O comunismo não é sobre ti. A luta não é sobre ti nem é um florão para as tuas fotografias nem é um palanque para o teu ego nem é, muito menos, um centro de emprego. A luta é colectiva e é sobre esse colectivo. A militância é uma escola de humildade em que se aprende a substituir o “eu” pelo “nós”. O comunismo é um movimento histórico do qual só podemos ser uma ínfima partícula quando tomamos consciência de que o protagonista é um gigantesco colectivo. Que a militância comunista não seja uma tribo, nem uma bolha social, nem um estilo de vida, mas sim o lugar onde tu venhas para lutar ao lado de muitos milhares em tudo iguais a ti e onde, um dia, possas enterrar o teu egocentrismo. Que tenhas, pois, orgulho nessa sepultura.
A lealdade não é uma palavra vã. O movimento revolucionário, enquanto organização criada para fazer a revolução, é uma máquina disciplinada que não tolera a deslealdade. Por saber de que lado está na guerra entre as classes, o militante revolucionário não ataca a sua própria organização nem os seus camaradas em público – não se oferece munições ao inimigo. A crítica é necessária e útil sempre que feita de uma forma honesta, frontal e leal, no seio da organização. Mas um revolucionário não é só revolucionário em maré alta e é quando a bucha é dura que se vê se é dura a razão que a sustém: não te juntes ao coro da direita quando um camarada teu tem um mau resultado eleitoral; não vás para o twitter insultar e apelar ao assédio contra os teus camaradas que não concordam contigo; não aches que a tua opinião vale mais que a do colectivo.
O marxismo não é uma religião. Um marxista pensa como um cientista e não como um crente. A confiança não pode, nunca, substituir a observação empírica, o estudo e a evidência. Um marxista não discute aos berros, com recurso ao bullying e ao ataque ad-hominem, mas com recurso a argumentos. A doutrina marxista não vive da regurgitação de versículos sagrados mas da leitura atenta de obras, do seu estudo, da sua discussão colectiva e da própria luta de classes. Por essa razão, o marxista não aceita nenhum dogma, não reza a nenhum deus, não aceita cegamente nenhuma grande verdade e, confrontado com a evidência, está sempre disponível para mudar de opinião.
A luta verdadeira é aquela que acontece entre trabalhador e patrão. Todas as questões políticas, culturais, económicas, ideológicas e sociais estão presas ao contraditório entre quem trabalha e quem explora. É preciso conhecer a exploração pelo lado de dentro e valorizar a palavra e a experiência de quem, todos os dias, enfrenta patrões a sério, daqueles que despedem quem se sindicaliza e assediam quem é comunista e travam a progressão na carreira a quem faz greve. O coração da luta não é o parlamento nem a autarquia; não é a academia nem a sede de qualquer organização. É a empresa, onde chocam os interesses do patronato com os do trabalhador.
Nada está perdido. O comunismo não é uma melancólica e romântica causa perdida. O comunismo é uma arma revolucionária e a revolução que queremos não é espiritual. É bom, por isso, que o comunismo assuste os milionários, os exploradores, os especuladores, os grandes proprietários. Afinal, na sociedade por que lutamos eles não terão lugar e nós, pela parque nos toca, não andamos a sonhar acordados. Até conquistarmos todos os nossos objectivos seremos programáticos, ferreamente disciplinados, implacáveis com o inimigo e não excluímos absolutamente nenhum meio para atingir os nossos fins. Que ninguém pense que o comunismo é um elemento estético, museológico, moralizante ou identitário. Nós existimos para vencer.
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