A vereadora Sofia Vala Rocha publicou na conta do seu Twitter a seguinte pretensa ironia: “Viva a independência paga pela câmara de Lisboa!” E para demonstrar o que disse, ela juntou à sua frase uma imagem, feita por ela, com estas palavras: “jornal independente”, mais o nosso logotipo “mensagem de lisboa”, mais “apoio Câmara Municipal de Lisboa”.  Sugere-se, pois, que este jornal digital, Mensagem, perdeu a independência porque foi pago pela câmara de Lisboa. E mais, ironiza a vereadora, ela descobriu a marosca.

Ora, sim, confessamos, já o tínhamos escrito quando aparecemos: “Temos também uma parceria com o Arquivo Municipal de Lisboa, na área fotográfica, e o acesso à base de dados fotográfica da Câmara Municipal de Lisboa.” Quer dizer, qualquer cidadão que quiser uma foto do Arquivo Municipal de Lisboa tem, em princípio de a pagar. Mas a nós é-nos cedida. Está aí o pagamento.

Sofia Vala Rocha que conte as fotos por nós já publicadas e calcule o preço delas. Estamos dispostos a explicar-lhe que, ainda nem com um mês de publicação, Mensagem já fez também alguma coisa pela cidade. O acordo é entre iguais, quem manda neste jornal e quem manda nesta cidade a todo o momento pode mudar de opinião. Independentes, ambos. Uma obrigação especial temos com os leitores: informá-los com transparência sobre os nossos parceiros.    

Mensagem fez questão, desde o início, de dizer com quem acordou e o quê. O Facebook, por exemplo, depois de analisar o projeto do nosso jornal, ofereceu-nos apoio de 30 mil euros. A Google, idem, integrou-nos na plataforma Newspack, própria para jornais locais e equipas pequenas. A Google e o Facebook poderão explicar o que os moveu; a nós, foi a melhor qualidade do nosso trabalho. A Universidade Nova de Lisboa, com estudantes de jornalismo e o seu laboratório de dados sobre cidades, e a escola Lisbon School of Design, têm igualmente parcerias connosco. Mesmo os nossos sócios – não foi coincidência, foi um estado de espírito – escolhemo-los pelo que eles confirmavam da nossa ideia de jornal da cidade, convívio e cultura: eles gerem o café A Brasileira

Tal como fizemos com a CML, sobre as tais fotos cedidas gratuitamente, dissemos desde o início o que fizemos e com quem. Não para que o leitor confie, mas para que desconfie melhor. Dizemos mais: queremos fazer mais acordos. Nomeadamente com a câmara de Lisboa – e também as das outras cidades da região que cobrimos jornalisticamente. Queremos tudo a que temos direito, com a única força e argumento do que diariamente fazemos pela cidade. E, mais ainda, queremos convencer quanto o jornalismo é necessário e um bem comum.  

Quando nos apresentámos, sublinhámos o que de novo trazíamos. Jornal local, ligado à cidade e aos bairros, ao pulsar e interesses dos lisboetas. Fomos específicos nas intenções e pouco insistentes nas formulações vagas. As reportagens, crónicas, fotos e memórias têm como protagonistas os lisboetas comuns. Fizemos muita política – os jardins, as heroínas de bata, o velho olissipógrafo, o padrinho de Chelas, a praça infeliz do Martim Moniz, o peixeiro do mercado de Benfica, as bicicletas… – e poucos políticos.

Ainda antes da versão digital de Mensagem, quando fazíamos o que o confinamento nos permitia, trouxemos Fernando Medina e outras pessoas ligadas ao gerir de cidades, como o alcaide galego de Pontevedra, a debater n’A Brasileira. Foi no verão passado e, desde então, Medina poucas vezes mais foi citado por nós, se é que o foi. Políticas, dele e de outros, sim.

Não foi um acaso, foi assim e é também o nosso tipo de jornalismo. Nesse verão, também Carlos Moedas participou nos nossos debates. Agora que ele foi escolhido para candidato à câmara, não noticiámos a escolha, o nosso jornalismo é outro. Interessante foi termo-nos lembrado dele para questões da cidade antes do PSD.

Viemos com a Mensagem porque consideramos que o jornalismo precisa também deste tipo de jornalismo. Deste, que não havia e mostramos todos os dias aos leitores. Sofia Vala Rocha mostrou mais uma vez que a política como ela a faz não é necessária.

FERREIRA FERNANDES 

Nasceu em 1948 em Luanda. Jornalista – um ponto é tudo.  


amensagem.pt