Um país em que são necessários seis meses para levantar — leu bem, levantar, não é fazer! — um cartão de identidade, a que se chama de cidadão, que se renova por mais de dezasseis euros, não é um país: é uma abjeção, é uma anedota, é uma vergonha. E não, não venham com a desculpa do covid, porque o covid agora serve para justificar tudo, mas não é para aqui chamado: as coisas já estavam péssimas muito antes do vírus aqui chegar.
O país foi ficando assim, governação após governação, foi-se destruindo a pouco e pouco, desmantelando peça por peça, e hoje, funcionando sempre nos mínimos do admissível, é algo de resolutamente inviável, perfeitamente incapaz de lidar com qualquer situação inesperada. Os serviços públicos chegaram ao fundo do poço. Seis meses para se levantar um cartão de cidadão já feito é algo de surreal, de distópico. Eu sei que com a saúde é pior e mais grave. Eu sei que também se podia falar na educação e que há coisas mais importantes que um cartão de cidadão. Mas é simbólico. Se isto não funciona, o que é que pode funcionar? Aguardar seis meses para se levantar um cartão de cidadão é assustador, tenebroso. São cinco minutos: mostrar o papel, confirmar os dados, assinar. Mas são cinco minutos que, tragicamente, os serviços do nosso país não têm.
Contas certas? Défices zero? Excedentes orçamentais? Isto, demorar seis meses para levantar um cartão de cidadão, devia ser o maior embaraço para qualquer governante, a prova maior da sua total inépcia, da sua insofismável incompetência para liderar um país.
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