Os trabalhistas foram o partido mais votado numa eleição que viu crescer as bancadas à sua esquerda. A transição climática no país europeu que mais produz petróleo e gás esteve no topo da agenda de campanha.
Jonas Gahr Støre no momento da votação. Foto Partido Trabalhista norueguês/Facebook
O futuro da indústria petrolífera que representa quase metade das exportações do país esteve no topo da agenda dos debates para as eleições legislativas norueguesas. O resultado saldou-se por uma derrota do atual governo conservador liderado por Ema Solberg, cujo partido perde nove deputados. A vitória coube aos trabalhistas de Jonas Gahr Støre, que alcançaram 26.4% e até perdem um mandato em relação às eleições de 2017, ficando com 48 dos 169 lugares do Parlamento.
A noite eleitoral sorriu ao partido do Centro, que se tornou a terceira força política com 28 mandatos (mais nove do que em 2017) e também aos partidos à esquerda dos trabalhistas e que agora se perfilam como potenciais parceiros de coligação: o Partido da Esquerda Socialista alcança 13 mandatos (mais dois que em 2017) e sobretudo o Partido Vermelho, que sobe de um para oito deputados. Também os Verdes deixam de ter apenas um deputado e passam para três, falhando por pouco a barreira dos 4% que lhe daria acesso a mais alguns mandatos.
Do lado dos derrotados, estão os partidos da direita. Além dos conservadores, também os restantes partidos da base governamental foram reprovados nas urnas. O Partido do Progresso, o mais à direita no Parlamento, perdeu seis lugares, enquanto os democratas cristãos perderam cinco, ao baixarem da fasquia dos 4%. Só o Partido Liberal não perdeu deputados, mantendo os oito mandatos da eleição anterior.
“Enquanto maior partido, vamos assegurar-nos que a Noruega vai ter um novo governo e um novo rumo. Nos próximos dias, vou convidar os líderes de todos os partidos que querem uma mudança”, afirmou Jonas Gahr Støre na noite eleitoral, citado pela Reuters. O futuro primeiro-ministro acrescentou que iria começar a ronda de conversações pelos partidos do Centro e da Esquerda Socialista, que seriam suficientes para garantir a maioria parlamentar.
Segundo o Guardian (link is external), o líder do Partido da Esquerda Socialista, Audun Lysbakken, prefere uma coligação alargada de cinco partidos, incluindo Verdes e o Partido Vermelho. Na noite eleitoral, disse aos apoiantes que o resultado indica que não se formarão maiorias sem o seu partido, pelo que pretende exercer o poder que a votação lhe deu nas negociações com os trabalhistas.
A noite eleitoral foi de festa para o Partido Vermelho, que se tornou no primeiro novo partido a transpor a barreira dos 4% que dá acesso a eleger pelo círculo de compensação, desde que ela foi criada em 1989. Para além dos quatro deputados eleitos diretamente, conseguiram outros quatro através desse círculo. O seu líder e até agora único deputado, Bjørnar Moxnes, disse aos apoiantes na noite eleitoral que quer estabelecer um acordo de cooperação para um governo que “leve a Noruega numa nova direção de mudança em relação às últimas décadas, em que a desigualdade e a precariedade aumentaram”. Além da redução de emissões poluentes, o Partido Vermelho defende uma taxação mais forte dos altos rendimentos e uma das promessas eleitorais foi a de um sistema de saúde dentária gratuito, que considera “a maior reforma do sistema de saúde dos nossos tempos”, segundo o portal Dagsavisen (link is external).
A Noruega é o maior produtor de petróleo e gás na Europa e os debates políticos sobre o futuro desta indústria subiram de tom após a divulgação do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas. À esquerda, as propostas vão no sentido de travar com urgência a exploração de petróleo, enquanto os trabalhistas defendem uma transição gradual.
Esta indústria tem um peso de 14% no PIB norueguês, representa 40% das exportações e emprega diretamente 160 mil pessoas. Além disso, permitiu ao país amealhar mais de um bilião de euros naquele que é o maior fundo soberano do mundo.
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