Makis Papadopoulos
A contrarrevolução não teria vencido se tivesse havido uma atempada preparação coletiva teórica e política para responder aos difíceis problemas colocados pelo novo nível de desenvolvimento da produção social.
Makis Papadopoulos (Archive Photo)
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O texto seguinte é a transcrição de um discurso proferido por Makis Papadopoulos , membro da Comissão Política do CC do Partido Comunista da Grécia (KKE), no “Simpósio sobre o futuro e planificação socialistas”, organizado pela Academia de Ciência e Investigação da Turquia (BAA), entre 6 e 8 de dezembro, em Ancara.
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Que características terá o socialismo durante o século XXI
Makis Papadopoulos
Em nome do Comité Central do KKE gostaria de lhes agradecer o honroso convite e dar-lhes os parabéns pelo tema que escolheram para a vossa conferência, um tema que prova que o vosso partido se esforça constantemente por desempenhar o seu papel de vanguarda revolucionária.
Para examinar as características do socialismo no século XXI devemos, com base nos princípios teóricos do marxismo-leninismo, explorar, por um lado, a experiência histórica do século XX e, por outro, as novas possibilidades objetivas e os novos problemas decorrentes do progresso científico e tecnológico, nas novas condições da economia digital e da chamada 4ª Revolução Industrial.
Em particular, devemos examinar, com base nos princípios do materialismo dialético e histórico e do método lógico-histórico, as contradições que determinam o movimento da sociedade socialista. Devemos examinar o processo de evolução histórica da construção socialista durante o século XX. Devemos estudar os esforços e o grau de utilização consciente pelo poder soviético da lei básica económica do socialismo, que é a coordenação de todos os objetivos da produção tendo em vista a satisfação geral das necessidades da sociedade. Examinar até que ponto esta lei fundamental atuou como a força motriz para a solução da contradição entre o grau de desenvolvimento da produção e a contínua e ininterrupta expansão das necessidades da sociedade. Examinar até que ponto foi desenvolvida a planeada e programada organização da produção social para garantir o bem-estar e o livre desenvolvimento de todos os membros da sociedade.
Após os desenvolvimentos contrarrevolucionários, o KKE começou, no início dos anos 90, e continua hoje, um sério esforço para contribuir para o estudo deste complexo e difícil problema.
Na curta palestra de hoje, vamos concentrar-nos em alguns pontos-chave.
A vitória da Revolução Socialista de outubro de 1917 na Rússia demonstrou a natureza libertadora das relações de produção socialistas para o desenvolvimento das forças produtivas. Outubro de 1917 revelou a superioridade da Planificação central científica no desenvolvimento das forças produtivas, no sólido terreno do poder da classe operária e da propriedade social dos meios de produção. A eliminação do desemprego e da iliteracia, a educação geral, obrigatória e gratuita, as oito horas diárias de trabalho, a verdadeira igualdade entre homens e mulheres no trabalho e na vida, a libertação de preconceitos raciais, a épica conversão da indústria do tempo de paz em indústria de guerra, antes e durante a Segunda Guerra Mundial, são alguns exemplos característicos das primeiras décadas do poder soviético, assim como, mais tarde, o salto na exploração espacial.
Durante este particular período histórico, ficou demonstrada a capacidade de direção da produção social planificada e centralizada para obter um caráter cada vez mais científico e melhorar a organização e coordenação dos esforços coletivos de milhões de trabalhadores soviéticos. Confirmou-se a necessidade da implementação do plano estatal unificado, do princípio do centralismo democrático e da utilização da emulação socialista como método de direção, a fim de aumentar a eficácia da planificação central da economia.
Para entender o significado dessas realizações na União Soviética, precisamos de pensar nas condições históricas em que foram concretizadas. As conquistas do poder soviético foram alcançadas em condições de invasão e cerco imperialistas, ameaças internacionais permanentes e enfraquecimento da produção interna. Foram alcançados sob condições de grande escassez de bens materiais e de técnicos científicos especializados, e sob pressão do tempo para avançar no desenvolvimento de setores de importância estratégica na competição da URSS com o sistema imperialista internacional. Além disso, o poder soviético rapidamente superou as abissais diferenças que separavam a Rússia czarista pré-revolucionária dos fortes estados capitalistas, como os EUA, a Grã-Bretanha e a Alemanha.
O salto dado na União Soviética durante as suas primeiras décadas prova que, com a expansão da propriedade social dos meios de produção e a planificação científica central da economia, a produtividade do trabalho e as aplicações tecnológicas inovadoras na economia aumentaram enormemente. O objetivo e o ritmo de desenvolvimento das forças produtivas mudaram. O trabalhador, a principal força produtiva, foi libertado das suas algemas, já que não mais procurou um patrão na selva do mercado capitalista para vender a sua força de trabalho. Um novo exército de cientistas foi criado entre os filhos da classe operária e dos camponeses pobres.
O poder da classe operária soviética foi fundado na década de 1920 no terreno sólido dos Sovietes, as Assembleias Gerais de trabalhadores em todos os locais de trabalho, com representantes da Assembleia nos mais elevados órgãos do poder em todos os ramos, representantes que poderiam ser substituídos pelos seus eleitores. Este foi um passo importante para o exercício efetivo do poder da classe trabalhadora.
Ficou demonstrada a superioridade da planificação central do poder da classe operária sobre o mercado capitalista, onde os grupos monopolistas planeiam e competem para garantir a maior margem de lucro, uma maior parcela.
A experiência histórica soviética também mostrou que, objetivamente, o curso da construção socialista não é um mar de rosas, que não ocorre sem percalços e em linha reta. Vários problemas reais que surgiram, como atrasos na modernização tecnológica da indústria, com consequências negativas na qualidade e adequação dos produtos, foram mal interpretados como fraquezas inerentes às relações de produção socialistas. Segundo estimativas soviéticas, o volume da produção industrial da URSS no início dos anos 50 era menos de um terço da produção dos EUA, para não falar da liderança militar dos EUA no desenvolvimento de armas nucleares.
Particularmente após a Segunda Guerra Mundial, a União Soviética teve de atualizar a sua produção e serviços com base num novo e mais alto nível de necessidades sociais. Teve de resolver este problema sob condições de assustadoras perdas humanas nas idades mais produtivas, durante o período da guerra.
Era um problema particularmente complexo, que dizia respeito à garantia de um desenvolvimento proporcional de todos os setores de produção, à melhoria qualitativa dos produtos de consumo populares, à prioridade na produção de meios de produção, à extensão da automação em muitos setores da economia, às medidas necessárias para assegurar que a contradição entre o trabalho de gestão e de execução não se intensificasse.
Em termos mais gerais, isso tinha a ver com a capacidade de garantir a prioridade no desenvolvimento dos modernos meios de produção sobre os meios de consumo, de manter as proporções básicas de todas as partes e elementos da economia, de melhorar a qualidade e eficiência da produção, de aplicar rapidamente as novas conquistas científicas e técnicas, de elevar a consciência socialista e a iniciativa criativa dos trabalhadores.
Neste crucial momento histórico, a solução tinha de ser encontrada olhando em frente, através da expansão planeada das relações de produção comunistas.
A julgar pelos resultados, na década de 1950, tornou-se evidente que não havia potencial teórico conquistado coletivamente para dirigir efetivamente esses problemas.
Discussões teóricas e controvérsias sérias nos campos da filosofia e da economia política ocorreram durante o percurso histórico da União Soviética. A discussão teórica do período 1927-1929 sobre a relação dialética e a interação entre forças produtivas e relações de produção foi importante. O debate destacou o papel ativo das relações de produção socialistas no desenvolvimento das forças produtivas. O papel ativo das relações de produção é realizado através dos esforços do poder da classe operária para eliminar as sobrevivências da propriedade privada e orientar o desenvolvimento das forças produtivas na direção da plena satisfação das necessidades sociais.
Porém, infelizmente, o conteúdo do debate teórico concentrou-se principalmente na necessidade de definir a questão científica da economia política da questão mais vasta do materialismo dialético e histórico e não orientou a pesquisa teórica para uma mais profunda compreensão da questão crucial da interação entre relações de produção e o desenvolvimento das forças produtivas.
No mesmo período (1924-1929), o debate filosófico entre “dialéticos” e “mecanicistas” foi importante para entender o conceito da contradição dialética e o seu papel no desenvolvimento de fenómenos naturais e sociais. No início dos anos 30, o conceito teórico de “contradições não antagónicas” já havia emergido.
O filósofo soviético Ilyenkov apontará mais tarde que esta abordagem filosófica teria um impacto na discussão das questões da economia política do socialismo, na necessidade de delimitar claramente as relações mercadoria-dinheiro, como um elemento estranho à Planificação Central. Em vez de uma luta decisiva pela abolição da economia de mercado e de mercadorias, irá gradualmente prevalecer a perceção sobre a possibilidade de difusão, integração e utilização limitadas das funções do mercado pelo planeamento central do poder da classe operária.
Nos anos 50, Stáline resumirá esta controvérsia no seu trabalho “Os problemas económicos do socialismo na URSS”. Em conclusão, houve um debate teórico no Partido Bolchevique, no qual as forças revolucionárias lutaram contra os apoiantes do mercado. Mas os passos para o desenvolvimento da economia política marxista do socialismo foram insuficientes para enfrentar os problemas relacionados com a priorização das necessidades sociais e da efetiva planificação para a sua satisfação. Foram insuficientes para formularem claras orientações, métodos e indicadores, a fim de calcular e avaliar o desenvolvimento e o desempenho da indústria e da produção agrícola socialistas, à luz das crescentes necessidades sociais e das novas exigências da produção socializada.
Obviamente, a dificuldade de superar as deficiências teóricas, bem como o conflito ideológico dentro do PCUS e nos restantes partidos comunistas, teve como pano de fundo a existência de diferentes forças sociais e de diferentes interesses materiais nos países socialistas.
Em muitos países socialistas, a propriedade privada da produção agrícola ainda não tinha sido abolida. Nem mesmo o direito de contratar mão-de-obra tinha sido completamente abolido. Na própria União Soviética, além de manter a propriedade coletiva dos kolkhozes no setor agrícola, ocorreu um enfraquecimento da participação e controle dos trabalhadores e a manutenção das diferenças de rendimentos. A contradição entre o trabalho de gestão e o de execução aumentou.
Depois da guerra e, especialmente, após o 20.º Congresso do PCUS, em 1956, foi aberto o caminho para o derrubamento contrarrevolucionário, para um retrocesso no curso da História. As discussões económicas de 1960 serão dominadas pelas visões oportunistas do “socialismo de mercado”, cujo resultado foi a reforma económica de Kosygin de 1965.
Durante o mesmo período, a conceção marxista-leninista do Estado dos trabalhadores foi revista. O 22.º Congresso do PCUS (1961) caracterizou a URSS como um “Estado de todo o povo” e o PCUS como um “partido de todo o povo”.
Em vez de se procurarem soluções numa direção avançada, no sentido de uma expansão e aprofundamento das relações socialistas de produção, foram-se buscar soluções ao passado, usando as ferramentas e as relações de produção do capitalismo. A administração central da economia planeada foi enfraquecida. Cada unidade de produção individual define por si as suas próprias metas de eficiência, fragmentando essencialmente as metas gerais da produção social. A produção de mercado e de mercadorias recuperou terreno; as desigualdades de rendimentos aumentaram, a propriedade individual e de grupo foi reforçada, particularmente no setor agrícola.
A contrarrevolução não teria vencido se tivesse havido uma atempada preparação coletiva teórica e política para responder aos difíceis problemas colocados pelo novo nível de desenvolvimento da produção social.
A experiência histórica, positiva e negativa, do século XX, após a vitória da Revolução Socialista de outubro de 1917, demonstra o papel libertador das relações de produção socialistas no desenvolvimento das forças produtivas, com o objetivo de satisfazer as necessidades da sociedade.
O percurso histórico, desde a vitória da Revolução Socialista de outubro de 1917 até à vitória da contrarrevolução e a derrota do início dos anos 90, realça e sublinha a importância da aplicação criativa dos princípios leninistas da construção socialista.
É uma experiência histórica valiosa que ilumina, por um lado, os resultados benéficos que podem ser alcançados quando a vanguarda revolucionária está consciente e utiliza adequadamente as leis da construção socialista e, por outro lado, as devastadoras consequências negativas quando não é esse o caso – devido a inadequações teóricas e políticas coletivas e à vitória das conceções oportunistas no Partido Comunista, sob a pressão de uma negativa correlação de forças e de grandes dificuldades que possam surgir.
Também realça os objetivos constrangimentos e dificuldades nos esforços de uma direção planificada da economia, conforme exigido pelo nível de desenvolvimento das forças produtivas, do progresso técnico e da produtividade do trabalho, num dado ponto.
Muito brevemente, o que nos ensinou a experiência do século 20?
Em geral, confirmou que a construção socialista não é um percurso fácil, direto e progressivo e que inclui o risco de uma reação violenta. Confirmou um conjunto de termos básicos e pré-condições inter-relacionados que determinam o resultado dessa difícil tarefa. Mais especificamente:
Confirmou a importância de uma orientação consistente e firme do Partido Comunista e do poder da classe operária para a expansão e domínio completo da propriedade social, das relações de produção socialistas e da eliminação de todas as formas de produção individual e de grupo de mercadorias. Realçou a falência histórica do “socialismo de mercado” como um caminho de transição do estágio imaturo para o estágio maduro do comunismo.
Manter uma orientação revolucionária na construção socialista requer a compreensão teórica de que a lei do valor não é uma lei da economia socialista, que não pode regular as suas relações. Requer o entendimento teórico de que, enquanto as relações mercadoria-dinheiro são mantidas, existe o perigo de um reforço das forças sociais contrarrevolucionárias. O efeito da lei do valor na vida económica está em contradição com a Planificação Central e deve ser decisivamente superada através da conversão planificada de toda a produção em produção social direta.
Limitar o impacto da lei do valor através de certas medidas do Estado socialista, como delimitações de preços e planos de produção, não é uma solução radical e substantiva para se lidar a longo prazo, com o risco de enfraquecimento do poder da classe operária.
A experiência também destacou a crucial importância do esforço da planificação central para a atualização científica e a adaptação criativa e contínua da Planificação Central aos novos requisitos estabelecidos pelo novo nível de desenvolvimento da produção social.
A Planificação Central é uma relação social determinada pela propriedade social dos meios de produção. Expressa a maneira radicalmente diferente pela qual os trabalhadores estão unidos aos meios de produção, sem a intermediação do mercado. Permite o controle dos trabalhadores sobre o que será produzido, como será produzido e como será distribuído aos vários setores de produção.
Enfrenta constrangimentos objetivos, uma vez que o nível de desenvolvimento das forças produtivas, em cada momento, não permite o acesso, no mesmo grau, à totalidade do produto social com base no princípio das necessidades, nem permite uma superação direta da contradição entre trabalho de gestão e de execução e, em geral, da contradição entre trabalho intelectual e trabalho manual.
Sob a pressão de dificuldades objetivas, de diferentes interesses materiais sociais e de inadequações teóricas e científicas, há sempre o risco de cometer graves erros subjetivos no plano, em relação às metas de produção, às prioridades para um desenvolvimento proporcional dos setores de produção, ao treino e especialização da força de trabalho e à tentativa de abolir as diferenciações de classe.
A experiência histórica do século XX revelou o papel insubstituível da ditadura do proletariado na construção socialista, bem como a falência histórica da conceção oportunista do “Estado de todo o povo”. A experiência soviética, tanto na sua trajetória ascendente como na descendente, mostrou que a ditadura do proletariado só pode cumprir a sua missão quando se apoia na mobilização dos trabalhadores, de modo a que as direções e os objetivos sejam ativa e militantemente adotados pelas amplas massas populares.
É por isso crucial que os seus órgãos, do nível inferior aos órgãos centrais do poder, funcionem de maneira substantiva, e não formalmente. Que a Assembleia Geral em todos os locais de trabalho funcione efetivamente, isto é, com base nos princípios de controle, prestação de contas e convocação de representantes eleitos aos mais altos níveis de autoridade. Direitos eleitorais substantivos podem ser estabelecidos desta maneira, em oposição aos direitos eleitorais formais, à igualdade formal da democracia burguesa, da ditadura do capital.
Esta função pode salvaguardar o caminho da construção socialista contra erros e desvios subjetivos na elaboração e implementação do plano, em qualquer momento, no contexto da Planificação Central.
Esse perigo sublinha o papel que o poder revolucionário da classe operária, a ditadura do proletariado, deve desempenhar. O fortalecimento das relações de produção comunistas pressupõe a ação consciente dos trabalhadores. É necessária uma forma superior de democracia, com o envolvimento ativo dos trabalhadores na adoção, implementação e controle das decisões. A conversão do local de trabalho no núcleo organizativo do poder dos trabalhadores é um elemento central dessa qualidade superior da democracia. Mas, com a vitória da revolução socialista, a consciência não fica totalmente enraizada no povo. É por isso que a intervenção de vanguarda do Partido Comunista desempenha um papel decisivo.
O Partido Comunista representa o núcleo liderante do poder revolucionário dos trabalhadores, uma vez que é a única força que pode agir, conscientemente, de acordo com as leis do movimento da sociedade socialista-comunista. É por isso que tem de ser capaz, em todas as circunstâncias, de levar a classe operária a realizar a sua missão histórica.
O Estado socialista, como um instrumento da luta de classes que continua, sob novas formas e novas condições, deve desempenhar o seu papel defensivo-repressivo e a sua função criativa, económica e cultural.
O Estado dos trabalhadores, como mecanismo de domínio política, é necessário até à transformação de todas as relações sociais em relações comunistas, até à formação da consciência comunista entre a grande maioria dos trabalhadores e até à prevalência das relações de produção socialistas na maior parte do mundo.
A experiência soviética mostrou que, para realizar as condições em causa, o Partido Comunista deve manter a capacidade de formular a sua política de maneira científica e de classe. Por outras palavras, o Partido Comunista deve reafirmar constantemente o seu papel de portador da unidade dialética da teoria e prática revolucionárias. Deve contribuir para o desenvolvimento criativo da visão marxista-leninista do mundo, enquanto o objeto de estudo da teoria – a vida, em todas as suas formas – se está a desenvolver. Não para tratar a teoria como uma coleção religiosa de dogmas e posições, desligada do tempo histórico. O desenvolvimento criativo é necessário perante a revisão oportunista dos princípios e leis teóricos iluminados pela visão marxista do mundo. Não nos esqueçamos de que a revisão teórica é a maior parte das vezes utilizada sob o falso pretexto de enfrentar novos e complexos problemas e fenómenos.
O desenvolvimento criativo da teoria é, certamente, uma tarefa difícil. A pesquisa teórica sobre as leis e a evolução da estrutura económica do socialismo apresenta particulares dificuldades objetivas, quando comparadas à formulação teórica marxista da economia política do capitalismo.
Lembremo-nos que, quando Marx investigava as leis e o funcionamento da economia capitalista, tinham passado séculos desde o surgimento da produção capitalista no seio da sociedade feudal. As relações capitalistas fizeram a sua primeira aparição já no século XVI. No final do século XVI, tivemos o primeiro Estado capitalista na Holanda e, no século XVII, a revolução burguesa na Inglaterra. No final do século XVIII, o modo de produção capitalista prevalecia na Europa Ocidental, com a vitória da Revolução Francesa.
Marx e Engels estudaram o sistema capitalista, como um objeto de conhecimento, num período em que ele existia relativamente maduro, em estado avançado, e em que se podia definir cientificamente todas as condições realmente necessárias para o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, os processos internos e essenciais do seu desenvolvimento, em oposição a eventos históricos aleatórios e às suas formas históricas particulares e específicas. Marx e Engels discutiram, utilizaram e derrubaram os estudos teóricos burgueses de Smith e Ricardo, que os tinham precedido.
A tentativa de Lénine de formular a economia política marxista do socialismo começou com abordagens limitadas: a economia política marxista do capitalismo, os princípios teóricos e o método do materialismo dialético e histórico.
Ele teve de lidar com um grande problema objetivo, que foi mais tarde clarificado nas discussões do pensamento filosófico soviético (Ilyenkov, Vaziulin, etc.). Ele só pôde estudar de maneira concreta o início do surgimento das relações de produção socialistas após a revolução socialista na Rússia. Ele só pôde estudar os fundamentos do novo modo de produção, o socialismo. Ao mesmo tempo, ele teve a tarefa de descobrir as leis e prever as questões-chave que a tentativa de construção socialista teria de enfrentar no futuro, sob condições internacionais em que o papel das relações de produção capitalistas permaneciam poderosas e decisivas.
Por outras palavras, a investigação teórica podia focar-se de uma forma específica apenas no estado imaturo (do novo modo de produção), enquanto a economia política marxista do capitalismo olhava para o período maduro, quando as relações de produção capitalistas já eram dominantes e desempenhavam um papel decisivo no processo de desenvolvimento mundial.
Esta maior dificuldade na investigação teórica do curso da construção socialista, comparada com o estudo do modo de produção capitalista, é objetiva, porque, diferentemente da revolução burguesa, que encontra prontas as formas das relações capitalistas, o poder da classe operária ainda não herda relações de produção formadas. As relações socialistas-comunistas de propriedade social só emergem como resultado dos atos políticos revolucionários do poder da classe operária. A investigação teórica que devia apoiar, em qualquer momento, a prática revolucionária, a fim de moldar, expandir e aprofundar as novas relações sociais de produção, tem como objeto primário de estudo algo que está precisamente a nascer. Essa dificuldade objetiva pode facilitar o domínio do empirismo, o método “tentativa e erro” das abordagens positivistas, se não houver vigilância teórica e coletiva atempada.
Hoje, porém, nós, comunistas, temos mais oportunidades e responsabilidades, porque podemos estudar a experiência histórica do século XX. Podemos estudar e investigar os problemas da economia política do socialismo, observando o curso histórico de décadas.
Ao mesmo tempo, podemos aproveitar-nos da construção socialista e das novas grandes possibilidades objetivas criadas pela era moderna da economia digital e pela “4.ª Revolução Industrial”.
Vale a pena ver quantas restrições técnicas e científicas para o sucesso da planificação central e o aprofundamento das relações de produção socialistas –, que existiam na Rússia de 1917 e na União Soviética, da década de 1950 –, não existem hoje.
Pensar nas oportunidades que o aumento da produtividade no trabalho oferece hoje para aumentar o tempo de lazer e melhorar o conteúdo criativo do trabalho para os trabalhadores, que são a principal força produtiva em todas as épocas. Aqui também devemos levar em conta o exército de cientistas assalariados que, objetivamente, pertencem ou se aproximam da moderna classe operária, um exército que não existia em outubro de 1917.
Pensar nas novas possibilidades da planificação científica, na possibilidade de tomar decisões rápidas e ótimas sobre problemas complexos, utilizando os recursos modernos para recolher rapidamente e processar intensivamente grandes volumes de dados e informações relevantes para a totalidade das necessidades da sociedade. Pensar nas novas possibilidades tecnológicas e científicas para garantir não apenas a adequação dos produtos, mas também a sua melhor qualidade, nos novos recursos para melhorar e controlar rapidamente a produção, nos novos recursos para prevenir e enfrentar os “grandes” acidentes industriais que estão a colocar em risco milhares de pessoas.
Outro aspeto diz respeito às novas possibilidades de investigação interdisciplinar, livres das cadeias da concorrência de mercado, que têm o objetivo de salvaguardar o lucro capitalista. Isto é, a capacidade da investigação interdisciplinar para prever de forma atempada e precisa as futuras necessidades sociais e identificar as prioridades da economia.
Vamos considerar também, dentro da estrutura da construção socialista, o ímpeto que o desenvolvimento criativo do marxismo pode dar à investigação moderna e, em geral, ao processo do conhecimento.
O progresso da investigação científica marxista em todas as disciplinas científicas e na cooperação interdisciplinar contribuirá para a melhoria da documentação científica dos específicos planos quinquenais para o desenvolvimento planificado da economia socialista. Serão superadas as barreiras de natureza epistemológica que dificultam a total correspondência da planificação com as exigências das leis da construção socialista.
O progresso científico ajudará a determinar com mais precisão as proporções quantitativas necessárias para manter um crescimento proporcional entre os principais setores da economia e entre as regiões de um país, assim como nas questões da divisão do trabalho entre Estados, no caso de se tratar de um grupo de países que marche novamente no caminho da construção socialista.
É claro que, juntamente com o surgimento de novas oportunidades também surgiram novos problemas, criados por essas mudanças na produção, no conteúdo de muitas tarefas laborais específicas e, claro, no correspondente conteúdo da educação.
Confrontados com os novos grandes problemas decorrentes da nova era da 4.ª revolução industrial, sobressai ainda mais a necessidade e a atualidade históricas do socialismo, pois só o poder da classe operária pode fornecer respostas consistentes a esses problemas, na perspetiva do bem-estar social.
O socialismo pode responder às mudanças necessárias no conteúdo do trabalho, aos necessários movimentos de trabalhadores para novas tarefas e objetivos de trabalho, para novos setores, sem que os trabalhadores estejam em risco e a viver com medo de ficar desempregados, sem seguro e sem assistência médica, como acontece no capitalismo.
Sob as condições da propriedade social e da planificação, ao contrário da selva do mercado, pode determinar-se e alterar-se, de maneira científica e planeada, a distribuição da força de trabalho e científica e dos meios de produção em todo o país, em cada região e em cada setor.
O socialismo pode garantir a necessária e contínua especialização e reciclagem, a atualização do conhecimento e das aptidões laborais dos trabalhadores. Pode desbloquear e libertar as suas capacidades criativas, porque as traz coletivamente para a vanguarda do desenvolvimento histórico, para a libertação social. Pode aproveitar o poder do esforço coletivo e o ímpeto da emulação socialista.
Tudo o que antes se disse realça as importantes tarefas do estudo e da investigação para o desenvolvimento criativo do marxismo-leninismo que temos diante de nós, a fim de agirmos, de facto, como uma vanguarda revolucionária no século XXI. Os nossos partidos, o KKE e o Partido Comunista da Turquia, cooperam, decisiva e criativamente, nessa direção. O poder da classe operária para entender, conhecer e mudar o mundo, o seu poder para cumprir a sua missão histórica e liderar a luta revolucionária pelo socialismo- comunismo será reafirmado.
Fonte: bilimveaydinlanma.org
“Matter, Dialectics and Society”,
Volume III Edição I
Fonte: http://www.idcommunism.com/2020/02/which-characteristics-will-socialism-have-in-the-21st-century.html?m=1&fbclid=IwAR1_N7sEMDM7DPlprLKdRLJALaxKkXCLF0Yz_bYGLzfAiI44kAWANQReaZg, colocado em 2020/02/20, acedido em 2020/03/03
Tradução do inglês de PAT
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