Enquanto o mundo gira, mulheres de diferentes culturas encaram o desenrolar das horas de maneiras distintas e se encaixam nas engrenagens da vida com as ferramentas que têm. São tantas perspectivas, tantos recortes, tantas composições. Seja no Brasil, na Islândia, no Reino Unido, no Butão, em Angola, no Iraque ou na Polinésia. Julgamentos não cabem. Muito menos olhares atravessados. É tudo tão singular. Conectado ao contexto e às tradições. Como vivem as mulheres nos quatro cantos desse mundo?
Você sabia que Ruanda é o país com o maior número de mulheres na política? E que está entre os dez países do mundo em relação a igualdade de gêneros? É que passou por grandes mudanças sociais depois do genocídio de 1994 quando muitos homens foram mortos e as mulheres tiveram que assumir a lacuna deixada. Mulheres no poder mostram que têm atitudes sensíveis e positivas.
Curioso também é saber que no Tahiti quando uma família têm apenas filhos homens, a alma feminina faz falta e um deles é escolhido para ser criado desde cedo como mulher. Uma condição aceita pela cultura local. Esses homens são classificados em três grupo na fase adulta, conforme se expressam. Os mahus, são homens com comportamento feminino que optam por casar com mulher e ter filhos. Os peteas, são homosexuais. E, os reres fazem cirurgia para mudança de sexo. É muito interessante perceber como cada cultura têm suas peculiaridades. A delicadeza feminina é muito valorizada nas ilhas do oceano Pacífico.
Lendo a postagem coletiva #nossoolharcompartilhado proposta por Ana Paula Lessa, brasileira que vive atualmente na Califórnia, me deparei com o depoimento de mulheres que moram em diversos países e falam sobre igualdade, maternidade, perspectivas de trabalho, liberdade, violência doméstica, responsabilidade, respeito...
Na Islândia, homens e mulheres também têm direitos iguais garantidos por lei, assim como licença maternidade e paternidade compartilhada e paga. A primeira mulher do mundo a ser eleita por voto direto como Chefe de Estado foi uma islandesa. As mulheres são valorizadas nos altos escalões das empresas. Como diz Erika Carneiro “ser mulher na Islândia é fazer greve em 1975 e chamar atenção para o fato de que mesmo as donas de casa têm direitos iguais aos dos homens”. Um país que não tem exército permanente e que ensina muito sobre respeito humano pro mundo.
A Alemanha é outro país que valoriza o papel da mulher e preza por uma sociedade igualitária em termos de gênero, tanto que a chanceler Angela Merkel é considerada uma das mulheres mais influentes e poderosas do mundo. Ainda assim, a política alemã é dominada por homens e os salários das mulheres continuam inferiores em 22% em relação ao sexo masculino, como cita Maria Anita Papa, mesmo que muitas delas assumam sozinhas o sustento da família. Em relação à maternidade, as mulheres conquistaram licença-maternidade e bolsa-maternidade, além do direito de fazer aborto em situações especiais e participar de aconselhamento psicológico. Simpatizo demais com a Alemanha até porque minha avó veio de lá fugindo da guerra e sempre se mostrou uma mulher de muita fibra.
A Índia apesar do sistema de castas ainda muito presente e de parecer um país machista, evoluiu bastante. Tem mulheres empoderadas seja na política, em profissões liberais ou na vida empresarial, como diz a brasileira Ana Lucia que mora no país. Ainda assim, vale lembrar que é um dos países mais perigosos do mundo em relação a violência sexual. Viajar acompanhada é a melhor opção para uma mulher na Índia.
Índia.
Se no século XII havia mulheres imperatrizes no Japão com alto status, hoje não é mais assim. As mulheres passaram a ser designadas ao serviço de casa e ao cuidado com os filhos, dando apoio aos maridos, para que trabalhem sem preocupação para garantir sozinhos o sustento da família. No entanto, as mulheres não são submissas e desprovidas de identidade, como conta Chris Takeuchi. Assim, começam a reivindicar espaço no mercado de trabalho e a dividir as tarefas domésticas com os homens.
A força, a superação e a resiliência estão estampadas no rosto das mulheres de Angola, como conta Mona Lage. Todos os dias, as famosas “zungueiras” se arriscam pelas estradas, entre os carros, com os filhos pendurados nas costas, debaixo do sol forte para ajudar no sustento da família. Uma sociedade regida pelo patriarcado e onde as marcas recentes da Guerra Civil ainda estão no ar. Um país que partiu meu coração com a dificuldade da maioria das mulheres.
Angola.
Já, a Arábia Saudita, berço do islã e um dos principais produtores de petróleo do mundo, se mostra velada aos olhos do mundo por não ser um país de fronteiras muito flexíveis (o visto para turistas passou a ser liberado apenas em 2019) e por impor regras duras ditadas historicamente pelos homens. A poligamia ainda é uma tradição. Um homem pode se casar com até quatro mulheres, caso tenha condições financeiras de arcar com as despesas de todas elas. Os direitos das mulheres são muito limitados. Há um abismo de desigualdade de gêneros. Até recentemente, a polícia religiosa repreendia mulheres que não estivessem cobertas adequadamente dos pés à cabeça. Mesmo assim, Gabriela Lirio, brasileira que mora no país há 5 anos, diz que as mulheres, de modo geral, vivem felizes, têm certos privilégios, se sentem seguras e vem conseguindo um pouco mais de liberdade, como a possibilidade de dirigir carro e incentivo para ingressar no mercado de trabalho. Há um caminho longo pela frente.
Enquanto isso nos Emirados Árabes, que também é um país muçulmano do Oriente Médio, as mulheres vivem uma realidade bem mais liberal dentro dos preceitos da cultura. Segundo conta Mariana Bó, brasileira que foi para Dubai em busca de uma vida mais segura, há 4 mulheres pilotando caças no país e 30 treinadas nas forças de seguranças especiais. Alem disso, 43% dos investimentos na Bolsa de Valores de Dubai são feitos por mulheres e 50% dos cientistas dos EAU são mulheres. Pontos para elas. Belas conquistas no mundo do islã.
Emirados Árabes.
O Butão foi uma bela surpresa em relação ao poder das mulheres. Foi o único país do mundo em que vi um resquício de poliandria, ou seja, uma mulher casada com vários homens. Não é interessante? Afinal, elas recebiam as terras como herança dos seus pais. Para conseguir tomar conta de tudo precisavam ter vários parceiros. Mas, isso já está ficando no passado. Atualmente, as mulheres tem optado por casamentos com um único parceiro.
Butão.
No Cazaquistão, as mulheres se casam muito cedo, ao redor de 23/24 anos e tradicionalmente mantém algum resquício do fato de que num passado não muito distante os casamentos eram negociados. A violência contra a mulher é alta no país, infelizmente. Por serem muçulmanos, os homens não cumprimentam as mulheres. No entanto, as mulheres podem se vestir com certa liberdade e adoram deixar os cabelos muito compridos, pois acreditam que eles representam a força da mulher.
Cazaquistão.
Outro país incrível da Ásia Central, vizinho ao Cazaquistão, é o Uzbequistão. Lá, as mulheres são bonitas e vaidosas, se cuidam muito e também se casam cedo, assim como no Cazaquistão. Alguns casamentos são arranjados, o tempo de namoro é rápido e geralmente as noivas vão morar com a sogra. Costumam ter 3 ou 4 filhos. Muitas trabalham o dia todo, têm salários semelhantes aos dos homens, mas geralmente entregam todo o dinheiro que ganham para a sogra administrar. Algumas mulheres já começam a optar por não se casar. E elas têm liberdade de escolha, principalmente nas cidades maiores. Já, no interior, segundo Luciana Piddock, a vida ainda segue de modo tradicional. Tive o privilégio de conhecer o país e tenho ótimas lembranças, especialmente da alegria contagiante das mulheres nas cidades menores.
Uzbequistão.
No Mianmar e no norte da Tailândia vi muitas mulheres que curiosamente usavam colares imensos feitos por várias camadas de argolas, as mulheres-girafa. Vaidosas, elas consideram elegante hoje em dia ter o pescoço alongado pelos colares, que vão aumentando ao longo da vida. Mas, no passado, serviam para proteger as mulheres de ataques de tigres nas montanhas.
Mianmar.
A Escócia é famosa por suas histórias de bruxas, locais mal-assombrados e lendas fantasmagóricas, como vemos pelos relatos da Anelise Kaminski, brasileira que mora no país. Mas deixando as lendas de lado, e pensando no papel das mulheres na Escócia, o país é atualmente governada por uma mulher, a primeira-ministra Nicola Sturgeon, que foi recentemente apontada como uma das 50 mulheres mais influentes do mundo. Teria ela algum poder especial? “Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.”
A bruxas que antigamente eram vistas como perigosas nos contos, hoje representam o protagonismo da mulher. Detêm um conhecimento inerente à sua natureza, confiam em seus instintos e simbolizam a doce fortaleza que sacode a sociedade patriarcal.
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