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sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Kyle, o jovem de 17 anos que é admirador de Trump e matou duas pessoas em protestos nos EUA



O jovem que matou duas pessoas durante as manifestações anti-racistas em Wisconsin era apaixonado pelas forças de segurança, viajou mais de 500km para estar na primeira fila de comícios do presidente dos EUA e foi rejeitado pela Marinha no início deste ano. 


Kyle, o admirador de Trump que matou duas pessoas em protestos nos EUA


Foto: DR
"O meu trabalho é ajudar as pessoas. Se alguém se ferir, eu vou a correr para o perigo. Tenho esta arma para me defender, obviamente." As palavras foram ditas por Kyle Rittenhouse, um jovem de 17 anos que se encontrava armado com uma arma semi-automática AR-15 nas ruas de Kenosha, no estado norte-americano de Wisconsin, a defender um negócio local que tinha sido incendiado no dia anterior. A pequena cidade tem sido palco de manifestações após mais um incidente de violência policial, com um agente a disparar sete tiros nas costas de um homem afro-americano, Jacob Blake.

Kyle foi detido esta quarta-feira e acusado de homicídio em primeiro grau de duas pessoas que estavam nessas mesmas manifestações. Antes disso, tinha ferido uma outra.

Antes disso, o jovem tinha sido filmado a comentar que tinha sido atingido com gás pimenta, para outro vídeo partilhado nas redes sociais. O jovem estava no local não só a proteger casas mas também a oferecer ajuda médica a manifestantes e não só, com um estojo de primeiros socorros à cintura.

Cerca de 15 minutos antes do primeiro tiroteio, agentes da polícia dirigiram-se a Rittenhouse e outros jovens armados que estavam no local a oferecer água. Kyle fala com os agentes e abandona o local. A perseguição por parte de um grupo de jovens acontece cerca de seis minutos depois e no seguimento desse incidente que se ouvem os primeiros disparos de uma arma para o ar.

Não é conhecido ainda o porquê destes tiros para o ar terem sido disparados ou quem foi o seu autor, mas Kyle segue o som e dispara quatro tiros na altura em que um homem corre na sua direção, acertando-lhe na cabeça.

Kyle foge do local mas é novamente perseguido por uma multidão de manifestantes, com alguns a gritarem: "Está ali o atirador!". O jovem cai no chão e começa a disparar. Pelo menos 13 tiros são ouvidos por parte de Kyle e nenhuma das pessoas que o persegue parece estar armada. Um homem fica inanimado no chão, enquanto este se levanta e começa a andar na rua, já deserta.

Poucos segundos depois dos disparos, surgem no local pelo menos seis carros da polícia norte-americana, mas nenhum identifica ou detém o jovem que acabara de matar duas pessoas. Durante o disparo dos tiros, nenhum destes carros, que estavam na rua seguinte, se movimentou.
As imagens que se seguem podem ferir a sensibilidade dos leitores




O antigo cadete da polícia que esteve na primeira fila de comícios de Trump

As motivações por detrás dos disparos não são ainda conhecidas mas o perfil de Facebook de Kyle, entretanto apagado, mostra um jovem com uma paixão por armas e que via as forças de segurança como heróis. Continha ainda declarações de apoio à supremacia branca e de misoginia.

Crescido nos subúrbios de Chicago, Rittenhouse tentou juntar-se à Marinha norte-americana em janeiro deste ano, mas foi desqualificado do programa depois de uma entrevista com recrutas. Ao Washington Post, a porta-voz da força de segurança recusou-se a explicar o motivo por que Kyle foi desqualificado, por motivos de privacidade.

Relatos de vizinhos descrevem-no como um jovem que desistiu do ensino secundário com o sonho de se tornar um herói como os agentes de segurança que admirava. Quando se iniciaram os protestos em Kenosha, no início desta semana, após os disparos sobre o afro-americano Jacob Blake, ele rumou de Chicago, no estado do Illinois, até Wisconsin para prestar o seu apoio aos agentes da polícia local.

Foi detido no dia seguinte aos tiroteios, a cerca de 45 minutos de Kenosha, na sua cidade de Antioch, Illinois, sem recurso a força por parte da polícia. Espera agora extradição para o Wisconsin a partir de um centro para jovens delinquentes.


A viver com a sua mãe, assistente de enfermeira, Kyle tinha no seu cadastro apenas algumas multas de trânsito no início deste mês e um processo iniciado pela sua mãe em 2017 com uma ordem de proteção contra um colega seu da escola, que lhe teria chamado "burro" e "estúpido".
Fora da escola, Rittenhouse participou em programas de cadetes de bombeiros em Antioch e de polícias em Grayslake e a 30 de janeiro participou nas primeiras filas de um comício de Trump em Des Moines, a mais de 500 quilómetros da sua terra-natal.
Publicações no Facebook de Kyle era quase sempre dedicadas a homenagear o trabalho da polícia, com várias publicações de agentes assassinados em trabalho e com ligações ao contramovimento "Blue Lives Matter", de defesa a forças de segurança.
De acordo com a BuzzFeed News, a sua conta de TikTok, entretanto apagada, mostrava o jovem a exibir dois tipos diferentes de armas nas últimas semanas: a semi-automática AR-15 com que apareceu nas manifestações e uma caçadeira de calibre 12.
Na manhã do dia dos disparos, que levaram à sua detenção, Rittenhouse foi visto com um grupo de voluntários a limpar grafitis numa escola pertencente ao tribunal local do condado de Kenosha.



Kyle foi agora foi acusado de seis crimes relacionados com os tiroteios de Wisconsin, que levaram à morte de duas pessoas e ferimentos graves noutra. As acusações contra o jovem de 17 anos incluem homícidio imprudente de primeiro grau pela morte de Joseph Rosenbaum, de 36 anos, e homicídio intencional de primeiro grau pela morte de Anthony Huber, de 26 anos.

www.sabado.pt

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