Os estudantes que trabalham no Hostel Ria Terrace, em Faro, em troca de alojamento, são considerados «voluntários». Esta forma de trabalho gratuito a que chamam de «voluntariado» consiste em dedicar uma determinada carga horária semanal (entre 16 a 25 horas), recebendo em troca a possibilidade de se alojar no hostel, com uma cama disponível em quarto partilhado, juntamente com o resto da equipa.
«Muita gente se surpreende quando digo que moro num hostel», comenta Keven em reportagem do Sul Informação, acrescentando que os seus rendimentos não chegam para pagar um quarto, pelo que esta é talvez a sua «única e melhor opção».
Keven Prado, de 20 anos, frequenta o 2.º ano de Psicologia na Universidade do Algarve. Chegou a Portugal pela primeira vez em Agosto de 2019. A partir daí, e por recomendação de outros amigos e alunos, encontrou uma nova alternativa para «reduzir» as suas despesas, submetendo-se a trabalho não pago.
«Quando saí do Brasil, cheguei à Europa com apenas 600 euros na carteira. Tive que procurar um trabalho urgente, porque, com aquele dinheiro, só dava para alugar um quarto por um mês e o resto tinha que distribuir entre alimentação, despesas gerais e transporte para a Universidade», explica o jovem.
Aparentemente, é uma solução que se está a generalizar. Criando conta numa plataforma online como Worldpackers ou WorkAway, os jovens podem candidatar-se a este «voluntariado» em quase qualquer parte do mundo: desde a hotelaria, a campos de golfe, campos agrícolas ou de permacultura, as plataformas procuram pessoas que querem dedicar horas de trabalho em troca de um lugar para dormir e ainda receber uma ou mais refeições por dia, diminuindo os custos com o trabalho através do recurso ao trabalho gratuito, sobretudo de jovens e imigrantes.
Esta verdadeira eufemização da escravatura é particularmente impressionante num País em que a Constituição consagra o direito universal de acesso aos mais elevados graus de Ensino. Direito que não se pode confundir com possibilidade apenas para aqueles que o podem pagar.
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