O humorista defende que todos os comentadores devem colocar o lugar à disposição, depois das declarações do ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, sobre como tem "lutado sozinho pelos direitos humanos" após o assassinato de Ihor Homeniúk.
Ihor Homeniúk aterrou em Lisboa no dia 10 de março, num voo com origem em Istambul, na Turquia. Foi-lhe recusada entrada no território nacional depois de, alegadamente, ter informado os inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) que pretendia trabalhar no país, sem apresentar documentação válida para tal.
Terá recebido ordem de embarque num voo de regresso a Istambul, mas terá recusado embarcar. Foi então brutalmente espancado por três inspetores do SEF, tendo sido depois deixado numa sala durante 15 horas, "manietado com fita-cola e algemas, com as calças pelo joelho e a cheirar a urina".
A 12 de março, quando os inspetores do SEF regressaram à sala, Ihor estava morto.
Apesar das tentativas de ocultação do homicídio, a autópsia levada a cabo pelo Instituto de Medicina Legal apontou como evidentes os sinais de homicídio, revelando uma morte lenta e agonizante em resultado das violentas agressões, tendo sido por isso acionada a Polícia Judiciária.
A investigação levou o Ministério Público (MP) a acusar três inspetores do SEF por homicídio qualificado e a Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) a responsabilizar mais nove inspetores por "ação e omissão".
O julgamento terá início no dia 20 de janeiro de 2021.
O caso levou ao encerramento e remodelação do Espaço Equiparado a Centro de Instalação Temporária (EECIT) do SEF no aeroporto de Lisboa e à implementação de um novo regulamento, onde se inclui a instalação de "botões de pânico" em todas as salas.
No regulamento pode ler-se que "por forma à salvaguarda do cidadão instalado, os quartos individuais encontram-se apetrechados com botão de pânico que sempre que ativado, obriga ao seu registo em relatório, com indicação de hora e motivo que determinou a sua ativação e comunicação da mesma ao responsável pelo EECIT", mas, estando o botão de pânico ligado à portaria do EECIT, e esta sob controlo do SEF, não adiantará muito em caso de abuso perpetrado por membros do SEF.
Nove meses depois, a diretora do SEF, Cristina Gatões, apresentou a demissão, e a família do cidadão assassinado garante não ter recebido qualquer contacto das autoridades portuguesas, tento ainda tido de suportar os custos da transladação dos restos mortais de Ihor Homeniúk.
E foi por tudo isto que Ricardo Araújo Pereira (RAP) quis ser "ministro do Botão", no Governo Sombra desta semana.
Com a ironia habitual, RAP explicou a função do botão de pânico: "serve para que um cidadão que esteja a ser espancado possa dizer: 'Olhe, se o cavalheiro fizer o favor de parar de me espancar durante um minuto, só para eu carregar no botão para o denunciar...' - faz sentido, quando as autoridades nos estão a espancar, não há nada como chamar as autoridades".
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