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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Ex-líder do Chega do Porto pede desfiliação imediata do partido. "Lei da rolha é intolerável"


 

Jorge Pires pediu o cancelamento da militância 

do Chega com efeitos imediatos. Requerimento de 

desfiliação aconteceu no dia em que André Ventura proibiu 

referências críticas ao partido e o agora dissidente soube que 

era visado num processo disciplinar "a pedido" do vice 

Diogo Pacheco Amorim



Oex-líder da distrital do Porto enviou à direção do Chega um pedido de desvinculação, “com efeitos imediatos”, por não concordar nem se identificar com o rumo do partido nos últimos meses. Na missiva, enviada sexta-feira, Jorge Pires refere que não procede à entrega de cartão de militante, “pois o mesmo, embora pago” nunca lhe foi entregue e agradece “resposta rápida ao seu pedido”.

A gota de água que fez transbordar a paciência do militante 915, que aderiu ao Chega há um ano e se demitiu da liderança da distrital portuense em abril após uma moção de censura da comissão política local, foi a proibição de André Ventura a todas as referências negativas na imprensa ou nas redes sociais “que causem danos à imagem” do partido e saber que era um dos visados na purga “a quem ousa discordar da direção”.

“Num país democrático, a tentativa de unanimismo de opinião e a perseguição a quem se atreve a criticar o rumo negativo que o partido está a tomar é intolerável”, afirma o até agora apoiante de Ventura, que adianta que soube por fonte oficiosa ser um dos alvos dos“ processos sancionatórios”. Embora seja contra “o insulto gratuito de militantes nas redes socais ou a guerrilha interna movida pela sede de palco e lugares”, o antigo presidente da distrital portuense defende que nada é pior para a imagem do Chega do que “a imposição de uma lei da rolha que visa punições, como a suspensão ou até a expulsão, por delito de opinião”.

“Eu aderi ao Chega por acreditar em André Ventura e no programa de um partido de direita, conservador e que se proponha resolver os problemas reais dos portugueses, sobretudo os mais esquecidos, que vivem no interior do país e se debatem todos os anos com falta de médicos, de professores, de emprego, e são apenas lembrados nas campanhas eleitorais”, diz Jorge Pires, confessando-se desiludido por ver que, afinal, o partido, “em vez de abraçar causas, está mais preocupado com a imagem externa, à semelhança dos partidos tradicionais”.

O militante lamenta que André Ventura “dê mais ouvidos a quem faz fretes e não a quem faz críticas construtivas internas”, nos órgãos próprios do partido. “Nunca fui para as redes sociais fazer insultos gratuitos ou denegrir militantes, mas não admito que haja represálias dirigidas a quem critica, em Conselho ou Convenção Nacional, más práticas dentro do partido, como a alteração de mesas de voto na véspera das últimas eleições da Distrital do Porto, ou que o Conselho Jurisdicional não se digne sequer responder à impugnação de um ato eleitoral”.

Para Jorge Pires, “é um enorme orgulho” que o processo que o partido se preparava para lhe mover “fosse a pedido de Diogo Pacheco Amorim”. “Como foi incapaz de me responder no local próprio às críticas que lhe fiz, o que se prova que não tinha argumentos para me rebater, manobrou nos bastidores para que me fosse instaurado uma ação disciplinar, que tudo leva a crer fosse para me expulsar por dizer o que penso”, acrescenta.

Na última Convenção do partido, em setembro, Jorge Pires criticou o facto de Pacheco Amorim ser membro da Fundação De Paço, criada pelo empresário luso-americano Caeser DePaço com sede em Cascais, quando o partido já se manifestou ser contra fundações.

“Como é possível querer que o Chega seja um partido credível quando apregoa uma coisa e faz outra?”, questiona Jorge Pires, que lembra as críticas de“ promiscuidade entre a política e futebol” de Ventura a António Costa por integrar a Comissão de Honra de Luís Filipe Vieira, “mas permite que o seu vice faça parte de uma Fundação que detém a SAD de um clube de futebol (Canelas)”.

“Se calhar estas derivas e tiques autoritários são dores de crescimento de um partido novo que se quer impor no panorama nacional, após ter conseguido viabilizar o Governo dos Açores, mas eu prefiro sair a pactuar com injustiças e perseguições”, alega o presidente da Associação de Pediatria Oncológica do Hospital de São João.

A diretiva de André Ventura para silenciar os críticos internos poderá, segundo Jorge Pires, levar ao abandono de mais militantes nos próximos dias. "Sei que há mais apoiantes de primeira hora do partido que não se revêm nesta forma de fazer política", salienta o dissidente. Já este sábado, o Chega suspendeu Bento Marçal Mestre, presidente da Mesa de Setúbal, avançou o Observador.




observador.pt


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