Em tempos de guerra, é quase certo que os homens vão muito além de seus limites anteriores para cometer feitos de extraordinária coragem e valor. Aqueles que realizam tais façanhas geralmente são homenageados e comemorados. No entanto, segundo dica do amigo Rusmea, via Facebook, muitas vezes a guerra exige o teste e a superação de outros tipos de limites também, exigindo que um homem vá muito além do que a maioria pode imaginar ou suportar. Um exemplo perfeito disso foi o caso de George Ray Tweed, operador de rádio de primeira classe da Marinha dos Estados Unidos. |
George, algumas semanas antes da invasão japonesa.
Ele conseguiu, através de extrema furtividade e resistência, sobreviver por conta própria e escapar com sucesso do exército japonês por dois anos e sete meses na ilha de Guam, apesar de seus melhores esforços para capturá-lo e decapitá-lo, um destino que eles haviam infligido nos outros americanos que haviam capturado na ilha.
George já estava na Marinha dos EUA há 16 anos quando os japoneses lançaram seu ataque a Guam em dezembro de 1941. Além disso, ele morava em Guam com sua família desde agosto de 1939, então ele não era um estranho na ilha.
Todos os membros da família dos militares dos EUA foram evacuados de Guam em outubro de 1941, então quando o exército japonês começou seu ataque à ilha em 8 de dezembro, os únicos americanos na ilha eram militares dos EUA e algumas enfermeiras.
As forças japonesas numericamente superiores rapidamente desestimaram qualquer resistência por parte dos americanos, e a guarnição americana se rendeu em 10 de dezembro. No entanto, seis homens da Marinha decidiram não se render. Em vez de se resignarem a passar o resto da guerra em um campo de prisioneiros japonês, eles escolheram fugir. Um desses seis foi George.
George Ray Tweed
Assim que George e outro homem, também operador de rádio de primeira classe, Albert Tyson, ouviram as notícias sobre a rendição americana, decidiram que não iam se entregar. Na saída da cidade, George parou em sua casa e encheu uma fronha com itens essenciais, assim como Albert.
Infelizmente, na pressa, esqueceram de levar um dos itens mais importantes para a sobrevivência: a água. Este foi um descuido perigoso, pois Guam sofria de escassez de água doce.
Depois de se deslocarem pelo mato e serem cortados pelos espinhos de limoeiro-do-mato da ilha, decidiram parar e descansar um pouco. George ouviu o mato farfalhar e pediu que Albert fizesse silêncio, mas nesse ínterim eles já tinham sido avistados. Era um nativo chamorro, um idoso chamado Francisco,que os levou para sua casa e lhes deu comida e água.
No entanto, eles não tiveram muita chance de descansar, pois os japoneses já estavam procurando os americanos fugitivos. Francisco ajudou George e Albert a encontrar um lugar seguro no mato onde pudessem se esconder durante a noite. Ele também os alimentou novamente na manhã seguinte.
A Ilha de Guam na atualidade.
O fato do povo chamorro local estar tão disposto a ajudar os americanos provou ser um fator crucial em termos do longo período de evasão de George dos japoneses. Sem a ajuda deles, ele provavelmente teria sido capturado.
Os japoneses inicialmente tentaram fazer com que os ilhéus nativos ajudassem em seus esforços para capturar os americanos, oferecendo uma recompensa monetária aos chamorros por informações. Isso começou com 10 ienes para cada americano e 50 para George, por causa de sua habilidade em consertar rádios. Mas ninguém ajudou. Os chamorros odiavam os invasores japoneses e só cooperavam com eles quando eram ameaçados.
Após a primeira semana fugindo dos japoneses, George e Albert perceberam que os esforços para pegá-los estavam aumentando. Eles se mudaram para um novo esconderijo mais remoto: uma cova escavada por outro local, Jesus Quitugua. Outro nativo, Juan Cruz, conseguiu contrabandear para eles um rádio antigo.
George fez o rádio funcionar e assim ele e Albert conseguiram sobreviver por alguns meses no abrigo. Enquanto isso, os japoneses aumentaram as recompensas por informações para 100 ienes por americano e 1.000 por George. Mas mesmo assim ninguém os denunciou, então os japoneses intensificaram suas buscas.
Até este ponto, os outros quatro americanos haviam sido escondidos por um chamorro chamado Miguel Aguon. Juan Cruz ajudou George e Albert a se encontrarem com os outros. Quando todos os seis americanos se reuniram, decidiram que sua melhor aposta para a sobrevivência a longo prazo era se separar. Cada um seguiu seu caminho e, a partir deste ponto, George estava por conta própria.
As coisas não correram tão bem para os outros americanos depois disso. Três foram capturados de uma só vez e obrigados a cavar suas próprias sepulturas antes de serem decapitados.
Albert e outro americano chamado Johnston resistiram por mais tempo, mas eventualmente os japoneses os descobriram escondidos em um galinheiro. Eles atiraram em Johnston seis vezes, e quando Albert saiu do galinheiro com as mãos para cima, eles colocaram uma bala em sua cabeça. George era agora o último americano que restava vivo em Guam.
Até este ponto, ele estava escondido em uma caverna, mas agora que ele tinha se tornado uma espécie de troféu, os japoneses estavam fazendo de tudo para encontrá-lo. Ele também estava digitando um boletim de resistência local em uma pequena máquina de escrever que um dos moradores havia contrabandeado para ele.
Com a ajuda de outro chamorro, um homem chamado Antonio Artero, George encontrou seu novo e último esconderijo na ilha: uma abertura escondida no topo de um penhasco com vista para o oceano na parte norte da ilha. Era ali que ele acabaria ficando até ser resgatado.
Durante esse tempo, Antonio Artero lhe trazia regularmente comida e água. George prometeu reembolsar Artero por sua ajuda um dia, embora o chamorro se recusasse a cogitar a ideia de pagamento por essa ajuda. Artero uma vez mencionou, porém, que sonhava em um dia ter um sedã Chevrolet.
Enquanto isso, os japoneses começaram a torturar e executar ilhéus que eles acreditavam que estavam ocultando informações sobre George. Mesmo diante de tais atrocidades, ninguém desistiu dele.
Semanas se passaram, depois meses, depois anos, e George continuou a resistir. Finalmente, em 11 de junho de 1944, ele viu aviões americanos sobrevoando a ilha. Um mês depois, em 10 de julho, navios americanos chegaram perto o suficiente para ele sinalizar.
No entanto, em vez de implorar por resgate, ele mostrou uma mensagem codificada avisando-os da localização das baterias de armas japonesas na ilha. Somente depois que eles reconheceram o recebimento dessa informação é que ele pediu ajuda.
A volta de George à Ilha em 1946.
George Tweed foi resgatado em 10 de julho de 1944, depois de dois anos e sete meses fugindo dos japoneses. Por seu heroísmo, George foi condecorado com Legião do Mérito com o Dispositivo "V" e também com a Estrela de Prata, vindo a se aposentar em 1948 como tenente.
George posa para uma foto acompanhado por membros da família de Antonio Artero, à sua esquerda.
Após a guerra, ele não apenas voltou a Guam para agradecer aos moradores que ainda estavam vivos que o ajudaram, mas, com a ajuda da GM, em uma campanha promocional para destacar a retomada da produção de veículos automotores no pós-guerra, também cumpriu sua promessa a Antonio Artero e lhe deu um Chevrolet novinho em folha.
A história de George foi contada resumidamente no documentário oficial da Marinha dos EUA sobre a Batalha de Guam. Sua história também foi dramatizada no filme de 1962 "À Beira do Abismo", estrelado por Jeffrey Hunter. Ele morreu em um acidente automobilístico em 1989. George Ray Tweed tinha 86 anos.
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