Depois de ter abordado o caso da morte de Luís Giovani Rodrigues na rubrica Crónica Criminal, Suzana Garcia é arrasada por figuras públicas.
O homicídio de Luís Giovani Rodrigues, jovem cabo-verdiano espancado à porta de uma discoteca, em Bragança, e que acabou por morrer dez dias depois da agressão, está a causar celeuma na opinião pública. O assunto mereceu destaque na Crónica Criminal da emissão de segunda-feira, dia 6 de janeiro, do programa da TVI Você na TV!. A analisar o caso estava a advogada Suzana Garcia, cujos comentários foram alvo, desde então, de muita repercussão nas redes sociais.
Famosos ou anónimos, internautas acusam a comentadora do programa apresentado por Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes de ser racista por causa das declarações proferidas naquele momento, que se seguiu à discussão de um outro caso de homicídio, desta vez do filho de um antigo inspetor da PJ, de origem caucasiana.
«Quando nós exigimos um tratamento igual a todos os cidadãos de Portugal, não podemos, depois, querer tratamentos especiais e preferenciais. Ou seja, se eu exijo que os cidadãos que têm origens noutros países tenham os mesmos direitos e os mesmos deveres que os portugueses têm, eu não posso, depois, exigir um tratamento muito especialzinho para quando um deles sofre um crime hediondo como este», começou por afirmar Suzana Garcia.
Fazendo uma alusão entre os dois casos, continuou: «Não temos, enquanto cidadãos, de pedir desculpas a uns se não pedirmos a outros. Ou pedimos a todos, ou então não pedimos a uns em especial só porque são cabo-verdianos, ou só porque são chilenos, ou só porque são o raio… que seja. Isto é um reforço inversamente da discriminação.»
Goucha interveio, trazendo ao debate uma questão levantada por muitos que se revoltaram com a (falta de) exposição mediática dada ao caso em que «um jovem preto» foi morto por «brancos».
A advogada não concorda. «Primeiro, falou-se. Não se falou foi histericamente, como esta gentalha queria que se falasse. Segundo, chamo a atenção para o facto de as festividades [Natal e Ano Novo] terem estado a acontecer nesse exato momento, não quando o episódio aconteceu mas quando tivemos notícia do facto», enumerou.
Voltando a comparar este homicídio ao homicídio anteriormente discutido no matutino da TVI, Suzana Garcia afirmou ainda: «Quando um branco foi morto por pretos não suscitámos aqui nenhum incidente racista, nem dissemos que os emigrantes que vêm para aqui vêm agora fazer isto ou aquilo. Não dissemos nada. Da mesma forma, nada tínhamos de dizer só porque agora a vítima foi um preto. É aqui que quero chegar. Quando exigimos a igualdade, temos de exigir a igualdade plenamente.»
Criticou também figuras com exposição mediática, nomeadamente políticos, que consideram este um crime com conotação racial. Joacine Katar Moreira, a única deputada do partido Livre, foi uma delas. «Não podemos, depois, instrumentalizar e fazer uma parte de vitimazinhas e outra de lobos maus», disse.
Por isso, Suzana Garcia considerou «uma tristeza que se queira colher dividendos políticos com uma tragédia destas e com uma situação que não existe nacionalmente». «Nós temos incidentes racistas em Portugal como o mundo inteiro tem, mas não somos um povo racista», defendeu, dando como exemplo a existência de «deputadas vindas da Guiné», o facto de «a nossa ministra da Justiça ser negra» e de «o nosso primeiro-ministro não ser branco».
«Isso diz o quê? Isso diz que nós somos um povo integracionista. Há mais algum primeiro-ministro negro [ou] com ascendência indiana na Europa? Por favor, ganhem votos com meritocracia», pediu, indignada.
«Que Deus te perdoe e te dê vergonha na cara»
Depois desta conversa, as afirmações de Suzana Garcia tornaram-se virais e foram várias as figuras públicas que se revoltaram contra a advogada.
O cantor Dino D'Santiago foi o primeiro a reagir às afirmações de Suzana Garcia, mostrando-se indignado pelo facto de ter sido utilizada a palavra «gentalha».
Seguiu-se Carolina Deslandes que fez uma música, dirigida à advogada, e a todos aqueles que defenderam a sua posição. Os versos foram partilhados esta terça-feira, dia 7 de janeiro, nas redes sociais e tornou-se viral.
«O Dino diz que somos "Gente de Batalha". Lá na televisão, chamaram-nos "Gentalha". Que Deus te perdoe e te dê vergonha na cara. Se fosse o teu filho, espancado até morrer? Se fosse o teu filho, não ias querer saber? Se fosse teu filho, não o querias no jornal? Mas não é teu filho, a ti dá-te igual», afirmou Carolina.
Veja aqui o vídeo partilhado por Carolina Deslandes
«A palavra respeito não existe no seu dicionário!»
O futebolista Rúben Semedo também reagiu à polémica que se instalou nas redes sociais.
«Suzana Garcia, consegue me explicar porque caracteriza os cabo-verdianos de “gentalha”?? Uma pessoa com as suas faculdades literárias deveria ter um pouco mais de ética e respeito, mas também não a recrimino porque é do meu entendimento que a palavra respeito não existe no seu dicionário! Aguarde a sua resposta e “tente” pelo menos respeitar o luto de quem perdeu um ente querido», lê-se numa publicação que fez no Instagram.
«Normalizar um crime desta natureza, é guerra!»
Conan Osíris mostrou a sua indignação através das stories do Instagram.
«Olá, TVI. Já nem peço para pedirem desculpa por, desde que a Cristina saiu, levarem todo o tipo de m**** nazi ao programa. Mas desta vez, é guerra! Normalizar um crime desta natureza, é guerra! O modo como puseram a m**** do Natal e do Ano Novo acima dum linchamento, é guerra!», começou por escrever.
«Não se esqueçam do que andam a fazer e da gota final que fizeram agora! Quando convidarem artistas de kizomba ou de qualquer outra arte relacionada com Cabo Verde para por nos vossos programas de velhos, não se esqueçam mesmo!», terminou.
«Não está a ser racista?» A resposta de Suzana Garcia
Crente de que o crime que ceifou a vida de Luís Giovani Rodrigues não teve motivação racista, Suzana Garcia criticou ainda as declarações de Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo e ex-assessor do Bloco de Esquerda.
Questionada por Goucha se este era o seu «ódio de estimação», Suzana Garcia negou e disse: «Não tenho paciência para parasitas da sociedade que vivem estigmatizando questões que, na realidade, não existem. No meu ponto de vista, o senhor Mamadou Ba não tem nenhuma utilidade social para Portugal. Pelo contrário, tem uma existência perniciosa para todos nós, portugueses. Ainda não vi qual é a utilidade dele.»
«Não está a ser racista?», provocou o apresentador da TVI. A resposta pronta não demorou. «Porquê?! Mas por alma de quem? Se ele fosse uma pessoa útil e se eu achasse que ele fizesse um bom trabalho, eu reconheceria», justificou, acrescentando: «Eu, por exemplo, passo a vida a defender a ministra da Justiça. E ainda por cima é de esquerda… E eu não o sou. […] E garanto-lhe que ao defendê-la até não granjeio grandes simpatias, mas paciência. Eu acho que, de facto, o percurso dela é extraordinário e acho que, de facto, ela é uma pessoa competente.»
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