A Torre do Tombo guarda bens arquivísticos fundamentais
à história de Portugal.
Os manuscritos mais antigos estão entre eles.
Uma das páginas do manuscrito do Apocalipse de Lorvão que tem uma iluminura.
Atualmente reúne-se mais de 350 bens arquivísticos cuja Herança Documental da Humanidade, o programa da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura quer preservar. Entre estes bens, encontram-se sete manuscritos portugueses, como sendo os mais antigos escritos.
O escritor e jornalista, Alexandre Herculano, no ano de 1853 percorreu os mosteiros portugueses com o intuito de recolher todos os documentos que considerava importantes para a história de Portugal. Em Penacova, no Lorvão, encontrou o Apocalipse de Lorvão, um manuscrito com 66 iluminuras feitas em 1189, pelo monge Egas, para ilustrar o Apocalipse. Existem apenas 22 manuscritos no mundo e apenas este tem iluminuras feitas no mosteiro de Lorvão.
A obra encontra-se na Torre do Tombo, em Lisboa, desde que Alexandre Herculano a levou para lá. De acordo com a Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, este é um documento de extrema importância para a história do país.
Os primeiros manuscritos portugueses
Do início do século XIII reconhecem-se dois textos originais portugueses: a Notícia de Torto e o Testamento de Afonso II. A Notícia de Fiadores é outro documento original que data de 1175.
O testamento de D. Afonso II, datado de 1214, marca a nascença da língua portuguesa. É o primeiro manuscrito da língua escrita, embora só a partir do reinado de D. Diniz, se tenha instituído a língua portuguesa como língua oficial da corte. Em rigor, na época, a língua era o galego antigo ou galaico-português.
O manuscrito do Apocalipse de Lorvão remonta ao século XII.
Possivelmente existem manuscritos mais antigos, embora na sua maioria a data seja imprecisa, mas que já evidenciavam muitas características do que viria a ser a língua românica diferente do latim.
A UNESCO considerou 11 manuscritos, entre os quais nove espanhóis e dois portugueses, os mais bonitos e originais produzidos pela civilização medieval ocidental. Estes são particularmente relevantes como expressão cultural e artística, produzida na Península Ibérica, e com grande disseminação no resto da Europa medieval.
Tanto o manuscrito do Apocalipse de Lorvão, que remonta ao século XII, quanto o Apocalipse de Alcobaça, datado do século XIII, encontra-se sob a guarda da Biblioteca Nacional portuguesa. Ambos constituíram a Memória do Mundo da UNESCO, em outubro de 2015. O programa Memória do Mundo surgiu em 1992, decorrente da tomada de consciência crescente do estado preocupante de conservação do património documental e da precariedade do seu acesso, em diferentes regiões do mundo.
515 Anos depois, manuscrito de Pêro Vaz de Caminha entra na Torre do Tombo
Os registos no programa iniciaram-se em 1995 e nele inserem-se documentos originais como a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789-1791), a 9.ª Sinfonia de Beethoven, o Diário de Anne Frank, e a coleção do Imperador D. Pedro II do Brasil.
Demorou 10 anos até Portugal ver o seu primeiro património cultural inscrito na Memória do Mundo.
Quem tomou esse privilégio foi a Carta de Pêro Vaz de Caminha que, a 22 de abril de 1500, seguia a frota do navegador Pedro Álvares Cabral à descoberta do Brasil.
Entre 24 de abril e 1 de maio de 1500, Pêro Vaz de Caminha escreveu as suas primeiras impressões sobre a terra desconhecida e os seus habitantes. Esse documento seguiu a bordo de uma das naus da armada, em direção a Portugal, para anunciar a boa nova ao rei, D. Manuel I.
A coleção Corpo Cronológico
No ano de 2007 ocorreram mais duas entradas nacionais na Torre do Tombo. Por um lado, o Corpo Cronológico, que reúne mais de 83 mil documentos, pertencendo a maioria aos séculos XV e XVI.
Entre outros manuscritos da coleção, um dos mais antigos é a carta de D. Afonso Henriques a integrar, no couto da Sé de Coimbra, as vilas de Santa Comba e S. João de Areias, datada de 1175.
O segundo registo do ano foi o Tratado de Tordesilhas, do momento mundialmente histórico entre Portugal e Espanha, as duas potências dos mares do século XV.
O acordo assinado pelos reis Fernando II de Aragão e Isabel I de Castela, e pelo rei D. João II de Portugal, em 1494, encontra-se agora também guardado na Torre do Tombo.
Passados quatro anos, mais dois manuscritos integraram a Memória do Mundo. Primeiro, os Relatórios da Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, feitos por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, na sequência da sua viagem em 1922. Estes relatórios encontram-se guardados no Arquivo Histórico da Marinha, em Lisboa.
Em 2011, o comité do programa da UNESCO considerou que os Arquivos dos Dembos, resultante da candidatura conjunta entre o Arquivo Histórico Ultramarino português e o Arquivo Nacional de Angola, deviam entrar na Memória do Mundo.
São mais de 1000 manuscritos de correspondência, datados de finais do século XVII até inícios do século XX, incluindo correspondência que as autoridades africanas trocaram entre si e com o Rei do Congo.
Em 2013, o Roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1499) foi considerado como um testemunho dos momentos mais marcantes que mudaram o curso da história. Guardado na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, no Porto, é a única cópia da época, em pergaminho, sendo que o relatório original se perdeu.
De dois em dois anos são anunciadas as candidaturas aceites ao programa Memória do Mundo da UNESCO.
Em 2017, o Comité da Memória do Mundo voltou a anunciar outros bens mundiais a integrar a lista e, entre eles, encontra-se a coleção Chapas Sínicas, composta por mais de 3600 documentos, datados entre 1693 e 1886.
A guardar documentos originais desde o século XIV
A Torre do Tombo é uma verdadeira fortaleza de memórias. Nos cofres-fortes guardam-se muitos manuscritos que compõem um universo diversificado de património arquivístico. Entre eles, é possível encontrar 'Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, comentados por Manuel Pires de Almeida', uma cópia fiel da capa e portada do livro dos cantos de Luís de Camões e do retrato do Poeta, e o Soneto.
Constam também inúmeras cartas, minutas, recibos, notícias e certidões. A Torre do Tombo é uma das instituições mais antigas de Portugal, inicialmente instalada numa das torres do castelo de Lisboa, provavelmente no reinado de D. Fernando e, seguramente, desde 1378, data da primeira certidão reconhecida.
Guarda documentos originais que "viajam" do século IX aos dias de hoje.
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