O MENINO DO LAPEDO – UM CASO DE
MISCIGENAÇÃO NO VALE DO ABRIGO DO
LAGAR VELHO
O nosso trabalho prende-se com um achado de grande relevância no nosso distrito – Leiria – a importantíssima descoberta arqueológica do Menino do Lapedo. Escolhemos desenvolver este tema não só por estar localizado na nossa área de residência, mas também por revolucionar a história da evolução do Homem. Sem dúvida que a hipótese de miscigenação humana, cujas evidências arqueológicas aqui encontradas ajudam a desvendar, é um tópico de interesse comum no nosso grupo e, por isso, decidimos investigar.
No dia 6 de Dezembro de 1998 a inspecção de uma toca de coelho possibillitou a recolha de um pequeno conjunto de ossos humanos cobertos com ocre (pigmento mineral usado em rituais funerários). Acabava de se descobrir a primeira sepultura do Paleolítico Superior da Península Ibérica – Gravettense (26-21 mil anos). . O achado datado de cerca de 24 500 anos corresponde a uma criança saudável com cerca de 5 anos.
O estudo anatómico e paleontológico revelou que o Menino do Lapedo apresenta características modernas e arcaicas.
A criança do Lapedo é o primeiro fóssil que permite documentar um tipo de mosaico resultante de uma miscigenação entre o homem anatomicamente moderno e o nosso último antepassado europeu, o homem de neandertal. A combinação única de características anatómicas, umas modernas e outras neandertalenses só pode ser explicada cabalmente em termos filogenéticos. Esta indica que os Neandertais que subsistiam na Península Ibérica, quando os primeiros grupos de homens modernos nela começaram a penetrar, contribuíram para o património genético das populações da época em que viveu e morreu a criança do Lapedo, 3 a 5 mil anos mais tarde. Para que, tanto tempo passado, os sinais do processo ainda pudessem ser visíveis na morfologia do esqueleto dessas populações, a miscigenação entre os dois tipos humanos deveria ter sido extensa e frequente, não limitada ou episódica.
O Menino do Lapedo é uma das raras sepulturas infantis desta época já descobertas, e o mais completo e bem documentado, pelo que permite observar os critérios de diferenciação social perante a morte. O menino terá sido envolvido numa mortalha de pele animal impregnada de ocre, e sepultado com oferendas funerárias (peças de carne, dentes de veados, ossadas de coelho e conchas perfuradas).
Após a descoberta do Menino do Lapedo, os trabalhos arqueológicos continuaram a revelar indícios notáveis de ocupação humana. Entre 2000 e 2004 foram descobertos vestígios bem preservados de um acampamento temporário, organizado em torno de duas lareiras com arquitecturas e funcionalidades diferentes, uma com centenas de ossos de animais queimados e outra onde foram recolhidos mais de 600 artefactos líticos e onde funcionavam 3 áreas de talhe diferentes. Esta riqueza de vestígios indica que, durante o último máximo glaciário, o Abrigo do Lagar Velho teria sido ocupado de forma intensa e repetida, quando o Vale do Lapedo constituía, na paisagem da época, um dos refúgios com maior biodiversidade.
VÍDEO
Bibliografia:
Trinkaus, E., J. Zilhão, and C. Duarte. 1999. “The Lapedo Child: Lagar Velho 1 and our Perceptions of the Neandertals.”
Zilhão, J. 1998. “The extinction of Iberian Neandertals and its implications for the origins of modern humans in Europe,”
J. Zilhão. 1999. “The Early Upper Paleolithic Human Skeleton from the Abrigo do Lagar Velho (Portugal) and Modern Human Emergence in Iberia.”
Zilhão, J. and F. D’Errico. 2000. “A Case for Neandertal Culture.”
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