O espaço da Festa do Avante! em tempo de pandemia.
Em 1976, uma potente bomba tentou liquidar a Festa que então nascia ali na FIL, na Junqueira. A extrema-direita não nasceu com o Chega. Aliás, dá-se até o caso de uma interessante coincidência e continuidade com a personagem que é hoje a segunda figura e putativo deputado dessa organização pertencer então ao MDLP, autor desse operação terrorista. Mas a Festa ultrapassou o acontecimento.
Da FIL a Festa foi admitida no Vale de Jamor. A aspereza e dimensão do espaço/terreno era a expectativa de alguns para enterrar a Festa nesse ano de 1977. O êxito enorme, com a participação de milhares de portugueses de todos os recantos do país, repetiu-se no ano seguinte. Mas não, não podia ser. Não suportavam tal acontecimento político do PCP e comunistas às portas de Lisboa. E vai de atirá-los para mais longe, para espaço/terreno por desbravar que pudesse fazer o que o Vale do Jamor não conseguiu.
E lá mudou a Festa para o Alto da Ajuda no Casalinho, em plena Mata de Monsanto. Muita pedra, muito mato a revolver e limpar. Novamente muitos problemas técnicos – sistemas de águas, electrificação, resíduos, etc. – e vultuosos custos e dificuldades pela exiguidade do tempo disponível. Mas envolvia-a a paisagem magnífica, com vista lá do alto, de Lisboa, do Tejo, da Margem Sul, da Ponte. E que festas aí se desenrolaram, mas não, não podia ser! E então um inefável homem do CDS, Krus Abecassis, presidente da CM de Lisboa, descobriu com a direita com que governava a autarquia (PSD+PPM) outra utilização para aquele espaço.
Escarmentado pelas experiências anteriores, desta vez não propôs espaço/terreno alternativo. Que se arranjassem… – a modos de quem esvazia a água aos peixes para afogar os comunistas. E em 1987 não houve Festa. Parecia que a direita tinha dado o bote fatal naquela incómoda festa comunista. Conheciam-nos mal.
Foi curto o intervalo. Em 1988 desbravou-se novo espaço/terreno no Vale de Loures, onde se repetiu a Festa de 1989. A dimensão dos eventos mostrou e demonstrou que a interrupção tinha sido noite de pouca dura e nenhum efeito no ânimo e confiança militante. Mas havia que pôr fim aos sobressaltos anuais com o espaço. Sem o pretenderem, os inimigos da Festa empurraram o PCP para uma solução que nunca, nem nos seus piores prognósticos, julgaram que viria a acontecer: um espaço próprio e com qualidade superlativa.
Na última Festa em Loures, 1989, Álvaro Cunhal anuncia na cerimónia de Abertura, a compra da Quinta da Atalaia, no Seixal, e uma Campanha Nacional de Fundos como o país nunca viu, que veio a ter a participação de muitos milhares de portugueses, comunistas, amigos do PCP, gente sem partido e de outros partidos que não quiseram deixar de “comprar” uns metros quadrados da terra da Atalaia para que a Festa tivesse o espaço que merecia, com a segurança de ser terra comunista aberta a todos os homens e mulheres que a quisessem desfrutar.
Espaço, que na paisagem magnífica da sua envolvente, a Bacia do Seixal, ficou enriquecido com a compra dos terrenos da Quinta do Cabo, anexos à Atalaia, após outra notável campanha de fundos. Pensar que tudo ficaria resolvido com este espaço próprio seria não contar com o ódio de estimação e o anticomunismo congénito. Mudaram de táctica e de instrumentos mas não desistiram dos objectivos.
Campanhas contra as autarquias CDU e de outras maiorias partidárias que, numa visão de cidadania, democracia e valores de Abril, se solidarizaram com a Festa (como aliás acontece desde a primeira na FIL), colaborando com equipamentos, serviços, e outros apoios. Aliás, como muitas outras entidades públicas e privadas sempre transparentemente nomeadas para o agradecimento do grande Comício da Festa.
Uma Lei para as contas dos partidos segundo projecto do PSD, onde constam normas especificamente dedicadas à Festa do Avante!. Entre outras manigâncias, estabeleceu um tecto para as receitas das festas partidárias, o que, como bem se entende, só podia atingir a Festa o Avante!, procurando impor por limitação administrativa o número de participantes. Dado não terem nunca esclarecido o que faria o PCP à receita excedentária, então teria de a controlar por redução de entradas. (Não foi só agora, a propósito da Covid, que avançaram projectos contra a Festa na Assembleia da República!).
Mas há outro espaço que persegue a Festa do Avante! em todo os tempos: o espaço mediático. O espaço que nunca existe para a notícia e a informação do notável evento dos comunistas, dos seus espectáculos, dos seus debates culturais e políticos, da sua Bienal de Arte, das suas mensagens políticas, das imagens das assistências maciças aos comícios, da sua feira do livro e encontros de apresentação de livros com os autores. Há jornais que no dia seguinte aos grandes comícios de domingo não conseguem apresentar uma fotografia ou notícia do mesmo.
Mas há espaço que se multiplica nas televisões, rádios e jornais para críticas verrinosas, falsidades e calúnias, focagens distorcidas, parciais, concentradas na imagem e palavra que demonstre o que se quer demonstrar. Amarradas ao faits divers e à anedota. Durante anos, a Festa do Avante! era uma festa de velhinhos… e a “caça mediática” aos idosos presentes justificava a tese. Mesmo que milhares de jovens povoassem todos os espaços…
Houve a notícia de um jornal de referência de uma jornalista de referência (“Público”) que descobriu numa das Festas da Atalaia que os comunistas reduziram o espaço da plateia do palco 25 de Abril, movimentando o enorme palco de betão, fazendo-o avançar, para empolar a imagem do número de participantes no comício… Pode ser que este ano veja o movimento contrário para garantir o «distanciamento social»…
Espaço que nunca falta para a vontade, nunca ocultada, de desfigurar a Cidade Internacional. Em vez de lugar das lutas dos povos pelo bem-estar e progresso dos seus países, de internacionalismo solidário e de paz, um lugar fabricado à imagem e semelhança das suas notícias, imagens e comentários das ofensivas do imperialismo e forças reaccionárias, espezinhando a soberania das nações, violando acordos e pactos internacionais, explorando e saqueando os seus recursos e riquezas, câmaras de eco das centrais de (des)informação e propaganda do capital.
Espaço que agora não falta para semear o pânico e a mentira a propósito da realização da Festa em Setembro. E que já leva uns meses de cantochão.
Na abordagem da Festa do Avante!, os media dominantes não são cegos, são vesgos, não são surdos, são moucos, só ouvem o querem, não são mudos mas têm a língua bífida das serpentes.
As gentes de boa fé, os comunistas e os não comunistas, com dúvidas, oposições e críticas à realização da Festa do Avante! em Setembro, não se esqueçam nem se enganem. Nada é verdadeiramente novo na brutal e mentirosa campanha contra a Festa do Avante!. A não ser o ponto de partida, falso com que justificam as suas invectivas. Nada representa verdadeiras preocupações pela saúde pública, antes a instrumentalização da Covid para vector da renovação dos ataques à Festa.
Não tem hora nem descanso, se dizia da picada do licranço. Bem se pode dizer dessa sanha anticomunista contra a Festa do Avante!. A imagem de uma Festa construída pela militância comunista e de muita outra gente solidária, imagem de um país que se quer de trabalho e sem exploração, de igualdade e justiça social, de fraternidade e solidariedade, de alegria e combate democrático, de patriotismo e internacionalismo, cega a direita. Apagá-la é um desígnio político e de classe jamais esquecido.
Os comunistas têm pela saúde do seu povo e pelo SNS travado duras e históricas lutas. Não são irresponsáveis, aventureiros, ou provocadores com cérebros enfunados por ventos ideológicos. Nada em cuidados e medidas de protecção necessárias deixarão de ser tomados ou faltarão. Com a colaboração da DGS. Como já é patente. E bem ao contrário de muitas outras coisas que vão acontecendo no país.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.