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quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

ARARAS QUENTINHAS



Guilherme Antunes (in facebook)


ARARAS QUENTINHAS

(Texto de Nazanin Armanian, Licenciada em Ciência Política. Professora de Relações Internacionais. Escritora)




(...) O Fim do Mundo já tem data: será dentro de 11 anos (e alguns meses) se a Humanidade incrédula não segue as suas instruções.
Na missão da nova super-heroína, cuja carreira meteórica a converteu na rival do próprio Trump para receber o Prémio Nobel da Paz (prémio que é um investimento em alguém para que desempenhe um papel no futuro; Donald já é passado), destacam-se duas questões: 1) o fenómeno da “Geração Z”, e 2) os interesses que ela ou Jamie Margolin, sua colega estadunidense, representam.
A Geração Z
Ser jovem, rico e bonito é uma virtude na sociedade capitalista. Na mente de Greta, “os mais velhos”, que são parte do problema do aquecimento global, não podem oferecer soluções. Mas como é que umas crianças que não terminaram a escola e que não são investigadores de nada se atrevem a dar lições ao mundo adulto e menosprezar o conhecimento e a sabedoria (que apenas se alcança com o passar dos anos) de milhões de peritos na luta de classes, do feminismo, da sociologia da pobreza ou do complexo funcionamento do poder? Se ela tivesse ouvido algo sobre a 1ª cientista que falou do “efeito de estufa”, a feminista e mais velha Eunice Foote (1819-1888, EUA), por exemplo, teria feito um discurso algo humilde, além de coerente e lógico.
As “crianças digitais” ou a “Geração Z”, nome dado nos EUA aos nascidos entre 1995 e 2000, e cuja característica é o uso da tecnologia e da Internet, converteram-se em actores sociais por: serem 40% dos consumidores nas potências mundiais e 10% no resto do mundo, estando no centro das políticas de mercado das empresas; b) serem uma geração programada não para pensar mas para consumir e “seguir” alguém, e c) pela influência que exercem sobre os gastos da família, devido ao seu conhecimento digital, que também lhes confere um status de poder.
Ela equivoca-se ao afirmar que a alteração climática é o principal problema da Humanidade: é apenas uma das consequências de um sistema económico-político chamado capitalismo que hoje e agora transformou num inferno a vida de metade dos habitantes da Terra, que sofrem de pobreza, morrem nas guerras de rapina ou nas minas de diamantes e coltán! As sondagens nos EUA mentem quando indicam que a alteração climática é já a principal preocupação dos cidadãos: que um país onde 45 milhões de pessoas vivem no limiar da pobreza, sofrem um profundo racismo contra a população não branca e uma violência social que é única entre os países ocidentais, onde meio milhão das suas mulheres são vítimas de agressão sexual e sequestro, perdem o sono devido ao degelo do Ártico? A sério?
Condenar o consumismo sem o situar no lugar e no tempo é populismo: um estadunidense médio gasta quase 2.000 vezes mais água do que um residente no Senegal.
Thunberg censura aos políticos que a poluição “lhe roubou a infância”, não sabemos como, mas o seu movimento elitista não fala das centenas de milhões de crianças a quem a infância é roubada ao serem exploradas nas oficinas escuras e húmidas, receber em troca apenas um prato de comida por dia; por serem vítima das guerras de rapina e suas consequências mais brutais; serem traficados pela mega indústria da pornografia num capitalismo que transforma tudo, incluindo os fetos e as crianças, numa mercadoria.
As “soluções” da pequena Greta
“Nós já temos todos os factos e soluções - afirma a jovem - e tudo o que temos que fazer é despertar e mudar”.
Os defensores de Greta podem desmontar os argumentos da direita negacionista, mas não são capazes de responder às questões do ecologismo progressista.
As crianças como ela desconhecem que o capitalismo depende do crescimento, e este é alcançado através da redução de despesas, de explorar cada vez mais os seres humanos e a natureza e da destruição de ambos, aumentando os lucros. Tão pouco sabem que a acumulação de capital é o núcleo do sistema que pretendem reformar e que as empresas privadas para crescer e até para existir devem arredar e/ou devorar os seus concorrentes gastando cada vez mais os recursos públicos. Um sistema que feminilizou a pobreza ou que força milhões de pessoas a fugir das suas terras, porque umas empresas ou Estados querem roubar os seus recursos, gera graves desequilíbrios ambientais. É impossível salvar a Terra sem reduzir a pobreza e lutar contra a desigualdade, sem o empoderamento das mulheres, a protecção dos direitos dos animais ou sem impedir que o Sul Global se converta na lixeira tecnológica dos ricos caprichosos, aqueles jovens que trocam de telemóvel como de camisa, sem se interrogar de onde vem a bateria e para onde vai o aparelho que ainda não está obsoleto.
Obviamente, nenhum movimento desta magnitude chamado “Novo Poder” é espontâneo, nem há nada de novo neste outro perigoso movimento de massas.
Quem beneficia?
• Ao “imperialismo climático“: a “Quarta revolução industrial” do complexo industrial procura um New Deal Verde. E procura-o através do Instituto de Governança de Recursos Naturais, que pretende sacar 100.000 milhões de dólares dos cofres públicos de todos os países do mundo para salvar o capitalismo, tingindo-o de verde. E tem muita pressa, daí a “emergência”: pressiona para desregular o sector, obter autorização para explorar ainda mais os recursos naturais e a maior financeirização-privatização da natureza alguma vez realizada, e assim poder atrair investidores com fins especulativos. E estão a apropriar-se de mais terras arborizadas e da água de todos os continentes, produzindo biomassa para energia, destruindo as selvas e a bio-diversidade daqueles espaços. Ganhariam com o endividamento dos países pobres, que se verão forçados a comprar bio-tecnologia verde (viaturas eléctricos, turbinas eólicas, etc.).
• A indústria nuclear: Greta deseja “alinhar a Suécia com o Acordo de Paris”, quando este acordo atribui à energia nuclear o papel de “mitigar a alteração climática” e assim reduzir “em grande escala o CO2”.
• O Instituto Global de Captura e Armazenamento de Carbono (IGCAC), que promove a biotecnologia para lançar “emissões negativas”, operação para a qual consumirá uma enorme quantidade de combustível fóssil. Tem preparados cerca de 3.800 projectos que permitirão à indústria do petróleo, por exemplo, continuar a espalhar carbono pela atmosfera. A energia fóssil é tão lucrativa para os seus empresários que, para a obter, mataram milhões de pessoas, destruíram a vida animal, devastaram florestas, contaminaram águas. Segundo o ambientalista Ernest McKibben “Um barril de petróleo, actualmente de uns 70 dólares, fornece energia equivalente a cerca de 23.000 horas de trabalho humano”. A justiça climática é incompatível com um capitalismo que se baseia na vontade de lucrar e a qualquer preço.
• As mega-fundações de aparência filantrópica, corporações que controlavam os negócios de energia e políticos hipócritas. O 1º ministro do Canadá, Justin Trudeau, um entusiasta da jovem sueca, cujo governo comprou com dinheiro público o gasoduto Trans Mountain por 45.000 milhões de dólares, os governos europeus que continuam vendendo ilegalmente armas aos países em guerra, o Google que continua a investir nas empresas que negam a alteração climática, ou a indústria dos combustíveis fósseis, que dedica apenas 1% dos seus investimentos à energia baixa em carbono, mas deposita 50 milhares de milhões de dólares em novos projectos de exploração de petróleo e gás. O objectivo da MacArthur Fundation (2010) é, por exemplo, “acelerar a transição para a economia circular”. Além de doar 10 milhões de dólares a Climate Nexus, é quem dirigiu, juntamente com outros lobbies do capitalismo verde (Avaaz, 350.org, Extinction Rebellion, etc.) a Popular Climate March de 21 de Setembro de 2014. Outras empresas como Ikea, promotora do “compre, deite fora e volte a comprar”, que converteu as suas lojas em local de passeio familiar, ou Avaaz, a rede que visa mudar mentes e corações em todo o mundo, ou a Johnson & Johnson - que teve de pagar mil milhões de dólares a 22 mulheres pelo cancro dos ovários que os seus produtos causaram, ganham dinheiro e prestígio.
• A “ONGenização” da militância política dos jovens, neutralizando os movimentos ambientalistas autênticos e substituindo a consciência de classe por um “assunto cinzento de massas” alheio à causa comum da Humanidade.
• O complexo militar-industrial, graças à omissão deste movimento que apaga o factor guerra das Marchas Verdes, nem menciona as cerca de 18.000 bombas nucleares que ameaçam a vida no planeta, nem o facto de Donald Trump depois de romper os 2 históricos acordos nucleares com o Irão e a Rússia, não apenas ter sugerido ao Pentágono que aumentasse até 10 vezes o arsenal nuclear, mas ter também sugerido o uso destas bombas contra Irão e Afeganistão.
Essas pessoas pretendem mudar tudo, para que tudo continue na mesma: Malala Yousafzai, a garota paquistanesa, ganhou o Prémio Nobel da Paz em 2014, depois ser atingida por vários disparos dos Taliban (grupo anti-comunista armado pela CIA) quando tinha 14 anos de idade por defender a alfabetização das meninas do seu país, o Paquistão. Hoje, o seu país continua a ser um dos piores do mundo nessa área.
Como se salva o planeta, realmente?
Quando Marx chamou “ruptura metabólica” à desconexão entre a Humanidade e o resto da natureza gerada pela produção capitalista, e a “ruptura irreparável no processo interdependente do metabolismo social”, estava a apontar que a destruição da natureza é inerente ao capitalismo.
Apenas um sistema de produção apontado a satisfazer as necessidades humanas, sempre em conexão com os direitos do resto da natureza e não com os lucros de uns poucos, pode impedir o apocalipse. E isso consegue-se com a propriedade pública sobre a terra, a indústria, os grandes bancos, corporações e serviços, e um controlo democrático sobre o poder que, em vez de promover viaturas eléctricas privadas proporcione, por exemplo, o transporte público gratuito, o uso da energia solar e eólica, entre outras medidas.
A justiça climática ou é anti-capitalista ou não é justiça


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