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sexta-feira, 12 de março de 2021

Porque é que as lideranças militares e policiais falham tanto?



 






 www.dn.pt 


Pedro Tadeu


Tivemos a morte de comandos em treino em 2013.

Tivemos o caso de agressões e sequestro na esquadra da PSP de Alfragide, em 2015.

Tivemos o roubo de armas em Tancos em 2017.

Tivemos, logo a seguir, a Polícia Judiciária Militar a ficar suspeita da encenação da recuperação dessas armas.

Tivemos em 2019 o Movimento Zero a juntar efetivos da PSP e da GNR no mesmo quadro de reivindicações (muitas delas justíssimas), mas a deixar-se "infetar" por uma linguagem que coloca boa parte do povo, que dizem proteger, no lugar do inimigo que pretendem abater.

Tivemos o caso Manuel Morais: um polícia que denuncia a existência de casos de racismo na PSP e que acaba, em 2019, por ser expulso do sindicato onde era dirigente e, em 2021, vê a Direção Nacional da corporação a suspendê-lo dez dias por ter insultado o líder do Chega, André Ventura.

Tivemos, em 2020, o assassinato de Ihor Homenyuk nas instalações do SEF do aeroporto da Portela.

Tivemos agora um tribunal a anular o despacho que afastava de funções no aeroporto de Lisboa os quatro elementos do SEF suspeitos de envolvimento na morte de Ihor Homenyuk.

Tivemos uma polémica, no final do ano passado, entre a GNR e a Marinha por causa da compra de uma megalancha, que custou 8 milhões e 400 mil euros.
São, como é evidente, casos graves a mais (e estes são apenas os que a memória me traz) com ângulos e causas completamente diferentes e que, analisados separadamente, parecem não ter ligação. Na verdade, têm, pelo menos, um ponto comum: falhas na liderança.

Quem mandava nos Comandos em 2013 (regimento que chegou a ser extinto em 1993, também por causa de mortes durante treinos, mas que regressou em 2002) não se apercebeu que as normas de segurança e acompanhamento médico dos treinos não eram, sistematicamente, cumpridas.

A liderança do Exército deixou degradar as medidas de segurança em Tancos a tal ponto que se tornaram ridiculamente fáceis as condições para a realização do assalto.

A liderança da PJ militar, na investigação a Tancos, deu prioridade à defesa da sua imagem pública e dos seus interesses corporativos - e queimou-se nessa distorção de importâncias.

A liderança do SEF, que entretanto se demitiu, não percebeu que estavam criadas condições na sua instituição para acontecerem facilmente abusos de direitos humanos e, ainda por cima, faz um despacho a suspender de funções os suspeitos da morte do cidadão ucraniano no aeroporto que levaram o tribunal, por ilegalidades várias, a anulá-lo.

Os comandos da GNR e da Marinha, no caso da "megalancha", disputam, de forma ridícula, competências, jurisdições e conspirações sobre quem devia ter a embarcação "de luxo".

Os comandos da GNR e a Direção da PSP não tomam posição pública sobre os excessos do Movimento Zero, assustadas com a raiva dos efetivos, que temem virar-se contra eles e, pior do que isso, há décadas que são cúmplices da degradação salarial e das condições de trabalho, de segurança e credibilização dos seus homens, que vários governos lhes impuseram e que estão na base da cólera nessas instituições.

Ao mesmo tempo, as direções da PSP das últimas duas décadas parecem-me ter sido responsáveis pela predominância de uma cultura policial onde se contemporiza, e até se estimula, o exercício da violência excessiva, em contraste, de resto, com as duas décadas anteriores, quando a PSP ganhou uma reputação de "polícia amiga do cidadão," depois dos anos de abuso de autoridade constante, que o Estado Novo alimentou.

O caso de Manuel Morais põe em causa a capacidade de juízo político de Magina da Silva, o atual diretor nacional da PSP, pois parece ter falhas recorrentes: defendeu polícias acusados de violência excessiva, como o do vídeo da detenção de Cláudia Simões num autocarro; decretou normas de aprumo draconianas e irrazoáveis; fez-se "ao piso" para a PSP "engolir" o SEF; andou às turras com o Exército por causa de um conflito pateta entre agentes e militares num lar em Vila Real infetado com covid-19. Agora, recusa defender um efetivo que poderia dar esperança à opinião pública de que a questão do racismo na polícia pode ser resolvida dentro da própria polícia.

Não bastava a governação irresponsável e a crónica falta de dinheiro: as lideranças das instituições militares e policiais, subservientes aos governos e ineficazes na condução das respetivas casas, têm sido uma calamidade.


Jornalista

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