LEMBRAR AMÉRICO DUARTE, DEPUTADO DA UDP

Insinuavam que era ignorante, Américo Duarte marimbava-se. 

Só as palmas da burguesia o chateavam. 

Incompatibilizou-se com a UDP e saiu

Houve uma revolução a 25 de Abril de 1974. 
E eleições livres um ano depois. 
Mas naquela tarde de terça-feira, 3 de Junho de 1975, o inimigo continuava ali à sua frente. 
Américo Duarte, o único deputado da União Democrática Popular (UDP), tinha de exterminar o animal – literalmente. 
"Peço a palavra", anunciou ao microfone: 
"Estão aqui nesta assembleia partidos fascistas." 
Como? 
"Depois do 25 de Abril já vimos muitos camaleões mudarem de cor conforme as conveniências."

Referia-se aos deputados eleitos pela direita. 
Foi assim que o único deputado da extrema-esquerda inaugurou o debate parlamentar na Assembleia Constituinte. 
Nos seus 192 dias como deputado, este operário da Lisnave, então com 33 anos, atacou João Mota Amaral, Freitas do Amaral e muitos outros deputados à direita, a quem ameaçou com o Campo Pequeno. Não fez um único amigo e em alguns debates houve quem apontasse a sua ignorância. 

Eram os excessos dos tempos revolucionários, disseram à SÁBADO antigos colegas de outros partidos. 

Américo Duarte saiu incompatibilizado com a UDP. E com uma mágoa (por não o terem ajudado quando a filha ficou doente), que ainda hoje perdura. 

Foi homenageado a 14 de Abril, tal como todos os outros Contituintes ainda vivos. 
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