«A SÉRIO» É QUE É PORTUGUÊS
Por Berta Henriques Brás, ex-docente de Filologia Românica
«Andar à tona, à babugem, aos caídos, à roda; mandar/ir à fava, ou à… (isso que se diz em caso de crise); atirar/lançar/mandar às malvas ou às urtigas; viajar à borla; morrer à míngua de, chegar — ou não — aos calcanhares; ir/vir à boleia, ficar à mercê…
E muitas mais expressões, formadas, a sério, por verbo seguido de complemento adverbial constituído por artigo contracto por meio de crase com a preposição a e por substantivo abstracto ou concreto. Mas hoje em dia prolifera oralmente ou por escrito o aborto “à séria”, formado não por substantivo, mas por um adjectivo feminino, chegado dos confins da inércia educativa. Poupemos carinhosamente os meninos e meninas, que não precisam de fixar tabuadas, porque as contas fazem-se nos computadores, nem de distinguir o adjectivo do substantivo ou do verbo, deixemos este navegar pelos faze-mos que assim curti-mos a vida sem preocupação pelo correcto, repetindo à exaustão o tu dissestes ou mandastes, ou o hadem e o hades e o houveram e o diz a ela porque o pronome lhe se eclipsou, e o por aí fora dos dislates sem nome com que a própria televisão nos “favorece” a cada passo, em traduções descuidadas, ou até na oralidade precipitada daqueles cuja promoção nos cargos foi favorecida, talvez, não por concursos “a sério”, mas por processos sem seriedade, muito nossos. Mas temos tanto já com que nos preocupar, na crise em que mergulhamos, que os “pontapés” na gramática portuguesa são bem de pouca monta» («Gramática», p. 58).
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