Os encontros entre o meu Trisavô, e o Zé do Telhado, no século IXX. "
Contado pelo tio Emidio Cecilio. Este texto foi me deixado por ele.
Contado pelo tio Emidio Cecilio. Este texto foi me deixado por ele.
NOS MEUS ANTEPASSADOS HAVIA UMA CONSAGRAÇÃO PROFISSIONAL DE ALMOCREVE QUE JÁ VINHA DE HÁ QUASE DUZENTOS ANOS E TERMINOU COM O MEU AVÔ MATERNO NOS PRINCÍPIOS DO SEGUNDO QUARTEL DO SÉCULO PASSADO.
TINHAM UMA INDUSTRIA DE TRANSPORTES COMPOSTA POR DUAS GALERAS E TRÊS CARROÇAS QUE FAZIAM AS CARREIRAS PARA AVEIRO PARA ONDE LEVAVAM VÁRIOS PRODUTOS HORTICULAS E TRAZIAM PEIXE QUE DEPOIS VENDIAM EM MERCADOS DO INTERIOR, EM PORTUGAL E ESPANHA UMA VEZ QUE FAZIAM O CORREIO NO CAMINHO DE VILAR FORMOSO SALAMANCA, DEIXANDO PELAS LOCALIDADES O QUE LEVAVAM EM SEPARADO PARA AS LOCALIDADES POR ONDE PASSAVAM AS VIATURAS.EU ANDAVA NA ESCOLA PRIMÁRIA E ESTAVA SEMPRE ANSIOSO POR TER FÉRIAS PARA IR COM O MEU AVÔ QUE DURANTE AS VIAGENS ME CONTAVA IMENSAS HISTÓRIAS ENQUANTO EU NÃO ADORMECIA.
DAS VÁRIAS HISTÓRIAS HAVIA UMA PASSADA COM O PAI DO MEU AVÔ, PORTANTO MEU BISAVÔ, E O ZÉ DO TELHADO.
ESTE PASSOU A SER O MEU HERÓI: NOTABILIZOU-SE EM COMBATE, FOI PROMOVIDO A SARGENTO POR DISTINÇÃO E ERA CONDECORADA COM A MAIS ALTA CONDECORAÇÃO MILITAR DO TEMPO.
ORA A EMPRESA DO MEU BISAVÔ TRAZIA NORMALMENTE QUATRO VIATURAS NA ESTRADA, DUAS GALERAS E DUAS CARROÇAS.
ACONTECIA ALGUMAS VEZES QUE O BANDO DO ZÉ DO TELHADO ENCONTRAVA-SE COM OS TRANSPORTES DO MEU BISAVÔ E OBRIGAVA, ÀS VEZES, OS CONDUTORES DAS MESMAS A LEVAREM O PRODUTO DOS ROUBOS PARA AS LOCALIDADES QUE ATRASAVAM GRANDEMENTE AS VIAGENS E CAUSAVAM GRANDE TRANSTORNO UMA VEZ QUE TINHAM QUE ABASTECER OS CLIENTES A TEMPO E HORAS E ASSIM NÃO O PODIAM FAZER.
ÀS VEZES CHEGAVAM A ATRASAR UM DIA E CAUSAVA GRANDES PREJUÍZOS. AS VIATURAS ASSIM NÃO PODIAM ESTAR NAS FEIRAS E NOS LOCAIS DE VENDA DOS PRODUTOS A TEMPO E HORAS, ESPECIALMENTE O PEIXE QUE ACABA POR SE ESTRAGAR.
TAL SITUAÇÃO LEVOU O MEU BISAVÔ A PROCURAR ENCONTRAR-SE COM O ZÉ DO TELHADO O QUE CONSEGUIU POR INTERMÉDIO DE UM PADRE SEU AMIGO E DO ZÉ DO TELHADO.
UMA VEZ CHEGADOS À FALA UM COM O OUTRO O MEU BISAVÔ PÔS-LHE O ASSUNTO E PÔ-LO AO CORRENTE DOS INCONVENIENTES E PREJUÍZOS QUE TINHA COM AQUELA SITUAÇÃO.
O ZÉ DO TELHADO FICOU CONSTRANGIDO E INDIGNADO COM OS SEUS HOMENS POR COMETEREM TAIS ABUSOS.
ESTE PERGUNTOU AO MEU BISAVÔ QUANTAS VIATURAS TRAZIA NA ESTRADA, QUE RESPONDEU: - NORMALMENTE QUATRO.
- O ZÉ DO TELHADO DISSE-LHE: - ENTÃO COMO FAZ CARREIRAS PARA A ESPANHA VAI-ME TRAZER QUATRO NAVALHAS IGUAIS A ESTA (ERAM NAVALHAS DE PONTA E MOLA COM CERCA DE QUINZE CENTIMETROS DE LAMINA), DEIXA-AS AQUI AO SR. PADRE PARA EU GRAVAR O MEU NOME NO CABO, ENTREGA UMA A CADA CONDUTOR DAS VIATURAS E ESTE AO SER ABORDADO PELOS MEUS HOMENS MOSTRA-LHE A NAVALHA COM A MINHA ASSINATURA E ESTA SERÁ SEMPRE CARTÃO LIVRE-TRÂNSITO.
E PODE ESTAR CERTO QUE NÃO MAIS SERÁ INCOMODADO.
ISTO BASTOU PARA O MEU AVÔ CONSIDERAR ESTE HOMEM UMA PESSOA DE BEM E EU SEGUI A MESMA OPINIÃO.
EM 1936 FOI A PRIMEIRA VEZ QUE FUI A ANGOLA E PROCUREI SABER ONDE ESTAVA SEPULTADO O MEU HERÓI QUE TINHA IMAGINADO EM CRIANÇA. FUI AOS SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS QUE ME INFORMARAM ESTAR SEPULTADO A CEM QUILÓMETROS DE MALANGE PARA O INTERIOR, LOGO A SEISCENTOS QUILÓMETROS DO LITORAL.
CONVIDEI ALGUNS COLEGAS MEUS QUE SE PRONTIFICARAM A IR COMIGO.
IAMOS DE COMBOIO DE LUANDA MALANGE, FALTAVA AGORA O TRANSPORTE PARA OS ÚLTIMOS CEM QUILÓMETROS. ESTAVA NO MEU NAVIO O COMANDANTE SOUSA MENDES QUE ERA MEU AMIGO E CONHECIA BEM O GOVERNADOR DE MALANGE, A QUEM ESCREVEU UMA CARTA EM QUE LHE PEDIA PARA NOS ARRANJAR UM TRANSPORTE PARA PODERMOS IR ATÉ PERTO DA BAIXA DO CASSAGE ONDE ESTAVA A SEPULTURA DO É DO TELHADO.
REALMENTE O GOVERNADOR DE MALANGE PÔS À NOSSA DISPOSIÇÃO DUAS CARRINHAS E UM CHEFE DE POSTO PARA NOS ACOMPANHAR:
ASSIM ACONTECEU LÁ FOMOS ENCONTRAR UM MAUSOLÉU EMBORA UM POUCO TOSCO MAS MUITO LIMPINHO, COM FLORES PLANTADAS EM VOLTA E COBERTO COM UM TELHADO DE TELHAS.
UM PRETO QUE JÁ ERA MUITO IDOSO É QUE TRATAVA DA SEPULTURA, PERGUNTEI-LHE QUE LHE PAGAVA E ESTE RESPONDEU-ME: - O BRANCO ZÉ PAGOU TUDO ANTES DE MORRER, EU NÃO CONHECI, MAS O MEU PAI QUE JÁ MORREU HÁ MUITO TEMPO PEDIU-NOS QUE TRATASSE-MOS BEM DESTA CAMPA.
TODA A MINHA FAMÍLIA ESTÁ BEM GRAÇAS AO PATRÃO ZÉ, A SEGUIR A MIM É O MEU FILHO QUE FICA A TOMAR CONTA E DEPOIS SERÃO OUTRAS PESSOAS DA FAMÍLIA. O PATRÃO ZÉ FOI O NOSSO PAI, ERA MUITO BOA PESSOA E MUITO NOSSO AMIGO.
Então não era mais digno este homem ir para o panteão do que muitos dos que lá estão?
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