“Escolho seguir a minha consciência e escolho defender a 100% a Liberdade e a Verdade. Escolho defender as pessoas, que não são ratos, nem traidores, nem instrumentos para atingir fins”. Fundadora e militante número 6 do Chega, Lucinda Ribeiro comunicou no último fim-de-semana, por correio eletrónico, a sua desfiliação do partido de André Ventura. Na mensagem enviada, a que a VISÃO teve acesso, a ex-dirigente nacional considera que a “missão de criar um partido de direita” se esgotou. “Já não me é permitido viver o CHEGA a 100%.
Aquilo que tinha a dizer disse-o em privado ao André Ventura”, escreve, sem deixar, ainda assim, de enviar vários recados ao líder que, amiúde, invoca inspiração divina. “Nada é para sempre, por isso vejam como tratam as pessoas. Não basta usar o nome de Deus, lembrem-se que ele vê o que fazem em segredo e, para ele, as pessoas são o mais importante” refere.
Poder a todo o custo?
Em declarações à VISÃO, Lucinda Ribeiro esclareceu que a posição do partido em relação ao certificado de vacinação foi a gota de água. “Estamos num momento fulcral da história, não há tempo para nins e indefinições. Em relação às medidas pandémicas, o Chega não se definiu. Ainda estou à espera que retire a proposta de revisão constitucional de «internamento compulsório»”, adverte, criticando o facto de o partido ter considerado o uso do certificado de vacinação um mal menor. “É uma medida nazi, discriminatória e inconstitucional. Após estas declarações do André Ventura, o meu filho (com 20 anos e sempre saudável) foi vacinar-se para não perder o acesso ao ginásio, essencial para ele”, defende.
Com eleições legislativas à porta, a ex-dirigente assume, igualmente, outras desilusões. “O Chega está cada vez mais próximo de ser o novo PSD e na próxima revisão constitucional isso será claro. Este novo Chega está obcecado com o poder e em ser governo a qualquer preço”, critica.
Afastada de vogal da direção no congresso de Coimbra, em maio, Lucinda Ribeiro manteve-se no conselho nacional. Em finais de novembro, durante o IV Congresso realizado em Viseu, foi relegada para um lugar não elegível na lista oficial àquele órgão. O seu desconforto com a liderança do partido, com o reforço dos setores católicos na direção e algumas das posições públicas do partido que considera contrárias à defesa dos valores judaico-cristãos são, porém, mais antigos. Admiradora do governo brasileiro de Jair Bolsonaro, oponente fervorosa da vacinação de crianças e da “ditadura” sanitária dos “novos opressores” socialistas, a agora ex-militante, cujas páginas e posições já foram várias vezes bloqueadas pelo Facebook, opõe-se ao que chama “invasão islâmica” do País e à generalidade das medidas de apoio a imigrantes e refugiados: “Sou obrigada a gostar de um Portugal quase totalmente feito de portugueses nascidos no SEF?”, perguntou na sua página da rede social Telegram.
visao.sapo.pt
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