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quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Os medicamentos homeopáticos funcionam ou não?


 www.publico.pt

Pedro M. Teixeira

Os medicamentos homeopáticos não funcionam melhor do que o efeito placebo e, quando as pessoas estão gravemente doentes, se procuram ajuda neste tipo de solução correm sérios riscos. Este texto não pretende apresentar uma análise histórica e conceptual exaustiva sobre a homeopatia, mas contribuir para a clarificação de mal-entendidos em torno de uma das terapias alternativas mais comummente referidas.

O que é a homeopatia?

O médico Samuel Hahnemann propôs, em 1796, o princípio similia similibus curantur, ou seja, o semelhante pelo semelhante se cura. Assim, o tratamento ocorreria a partir da diluição e dinamização de uma substância que produz o sintoma num indivíduo saudável. O alegado medicamento homeopático consiste em doses extremamente diluídas de compostos que são considerados para contrariar os sintomas. 

Estes compostos são vistos como causas em pessoas saudáveis dos sintomas que pretendem contrariar, mas alegadamente potencializados através de técnicas aperfeiçoadas pela homeopatia que libertam energia (diluição, dinamização e sucussão). Esta perspetiva homeopática tem sido considerada, do ponto de vista das leis da física e da química, implausível (não credível). Por outro lado, o impacto que a crença num efeito terapêutico – medicamento – pode ter na melhoria sintomática é cada vez mais bem compreendido e está descrito como efeito placebo.

A homeopatia funciona?

De acordo com a evidência científica existente os medicamentos homeopáticos não são mais eficazes do que o efeito placebo e o seu mecanismo de funcionamento é considerado implausível. Algumas revisões recentes, na Austrália e em França dão conta disso.

A homeopatia surgiu num período muito particular do desenvolvimento da medicina científica moderna. 

O conhecimento da época sobre as doenças e sobre vários tratamentos possíveis era substancialmente diferente do que existe hoje. A abordagem não invasiva e a atenção dada ao paciente colocaram a homeopatia num percurso de relativo sucesso, no século XIX, quando comparado com os tratamentos médicos pouco eficazes e invasivos, como sangramento com sanguessugas, da pré-medicina moderna.

Os (ditos) medicamentos homeopáticos ganharam espaço no mercado da saúde, porque surgiram numa época em que não havia grandes alternativas, nem o escrutínio científico atual sobre eficácia de tratamentos – e permanecem como medicamentos não sujeitos a receita médica. Contudo, apesar da magnitude da indústria homeopática, o seu uso tem gradualmente deixado de ser recomendado e comparticipado pelos Estados.

Os relatos de melhoria de várias pessoas, ao usarem estes medicamentos, são explicáveis tanto pelo efeito placebo como pela história natural da doença, pela remissão espontânea ou ainda pelo facto de serem agudizações cíclicas de doenças crónicas – e não pelo seu inexistente efeito terapêutico.

A homeopatia é perigosa?

A homeopatia pode ser perigosa, se afastar doentes graves de tratamentos comprovadamente eficazes – esse é o seu maior perigo. De modo geral, os alegados medicamentos homeopáticos são seguros; contudo, a relutância em obter tratamento médico convencional, preferindo a homeopatia, pode conduzir a complicações e até mortes

A página http://whatstheharm.net/homeopathy.html procura compilar relatos de casos de dano por mau uso de homeopatia.

Presentemente, a deontologia médica sugere que o processo de tomada de decisão em medicina deve ser, sempre que possível, partilhado com respeito pela autonomia e preferência do doente. Isto significa que cabe ao médico informar o doente sobre os riscos/benefícios dos tratamentos disponíveis e envolvê-lo ativamente na decisão terapêutica. Assim, não é considerado ético prescrever ou sugerir o uso de um medicamento homeopático (ou outro) sem anunciar que se trata de um efeito placebo – o que comprometerá o seu efeito.

A conclusão é simples: a homeopatia não tem encontrado na medicina atual suporte científico, ético e deontológico para o seu uso.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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