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quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

VICENTE GUERREIRO - POR MORTE DO MARIDO


 

Vicente Guerreiro in facebook


Esta estória é de índole burlesca,a qual tem várias interpretações e que se insere com variados ponto de vista, consoante a maneira de ver de cada pessoa.
Depois de descrever a história, gostaria que os amigos/as, dessem a vossa opinião, sobre a situação que abaixo publico, no texto.
POR MORTE DO MARIDO
Conta-se que certa mulher do Rosmaninhal era casada com um homem muito doente, que estava sempre acamado, a gemer e a queixar-se, pedindo mais assistência à mulher do que dando-lha.
Assim, pelo menos, dizia a gente da terra.
Todavia, ter marido doente não impedia a mulher, que, desde solteira, era muito dada a festas e a bailes, de ir a todas as romarias, feiras e festanças que se realizassem no concelho ou mesmo do outro lado da raia.
De véspera, a mulher marcava a ida aos festejos ou aos bailes, comprometendo-se com as companhias ou pares, a quem não gostava de faltar.
Claro que o marido ficava deitado inactivo a carpir as suas mágoas sem remédio, já que tendo consentido, uma vez nas andanças da mulher, não podia voltar mais com a palavra atrás. E isto passava-se, diz quem conta a estória, já no principio deste século XX, mas ainda com a monarquia.
Pois bem, um sábado à noite, o doente teve uma crise e morreu. Nada podia ter sido mais desagradável para a mulher, não pela morte do marido, mas porque estava, desde o dia anterior, comprometida com uma festa seguida de baile, que se realizava numa povoação espanhola do outro lado da fronteira.
Claro que a mulher não quis deixar de ir, para mais tendo, embora oralmente, firmado o compromisso de estar presente. Por isso, procurou uma vizinha, que era muito recadeira, e propôs-lhe, em troca de um alqueire de centeio, que ficasse ela a chorar o seu próprio marido, como se fosse a viúva, enquanto ia cumprir com a palavra dada.
A vizinha aceitou. E, durante toda a noite, ouviu-se carpir e ladainhar na casa do defunto.
Era, pois, a carpideira improvisada quem, à roda do morto, que estava estendido num esteirão, gemia esta cantilena: "Aqui ando eu/a chorar o alheio/por um alqueire de centeio/ai, meu próprio marido morto/sirva-te isto de conforto!"
Ora os contadores desta pequena estória do Rosmaninhal - por alguns considerada por "desrespeitante" e tida, por outros, como "um verdadeiro aviso" a quem casa com um homem já a caminho da cova - acrescentam que a vida só é boa quando pode ser uma festa. E de tal modo que põem a viúva, pelo seu lado, a acompanhar as castanholas estas suas palavras: "Um alqueire de centeio/cheio e recheio/tanto me faz/mas bem hajam as festas/Mais quem-nas faz!"
F I M

Almada, 9 de Dezembro de 2020
Vicente Quintinha Guerreiro.


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