www.jn.pt
Salários cortados após recusa de sair 20 minutos mais tarde. Já houve protestos, perguntas ao Governo e moção na assembleia de Guimarães.
O maior fabricante de calçado de capitais nacionais, a Kyaia, está em guerra com os trabalhadores por causa de 20 minutos de trabalho por dia.
As posições estão tão extremadas que já não há diálogo e sucedem-se os apelos à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) para que intervenha no conflito laboral que já originou dois protestos, uma moção da Assembleia Municipal de Guimarães e várias perguntas ao Governo por via da Assembleia da República.
O conflito laboral entre a administração da Kyaia, liderada por Fortunato Frederico, e os seus trabalhadores, começou em finais de setembro quando a empresa decidiu aplicar um novo horário que inclui duas pausas de 10 minutos, uma de manhã e outra à tarde.
Com isso, obrigou os trabalhadores a saírem 20 minutos mais tarde para compensarem o tempo de pausa.
A decisão entrou em vigor em outubro, mas "os trabalhadores decidiram não parar nas pausas determinadas pela empresa, apesar de as máquinas lhes serem desligadas", explica a deputada do partido
"Os Verdes", Mariana Silva, em pergunta enviada ao Ministério do Trabalho. Perante a recusa dos operários em saírem mais tarde, em outubro e novembro a empresa aplicou um corte de "cerca de 4% do salário mensal destes trabalhadores, que continuam a praticar o seu horário de oito horas diárias", relata o mesmo partido.
O Sindicato do Calçado já denunciou que a redução do salário é "abusiva e ilegal" e avançou com um protesto em novembro, em Guimarães, onde criticou "as violações ao Contrato Coletivo de Trabalho e Lei Laboral". No início de dezembro, o protesto repetiu-se em Paredes de Coura, onde o grupo também tem uma fábrica. Pelo meio, a Assembleia Municipal de Guimarães aprovou, por unanimidade, uma moção onde manifesta solidariedade com os trabalhadores e apela à empresa para que retome a via do diálogo.
Entretanto, o BE e o PCP também questionaram o Ministério do Trabalho sobre o problema.
Os deputados bloquistas José Maria Cardoso e Alexandra Vieira falam em "irregularidades praticadas" pela administração da Kyaia. Já a deputada comunista Diana Ferreira considera que a atitude de alargar o horário de trabalho é "prepotente e ilegal". Também o PSD perguntou ao Governo quais as conclusões da inspeção feita pela ACT de Viana do Castelo à fábrica de Paredes de Coura, dado que a situação se mantém inalterada.
Contactado pelo JN, Fortunato Frederico recusa comentar o diferendo, mas promete uma reação para breve: "Não faço declarações sobre isso, dentro de dias sairá um comunicado".
O grupo Kyaia detém cinco fábricas em Guimarães e Paredes de Coura e é responsável pela marca Fly London.
Fortunato Oliveira Frederico
Idade: 76 anos
Cargo: Dono do grupo Kyaia
Criou a Kyaia em 1984 e adquiriu a marca Fly London 10 anos depois.
Para além de vender sapatos para todo o Mundo, foi o rosto da maior associação nacional do setor durante 18 anos.
Criado por uma freira, Fortunato entrou para o seminário aos 10 anos e saiu aos 14 para ser varredor da fábrica Campeão Português.
A partir daí, subiu a pulso e criou um império do calçado.
De Guimarães, este empresário "self-made man" ainda é dono de empreendimentos turísticos e criou a Fundação Oliveira Frederico, que apoia a investigação da doença bipolar.
O ténue ensaio na vida política foi pela mão do PCP, partido pelo qual foi candidato por Braga nas primeiras legislativas.
Sem comentários:
Enviar um comentário