Tudo indica que foram mesmo mortos mais de 500
veados e javalis na Torre Bela, mas só foram
colocados 270 selos que são obrigatórios para
este tipo de caça.
Inicialmente, a ANPC prontificou-se a negar a venda dos selos de caça
colocados nos animais abatidos, na mataria da Torre Bela, mas, questionada
pela TSF, a associação confessa agora terem existido vendas de selos em
anos anteriores.
A Associação Nacional de Proprietários Rurais - Gestão Cinegética e Biodiversidade
(conhecida pela sigla ANPC) admite ter vendido selos de caça como os usados
para o abate de animais do último fim de semana, na
Herdade da Torre Bela, mas rejeita qualquer responsabilidade pelo modo como
estes são usados.
"Nós não vendemos quaisquer selos para esta entidade em concreto.
A ANPC nem sequer tem qualquer relação com esta entidade", garantira
João Carvalho, secretário-geral da associação.
A TSF sabe, no entanto, que a investigação em curso aponta para que
os 270 selos colocados nos animais abatidos na montaria da Torre Bela
tenham sido vendidos pela associação que representa o setor da caça.
Em paralelo, a investigação a decorrer sobre o caso está a tentar perceber
se os restantes animais mortos tiveram ou não a colocação deste selo
obrigatório.
Já foi possível apurar que tudo indica que, de facto, foram mesmo
mortos mais de 500 veados e javalis - ou seja, muito acima dos 270 canhotos
dos selos encontrados na Herdade da Torre Bela pela equipa do Instituto
da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e da Guarda Nacional Republicana
(GNR) que se deslocou nos últimos dias ao local.
Confrontada pela TSF, a ANPC volta atrás e admite a venda de
vinhetas em anos anteriores, rejeitando, contudo, quaisquer responsabilidades
sobre a forma como os selos são usados pelas entidades que os compram.
"Nesta época não houve qualquer venda de selos, mas em épocas anteriores, apesar de
esta entidade não ser associada da ANPC, houve, efetivamente, venda de
selos - acabámos de confirmar, há pouco, com os nossos serviços
contabilísticos e há essa informação", reconhece o secretário-geral da ANPC.
"Eventualmente, poderão ter sobrado alguns selos de anos anteriores e acontecer
[o uso desses mesmos selos de caça na mataria do último fim de semana]", admite
João Carvalho.
"Nós vendemos os selos de acordo com os princípios técnicos.
Depois, como eles são utilizados pelas entidades, isso já não é responsabilidade nossa.
A nossa responsabilidade é vender os selos, comunicar ao ICNF que vendemos os
selos (...), sabendo o ICNF perfeitamente quantos selos é que são distribuídos
a cada entidade", alega. "Se os selos depois são indevidamente utilizados, ou não, pelas
entidades, nós não podemos controlar nem nos podemos responsabilizar", frisa
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"Fará todo o sentido que uma população de veados, gamos e javalis com aquela
dimensão possa abater, durante uma época de caça, um grande número de
indivíduos - e 270 não estará nada longe daquilo que será normal", indica
o secretário-geral da ANPC, que explica como se processa o pedido e venda
deste tipo de selos. "Temos um formulário específico em que cada entidade requerente
fica devidamente identificada pelo processo da zona de caça, há um termo de
responsabilidade assinado pelo responsável dessa zona de caça e são distribuídos
selos dos dois tipos: cervídeos (selos verdes) e javalis (selos amarelos).
Naquelas imagens vemos, por exemplo, cervídeos marcados com selos amarelos,
o que, desde logo, indicia que houve ali situações...", nota João Carvalho.
.
Há ainda outro pormenor que comprova que terá existido caça ilegal:
"Também se veem nas fotografias selos vermelhos.
Os selos vermelhos nem sequer são vendidos, são distribuídos, mediante
uma autorização de correção de densidades que tem de ser obtida
previamente pelo ICNF, exclusivamente nessa situação.
E, segundo sabemos, o ICNF não autorizou nenhuma correção de
densidades na Torre Bela", repara o secretário-geral da ANPC.
A ANPC foi uma das três associações de caçadores que num comunicado, na segunda-feira, criticou fortemente aquilo que aconteceu nesta herdade.
Desde 2018 que estes selos, com diferentes cores (conforme a espécie), são obrigatoriamente colocados nos chamados "animais de caça maior" devendo ser indicados dados como a data da caçadas selos são sempre emitidos pelo Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), mas também podem ser adquiridos em organizações do setor como a ANPC, que explica no seu site que tem um protocolo com o ICNF para fazer esta compra e revender os selos.
Uma notícia publicada em 2018 no site da ANPC publicita os selos e aconselha quem precisa dos mesmos a que "Fale com a ANPC!": "Caso necessite de selos para caça maior, poderá obter os mesmos através da ANPC nos termos de protocolo estabelecido entre a ANPC e o ICNF".
Estes selos são uma das fontes de receita das associações do setor.
www.tsf.pt
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