como o Pacto de Concórdia e Cooperação de 15 de Julho de 1933 entre Reino Unido, França, Alemanha e Itália, que rearmou a Alemanha; o apoio de Hitler e Mussolini a Franco, que determinou a imposição da ditadura fascista em Espanha, governo este que França e Reino Unido reconheceram no início do ano de 1939; a Conferência de Munique, de onde sairia o Tratado assinado por Alemanha, França, Itália e Reino Unido, que levou ao desmembramento da Checoslováquia, ocupada pelo exército nazi, entre outros exemplos que enquadram o desenrolar dos acontecimentos históricos.
«Primeiro levaram os comunistas, mas eu não me importei, porque não era nada comigo. (…) Agora levam-me a mim, e quando percebi, já era tarde»
O texto aprovado pelo PE, que se procurou exaltar, procura também apagar da memória o contributo ea a luta de muitos antifascistas, democratas e comunistas contra a opressão fascista e pela conquista da liberdade e da democracia no nosso país.
Recorde-se que a Federação Internacional de Resistentes (FIR) e as federações que a integram – como é o caso da União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) – tinham já vindo a público condenar tal documento, que «junta opressores e oprimidos, vítimas e carniceiros, invasores e libertadores».
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