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segunda-feira, 13 de abril de 2020

CARTA ABERTA aos senhores que sonham com o desaparecimento dos velhos, doentes vulneráveis e outros humanos com defeito, cujos custos prejudicam a felicidade dos restantes cidadãos.



José Gabriel in facebook

CARTA ABERTA aos senhores que sonham com o desaparecimento dos velhos, doentes vulneráveis e outros humanos com defeito, cujos custos prejudicam a felicidade dos restantes cidadãos.

Exmos. Srs.:
Vamos, sem mais delongas, tratar de negócios, já que, convosco, nem ética nem emoções contam grande coisa. Sou, por ter mais de 60 - até mais de 70! - anos, um dos alvos a abater por V.Exas. - a bem da Nação, claro. Longe de mim desconfiar das intenções de V.Exas. que, tenho a certeza, se fundam no estremecido amor que tendes à Pátria e na preocupação que vos (co)move para com a o bem estar e felicidade sanitária da população em geral, em especial os cidadãos de menos de 60 anos saudáveis e produtivos - e, claro, os de qualquer idade, por provecta que seja, que tenham aqueles meios de fortuna e influência no poder que tão benfazejos são ao povo em geral, Deus os guarde até aos 120 anos, pelo menos, não ouso pôr limites à bondade da Providência.
Na verdade, se o assunto tem como fundamento a preocupação económica com os custos do envelhecimento demográfico, justo é que se argumente nos mesmos termos. Quereis, então, como já proclamaram importantes líderes políticos, que os mais velhos partam, feneçam, batam as botas. Muito bem, vamos, então, a condições e preços – única linguagem que pareceis entender.
Os candidatos à eliminação – digamos assim – são, à partida, diferentes, logo, com diferente valor de mercado. Variam:
1) Na esperança de vida. 
2) Nos custos que a sua sobrevida acarreta. 
3) Nos rendimentos cessantes para a família e no legado que o potencial de cujos deixa. 
4) Na maior ou menor intervenção política, bem como da sua natureza e consequências – uns pérfidos comunistas ou similares, bem como outros rebeldes ficam, naturalmente, mais caros
Esclarecidos estes como outros pontos supervenientes, passemos a questões concretas. Nesse sentido, e por mim, tenho a expor estas condições e consequentes perguntas a V.Exas., como outra parte do negócio:

1) Quanto estão dispostos a pagar pela vida de quem se voluntarie para ir desta para melhor – ou para coisa nenhuma, como acham os ateus? 
A coisa tem similitudes com um bom seguro de vida. 
E digo bom porque as indeminizações decididas pelos tribunais de V.Exas. avaliam a vida – mesmo de um jovem - ao valor de um traste -como se constata no facto de um atropelamento criminoso e de dolo demonstrado dar origem a uma indeminização frequentemente inferior ao custo do veículo atropelante.

2) Estão V.Exas, na disposição de, no sentido de poupar o Estado a um excessivo esforço financeiro, pagar em espécie? Por exemplo: uma boa casa para a família sobrevivente, seu sustento nos termos da raspadinha pé-de-meia ou – mais barato ainda – permitir ao eutanasiado a escolha de um político, banqueiro ou empresário corrupto de idade semelhante ou superior ao voluntário para que o acompanhe na sua viagem à eternidade?

3) Aceitam V:Exas. que o cidadão partinte decida da encenação e condições logísticas da sua partida – que incluirão pelo menos um mês de mordomias - seja qual for a sua condição social - e outras regalias, como a indispensável condecoração outorgada pelo Exmo. Presidente da República - caso ele não tenha sido escolhido nos termos da alínea 2)?

E pronto, aqui ficam as primeiras bases – outras ocorrerão - de uma possível negociação ao melhor estilo neo-liberal - até no facto de o Estado alombar com os custos. Nada impede, porém, que as grandes empresas e, sobretudo, o Banco Central Europeu e a vampira Lagarde contribuam neste esforço patriótico, humanista e europeísta.

Esperando a melhor atenção de V:Exas., apresento os meus piores cumprimentos e, numa esforçada vénia – a minha coluna já não é o que era – subscrevo-me:

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