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sábado, 19 de dezembro de 2020

HISTÓRIA DA GUERRA COLONIAL - RELATOS NA 1ª PESSOA - Em defesa do Estado Português da Índia - Comentários do veterano LC123278


"Em defesa do Estado Português da Índia"
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A notícia: "Em defesa do Estado Português da Índia"
De: Andreia Mota e Rita Martins


O ex-combatente, Chefe Principal Teixeira Pereira, fez parte dos esquadrões que participaram na guerra colonial no Estado da Índia, entre 1960 e 1962. As dificuldades passadas no campo de concentração não lhe trazem saudades, mas não abdica das experiências vividas durante a guerra.
Apenas com 20 anos foi chamado para a recruta “muito mais cedo do que era habitual, em Janeiro de 1960”, precisamente para estar preparado para seguir para a Índia, em 26 de Abril do mesmo ano, onde passou 24 meses. Uma vez que já era órfão, a sua ida passou um pouco despercebida, mas aos familiares mais próximos “custou-lhes um bocado”. Para o ex-combatente, a sua reacção quando soube que iria para a Índia foi de “grande tristeza, pois era um rapaz novo, de namoricos e mais ainda por saber que iria para um lugar onde se previa uma guerra”, contou.

Quando chegou à Índia encontrou um país totalmente diferente de Portugal, “quer nos usos, quer nos costumes”, onde “desconfiava de tudo e de todos”. Ficou aquartelado num esquadrão de cavalaria em Bali, a cerca de 60 ou 70 km da fronteira com a União Indiana, onde esteve sujeito a muitos perigos e onde “pontualmente ia tendo guerrilhas com os terroristas”.

Invasão ao Estado Português da Índia

A invasão pela parte da União Indiana ao Estado Português da Índia deu-se entre os dias 19, 20 e 21 de Dezembro de 1961, quando foram atacados os territórios de Goa, Damão e Diu por terra, mar e ar. “Eles entraram com cerca de 80 mil soldados, e nós ao todo éramos à volta de mil e sem armamento capaz para os enfrentar. As tropas apeadas vinham com cerca de 200 ou 300 carros de combate, e eu até costumava dizer que nem precisavam de usar armas, pois eram realmente muitos em relação a nós.

A aviação começou a bombardear fortemente durante dois dias, e embora não tivesse feito grandes estragos em termos humanitários, lá morreu um ou outro, mas os bombardeamentos foram cerrados e valeu estarmos metidos nas trincheiras, onde nos defendemos como pudemos”, relembrou Teixeira Pereira. Durante os três dias da invasão, os soldados portugueses foram presos e distribuídos pelos quatro campos de concentração existentes em Goa, onde permaneceram durante seis meses. A partir daí “foi uma vida muito dura e difícil, em que não havia o que comer, e a higiene era feita de qualquer maneira, na mesma água onde os búfalos iam tomar banho”.

Para qualquer saída para fora dos campos de concentração éramos sempre escoltados pelos militares com armas apontadas, onde trabalhamos na construção de pontes que tínhamos deitado abaixo para que eles não pudessem fazer a travessia”, contou. A fuga era impossível, uma vez que os campos eram todos electrificados e existiam sentinelas por toda a parte.

“Mentira como Terra”

Passados seis meses de cativeiro, chega a notícia de um regresso próximo a Portugal. “Íamos ouvindo as rádios, que entretanto reconstruímos de umas peças velhas, e ouvíamos a Voz Livre da Argélia, a rádio clandestina onde esteve Manuel Alegre. Surgiam algumas mentiras e algumas verdades, mas de maneira geral, na altura de guerra é “mentira como terra”, ou seja, se algum dia alguma coisa era verdade, ao outro dia já deixava de o ser.

Portanto tínhamos grandes dificuldades em acreditar inclusivamente naquela altura que já vínhamos para Portugal, porque já nos tinham feito essa promessa de regresso muitas vezes. Mas o General Gonçalo e Silva com bom senso acabou por render-se e nós fomos libertos”, declarou.

Regresso a Portugal

Depois de tantas dificuldades saíram em liberdade em Julho de 1962. A viagem foi assegurada por transporte aéreo até ao Paquistão e de lá, de transporte marítimo até Portugal. Teixeira Pereira foi recebido pelos seus familiares, amigos e população com “grande alegria”. Pelos governantes “fui mal recebido e metido no Regimento de Cavalaria de Elvas, a qual eu pertencia, e mais tarde mandaram-me embora com uma guia de marcha para o comboio. E lá vim eu com umas calças rotas e umas botas sem fundo, para a terra”.

O ex-combatente refez a sua vida, começou a trabalhar e casou. Mais tarde ingressou na carreira de Polícia e ficou pela cidade de Vila Real, onde mora desde então. Nunca mais voltou à Índia e afirma não ter saudades de lá voltar. Actualmente com 70 anos de idade, não abdica da experiência de guerra pela qual passou “pois foi uma circunstância que me obrigou a ir e portanto faz parte do meu enriquecimento cultural”, assegurou.

Andreia Mota e Rita Martins
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Comentários do veterano LC123278
à atenção de Andreia Mota e de Rita Martins,

Na vossa reportagem epigrafada «Em defesa do Estado Português da Índia», disponível online no endereço
http://www.noticiasdevilareal.com/noticias/index.php?action=getDetalhe&id=5319

- José Joaquim Teixeira Pereira: em Jan60 terá sido incorporado no RL1-Elvas e em 21Abr60 embarcou rumo a Goa integrado no ERec4/RC6-Porto, comandado pelo cap cav António Pereira Coutinho; desembarcado no porto de Mormugão, o ERec4 foi aumentado aos efectivos do Agrupamento Afonso de Albuquerque, indo o seu 3º Pelotão aquartelar em Bali a fim de controlar o sector sul de Pangim até ao marco geodésico de Dabolim (margem esquerda do estuário do Zuari).

1 - Ora, no Estado Português da Índia não houve lugar a «guerra colonial» alguma.

2 - E «a invasão pela parte da União Indiana ao Estado Português da Índia», de modo algum ocorreu «entre os dias 19, 20 e 21 de Dezembro de 1961».

3 - Por outro lado, «eles» não eram «cerca de 80 mil soldados» e «nós» não «éramos à volta de mil»: às 18.00 locais (princípio da tarde em Lisboa), de 17Dez61, o exército da União Indiana iniciou invasão maciça sobre o território português, com 45 mil homens apoiados por numerosas formações de artilharia pesada, tanques e carros de combate, tropas aerotransportadas em cooperação no ataque com unidades anfíbias e esquadrilhas de aviões de bombardeamento e caça, permanecendo 26 mil tropas em reserva do outro lado da fronteira distrital de Goa; e naquele mesmo dia 17, o Estado Português da Índia (distritos de Goa, Damão e Diu), estava guarnecido com 3500 efectivos militares (oficiais, sargentos e praças) metropolitanos, reforçados por cerca de 900 polícias indo-portugueses e outros 5 mil paramilitares.

4 - E de modo nenhum «lá morreu um ou outro», mas sim vinte e cinco.

5 - Não corresponde a factos, que «durante os três dias da invasão, os soldados portugueses foram presos e distribuídos pelos quatro campos de concentração existentes em Goa, onde permaneceram durante seis meses»: às 06:00 de 19Dez61, o ERec4 rendeu-se às tropas invasoras da UI; mas só em 16Jan62 os efectivos do ERec4 foram internados, juntamente com demais militares de outras unidades, no Alfa's Detenu Camp em Pondá; e do qual em 06Mai62 saíram libertos para a capital paquistanesa, onde aguardaram transporte de torna-viagem.

6 - Também se trata de pura fantasia, a afirmação de que «ouvíamos a Voz Livre da Argélia, a rádio clandestina onde esteve Manuel Alegre»: naquele 1º trimestre de 1962, não existia "Voz Livre da Argélia" alguma (e a Rádio Argel não dedicava "espaço de antena" algum à questão dos prisioneiros portugueses que permaneciam em Goa, tanto mais que nesse período de tempo a Argélia era ainda de soberania e administração da França); quanto a Manuel Alegre de Melo Duarte, só chegou a Argel no último fim-de-semana de Set64 e começou a «trabalhar como locutor do programa radiofónico "Voz da Liberdade"», no início de Nov64.

7 - E também se trata de pura fantasia, a afirmação de que «o General Gonçalo e Silva com bom senso acabou por render-se e nós fomos libertos»: não existiu qualquer nexo causal, entre a libertação dos prisioneiros e a muito anterior rendição do governador e comandante-chefe general Manuel António Vassalo e Silva, o qual às 12:15 de 19Dez61 havia informado «que, face à rendição do Agrupamento Afonso de Albuquerque e à análise da situação das nossas forças, ainda em posição, tinha decidido render-se».

8 - E não «saíram em liberdade em Julho de 1962», tendo em vista: que, em 06Mai62 os efectivos do ERec4 foram aerotransportados para Carachi; que em 12Mai62 os efectivos daquele ERec4 embarcaram no navio "Pátria" de regresso à Metrópole; e que em 26Mai62 os mesmos efectivos do ERec4 desembarcaram no cais fluvial de Lisboa.


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