O misterioso iate Azzam, com 180 metros de comprimento
deixou de emitir sinal e desapareceu sem deixar
vestígios.
É um navio fantasma com segredos muito bem
guardado que pode estar neste preciso momento
em Lisboa ou a navegar em silêncio pelo Cabo
de Horn. Ou simplesmente atracado em Cádiz
Como é típico no estaleiro alemão Lurssen Yachts, nenhuma informação pode ser divulgada durante a construção dos navios. Assim aconteceu com o maior iate do mundo, sigilo absoluto. O design exterior do iate foi confiado à Nauta Design, com 25 anos de experiência; para os interiores foi escolhido o estilista francês Christophe Leoni; e foi o próprio estaleiro a ficar responsável pelo desenvolvimento de toda a engenharia do iate. As ordens do seu proprietário foram claras — fazer um navio elegante e luxuoso.
Os primeiros indícios da construção do iate deram-se em 2012, quando partes do casco em aço e da superestrutura em alumínio começaram a aparecer fora da nave de construção do estaleiro. Nessa altura, ainda nenhum detalhe sobre o iate era conhecido. Em abril de 2013, após quatro anos de trabalho, o primeiro dedicado à engenharia e os outros três para a construção, o Azzam, que significa “determinação” em árabe, ficou pronto para ser entregue ao proprietário, o xeque Khalifa Bin Zayed Al Nahyan.
Para quem não o conhece, é o presidente dos Emirados Árabes Unidos e atual emir de Abu Dhabi, mas desde que sofreu um derrame cerebral em 2014, o xeque Khalifa cedeu o controlo dos negócios ao seu meio-irmão, o xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro dos Emirados conhecido por levar um estilo de vida extravagante e imprudente.
O luxo tem um preço, é claro. Por este brinquedo, que é simplesmente o iate maior e mais caro do mundo, terá pago cerca de 570 milhões de euros. Apenas uns trocos para quem tem, segundo a revista Forbes, uma fortuna estimada em 127 mil milhões de euros.
O Azzam tem 6 decks, 180,6 metros de comprimento, 20 metros de largura e um calado de 4,3 metros, que lhe permite navegar em águas pouco profundas. Para manter e manobrar este gigante é necessária uma tripulação de 50 pessoas.
Tudo no Azzam é opulência. O salão principal tem 29 metros de comprimento por 18 metros, está decorado em estilo imperial, oferece duas piscinas interiores, cinema e 18 suites, para 36 convidados Entre os vários rumores em torno do navio, diz-se que a suite principal é à prova de balas e que o iate está equipado com um sistema de defesa anti-mísseis.
Abaixo da linha de água ficam os propulsores capazes de impulsionar as suas 14 mil toneladas para 31,5 nós, o que o coloca entre os mais rápidos da sua classe. Esta façanha é permitida pelos seus dois motores diesel suportados por duas turbinas a gás, conferindo-lhe um total de 94 mil cavalos. Para o abastecer são necessários um milhão de litros de combustível. Sim, um milhão!
Apresentando um estilo e conceito diferentes dos iates que normalmente se encontram no Mediterrâneo e Caraíbas onde as pessoas usufruem bastante do espaço exterior, o Azzam possui menos espaço exterior do que se poderia imaginar. A maior parte desse é na verdade fechado por janelas de vidro, de forma a dar mais privacidade à família real e seus convidados. No exterior tem apenas pequenos espaços de descanso na popa e um heliporto na proa.
VIAGEM E DESAPARECIMENTO
Depois de deixar o estaleiro alemão, e já a navegar com bandeira de Abu Dhabi, o Azzam rumou à marina de Tarragona, Espanha, onde permaneceu quatro meses, para terminar as decorações e contratar parte da tripulação. Durante esse período foram feitas romarias para fotografar e contemplar o majestoso iate e o comércio local agradeceu. No início de 2015 zarpou para o destino final, Abu Dhabi. O novo terminal de contentores no Porto de Khalifa foi sempre a sua base, fazendo daí pequenas viagens no Golfo Pérsico, mas sempre em águas territoriais dos Emirados.
Desde que chegou ao Médio Oriente, foi sempre possível saber onde estava o Azzam. Não que houvesse fotografias ou notícias dos seus passeios ao longo da costa de Abu Dabi, mas porque foi possível segui-lo através do “Marine Traffic”, site que mostra em tempo real as posições de todas as embarcações a partir do número identificativo de navios (IMO), criado em 1987 pela Organização Marítima Internacional, no âmbito da Convenção Internacional para a Salvaguarda da Vida Humana no Mar (SOLAS), tendo sido implementado obrigatoriamente em 1996.
O Azzam, com o número IMO 9693367, manteve-se visível até meados de 2017, altura em que deixou de emitir sinal. Perdeu-se o rasto até novembro de 2018, quando foi detetado novamente. Estava em Trieste, no nordeste de Itália, junto ao mar Adriático. Chegou para realizar trabalhos de manutenção nos estaleiros da Fincantieri. Quando entrou na doca, deixou de emitir sinal de localização novamente.
No final de junho de 2019, nova aparição, desta vez a caminho de Barcelona para dar entrada no MB92, um dos maiores estaleiros do Mediterrâneo. E não foi para fazer apenas uma revisão, mas uma grande reforma. Durante uma grande temporada o enorme iate esteve em doca seca, envolto numa estrutura para o proteger dos olhares curiosos. A 17 de março os estaleiros interromperam toda a sua atividade devido à Covid-19, atrasando os trabalhos no navio por vários meses. A 27 de julho, passado quase um ano o Azzam voltou a dar sinal de vida no “Marine Traffic”. Deixou finalmente a capital da Catalunha, desta vez rumo a Gibraltar onde permaneceu uns dias até ter autorização para atracar e reabastecer.
No dia um de agosto os habitantes de Cádiz na esquina do Mediterrâneo com o Atlântico receberam uma visita muito especial da luxuosa embarcação que não passou despercebida. O navio atracou no terminal marítimo junto da Avenida del Puerto onde pagou 1300 euros por dia. Mais uma vez foi desligado o sinal de rastreamento AIS (Automatic Identification System) e desde meados de agosto que o Azzam não é visto, não é fotografado, não é noticiado. Sumiu!
Teorias da conspiração à parte, há desde a construção do navio uma certa obsessão pelo secretismo e pela privacidade. Terá sido essa privacidade levada ao extremo? O iate fantasma pode estar neste preciso momento em Lisboa ou a navegar em silêncio pelo Cabo de Horn. Ou simplesmente atracado no terminal marítimo de Cádiz
expresso.pt
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