António Mota (in facebook)
OS HOMENS ACOBARDAM-SE, MAS OS MELROS, NÃO
1.
Os homens acobardam-se, mas os melros, não.
São uns valentes os melros. Chegam aos limites, num combate duro contra a escravidão, Chegam a matar, chegam a morrer, chegam a matar-se, e a matar os seus. Recusam a prisão e, se tiver que ser, abrem as asas num último e irreversível vôo de libertação. Acobardam-se os homens, mas os melros não.
Os homens acobardam-se, mas os melros, não.
São uns valentes os melros. Chegam aos limites, num combate duro contra a escravidão, Chegam a matar, chegam a morrer, chegam a matar-se, e a matar os seus. Recusam a prisão e, se tiver que ser, abrem as asas num último e irreversível vôo de libertação. Acobardam-se os homens, mas os melros não.
2.
Os machos, vaidosos, exibem seu fato de penas, de preto azeviche lustroso, e seu bico vário concentra o espanto do amarelo vivo arribado. São muito vistosos, cumprindo a regra, quase sagrada, que a natureza concedeu aos machos, mas aos homens não, esses convencidos, que se distraíram, e, preguiçosos, perderam o brilho e a graça dos machos. Ficaram vulgares. E gostaram. Mas adiante, que ainda me batem.
Os machos, vaidosos, exibem seu fato de penas, de preto azeviche lustroso, e seu bico vário concentra o espanto do amarelo vivo arribado. São muito vistosos, cumprindo a regra, quase sagrada, que a natureza concedeu aos machos, mas aos homens não, esses convencidos, que se distraíram, e, preguiçosos, perderam o brilho e a graça dos machos. Ficaram vulgares. E gostaram. Mas adiante, que ainda me batem.
3.
As fêmeas, porém, numa discrição cuidada, usam vestimenta preta, um tanto baça, tons fugidios de indizível refulgente castanho. E não precisam de exibir o bico, despido de ostentações coloridas, seguras que estão dos seus predicados para chamar os machos.
As fêmeas, porém, numa discrição cuidada, usam vestimenta preta, um tanto baça, tons fugidios de indizível refulgente castanho. E não precisam de exibir o bico, despido de ostentações coloridas, seguras que estão dos seus predicados para chamar os machos.
E foi esta a bênção com que a natureza brindou o tudo que é fêmea. E as mulheres também. Mas estas, espertas, e alteraram tudo, deixando os homens na incerteza sempre, que só elas sabem. Mas adiante, antes que me.
4.
Onde quer que estejam, e estão em todo o lado, gostam sempre os melros de humidade amena e de relva tenra . É aí que brincam, dançam e namoram Brincam rente ao chão, em campo aberto, entre penedias, escondidos nos bosques, no meio dos jardins , e nos bancos destes.
Onde quer que estejam, e estão em todo o lado, gostam sempre os melros de humidade amena e de relva tenra . É aí que brincam, dançam e namoram Brincam rente ao chão, em campo aberto, entre penedias, escondidos nos bosques, no meio dos jardins , e nos bancos destes.
São uns brincalhões, os meltos.Brincam saltitando e, se mais agitados, movem-se aos sacões, cauda alevantado. E dizem que os homens, às vezes, também.
5.
Brincam aos amores, fazem corridinhas entre a erva, chegam a deixar-se nela, dizem, e brincando buscam um prazer que é seu, que é esgravatar minhocas, e que oferecem, bico contra bico, a quem. Perdem-se por elas. Para as encontrar, correm Seca e Meca, e apartam a relva, e fazem buraco, só por causa delas. É um tempo danado, o tempo dos melros, quando enamorados.
Brincam aos amores, fazem corridinhas entre a erva, chegam a deixar-se nela, dizem, e brincando buscam um prazer que é seu, que é esgravatar minhocas, e que oferecem, bico contra bico, a quem. Perdem-se por elas. Para as encontrar, correm Seca e Meca, e apartam a relva, e fazem buraco, só por causa delas. É um tempo danado, o tempo dos melros, quando enamorados.
E não só o deles. É o que me dizem.
6.
E que bem que cantam. E que melodia. E que harmonia. Na mais delicada surdina e doce. Na frase assobiada e desafiante. No secreto pio em semicolcheia. Seriam os melhores, não fosse a mania daquela pressa à toa, que termina abrupta. Ainda se fossem incipientes poetas, com pressa de publicar. Mas não. Lembram-me o Camilo. O que escrevia. O génio da alma em fogo escrita à velocidade da bala dum bacamarte. O nosso Dostoiévski. Os melros e o Camilo seriam os melhores. Mas, em frente.
E que bem que cantam. E que melodia. E que harmonia. Na mais delicada surdina e doce. Na frase assobiada e desafiante. No secreto pio em semicolcheia. Seriam os melhores, não fosse a mania daquela pressa à toa, que termina abrupta. Ainda se fossem incipientes poetas, com pressa de publicar. Mas não. Lembram-me o Camilo. O que escrevia. O génio da alma em fogo escrita à velocidade da bala dum bacamarte. O nosso Dostoiévski. Os melros e o Camilo seriam os melhores. Mas, em frente.
7.
Audazes são os melros e ousados. Não fogem à luta, quando tem que ser. Por causa do campo de jogo que é seu, da relva que é sua, do buraco que é seu, da minhoca que é sua, da casa que é sua, da família sua, da mulher que é sua e dos filhos seus. Chegam aos limites, oh, homens enfezados de matilhas escravas em cidade. Lembrai-vos do melro e da bandeira de Guerra Junqueiro.
Audazes são os melros e ousados. Não fogem à luta, quando tem que ser. Por causa do campo de jogo que é seu, da relva que é sua, do buraco que é seu, da minhoca que é sua, da casa que é sua, da família sua, da mulher que é sua e dos filhos seus. Chegam aos limites, oh, homens enfezados de matilhas escravas em cidade. Lembrai-vos do melro e da bandeira de Guerra Junqueiro.
8.
Os homens acobardam-se. Mas os melros, não.
São uns valentes os melros. Chegam aos limites, num combate duro contra a escravidão, Chegam a matar, chegam a morrer, chegam a matar-se, e a matar os seus. Os homens acobardam-se. Mas os melros, não.
Os homens acobardam-se. Mas os melros, não.
São uns valentes os melros. Chegam aos limites, num combate duro contra a escravidão, Chegam a matar, chegam a morrer, chegam a matar-se, e a matar os seus. Os homens acobardam-se. Mas os melros, não.
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