Esta linda e intrigante criatura tem algumas características bem peculiares como 10 cromossomos sexuais, um par de esporas venenosas, uma camada de pelo fluorescente, pele que 'transpira' leite e põe ovos.
Genoma do Ornitorrinco
Pela primeira vez, uma equipe internacional de pesquisadores, liderada por biólogos da Universidade de Copenhagen, mapeou um genoma completo do ornitorrinco. O estudo foi publicado na revista científica Nature e mostra que os genes são relativamente primitivos e inalterados, revelando uma mistura bizarra de várias classes de animais vertebrados, incluindo pássaros, répteis e mamíferos.
Os mamíferos são divididos em três grupos os monotremados, marsupiais e os placentários.
O ornitorrinco, e o equidina fazem são os únicos que fazem parte do grupo dos monotremados, no entanto, é o único animal conhecido com 10 cromossomos sexuais (equidnas têm nove). O ornitorrinco tem cromossomos 5X e 5Y organizados em um anel que parece ter se quebrado em pedaços ao longo da evolução dos mamíferos.
O cariótipo do ornitorrinco compreende 52 cromossomos em ambos os sexos, com alguns cromossomos grandes e muitos pequenos, uma reminiscência de macro e microcromossomos reptilianos.
Os ornitorrincos têm vários cromossomos sexuais com alguma homologia com o cromossomo Z.
A determinação do sexo e a compensação da dosagem do cromossomo sexual permanecem obscuras.
Comparando essas informações cromossômicas com os genomas de humanos, gambás, demónios da Tasmânia, galinhas e lagartos, os autores descobriram que os cromossomos sexuais do ornitorrinco têm mais em comum com pássaros como as galinhas do que com mamíferos como humanos. Mas enquanto os ornitorrincos põem ovos como galinhas, eles alimentam com leite como os mamíferos. Os genes da caseína ajudam a codificar certas proteínas no leite dos mamíferos, mas os monotremados parecem ter caseínas extras com funções desconhecidas. Dito isso, seu leite não é diferente do que vem de uma vaca, ou mesmo de um ser humano em lactação.
Como tal, o ornitorrinco provavelmente não é tão dependente das proteínas do ovo como outras espécies de aves e répteis, porque mais tarde ele pode alimentar seus filhotes por meio das glândulas de lactação em sua pele. As galinhas hoje têm todos os três genes de proteínas do ovo, os humanos não têm nenhum e o ornitorrinco tem apenas uma cópia totalmente funcional restante.
Sistema Gastrointestinal
O ornitorrinco é um estranho intermediário e seu genoma é uma espécie de ponte para nosso próprio passado evolutivo. Outras características especiais do ornitorrinco são seu sistema gastrointestinal, neuroanatomia (eletro-recepção) e um sistema de liberação de veneno, único entre os mamíferos. Ornitorrinco é um alimentador aquático obrigatório que depende de sua pelagem espessa para manter sua temperatura corporal baixa (31 - 32 ° C) durante a alimentação em águas geralmente geladas. Com seus olhos, ouvidos e narinas fechadas enquanto forrageia debaixo d'água, ele usa um sistema eletro-sensorial no bico para ajudar a localizar invertebrados aquáticos e outras presas.
Curiosamente, os monotremados filhotes são dotados de dentes formados por cálcio que são substituídos por uma placa queratinizada quando adultos. O genoma completo também revelou a perda de quatro genes associados ao desenvolvimento dentário, por não ter dentes para a mastigação, o ornitorrinco adulto agora usa suas placas córneas.
Apenas um punhado de mamíferos é venenoso, mas o ornitorrinco macho é o único entre eles por liberar seu veneno não por meio de uma mordida, mas das esporas das patas traseiras. As esporas venenosas podem ser explicadas pelos genes de defensina da criatura, que estão associados ao sistema imunológico em outros mamíferos e parecem dar origem a proteínas únicas em seu veneno.
Imunidade
Embora os principais órgãos do sistema imunológico monotremado sejam semelhantes aos de outros mamíferos 49 , o repertório de moléculas de imunidade mostra algumas diferenças importantes em relação aos de outros mamíferos. Em particular, o genoma do ornitorrinco contém pelo menos 214 genes do receptor natural killer dentro do complexo natural killer, um número muito maior do que para humanos (15 genes 50), rato (45 genes 50) ou gambá (9 genes 51).
Postura de ovos
Os ovos do ornitorrinco são pequenos (4 mm de diâmetro) em relação aos répteis e pássaros de tamanhos comparáveis, e os ovos eclodem em um estágio inicial de desenvolvimento, de modo que a maior parte do crescimento do embrião e do bebé depende da lactação, como nos marsupiais. Como todos os mamíferos e muitos outros amniotas, quando ocorre a fertilização, o óvulo é revestido de uma zona pelúcida.
O ornitorrinco mamífero que põe ovos é uma espécie notável, com muitas características biológicas únicas entre os mamíferos.
O estudo genómico traz-nos informações preciosas sobre as espécies e mostra que pode sim existir um elo evolutivo entre mamíferos e pássaros.
«Gerir a atual crise é um jogo de equilíbrios entre a proteção da saúde e da vida, a prevenção de outras futuras doenças e de atrasos de desenvolvimento, e também a proteção da economia.
Nenhuma solução é boa, todas trazem consequências nefastas quando se defende apenas um destes aspetos.
E mesmo neste jogo, o equilíbrio é sempre desequilibrado. (...) Tomamos decisões na educação tendo em conta a saúde pública e de todos os que trabalham na escola, os impactos nas aprendizagens, no desenvolvimento das crianças e na sua proteção social.
Esta é a equação irresolúvel, porque também aqui, na esfera estrita da educação, qualquer solução é demasiado fácil e, ao mesmo tempo, perturbadora daquilo que se conseguiria com outras soluções. (...) E é preciso apreciarmos as soluções possíveis a partir dos lugares dos outros: um aluno com computador e internet que vive num T1 com o quarto partilhado com o irmão e os pais em teletrabalho, a aluna cuja mãe sai sozinha de madrugada para ir trabalhar na caixa do supermercado e fica sozinha, deixando-se dormir e não tendo a mãe ao lado para ajudar nas suas dúvidas, os pais que não valorizam a escola e até impedem o filho de aceder ao computador, os que não têm boa rede ou bom computador, todos juntos estes são a maioria.
Olhar para isolamentos, aberturas ou fechos implica pormo-nos a ver através de muitos outros olhos além dos nossos.»
O Kremlin, além de ser o principal património cultural de Moscou, também é uma instalação super segura, afinal é a residência do Presidente da Rússia. Existem muitos lugares no Kremlin inacessíveis para uma pessoa comum, mas recentemente o canal Телеканал ПЯТНИЦА (TV Sexta-Feira) teve a oportunidade de dar uma olhada em alguns deles e produziu um documentário intitulado "Segredos do Kremlin de Moscovo" que se concentra nos lugares mais intrincados e misteriosos do local.
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1. O mostrador do relógio preservado dentro da Torre Spasskaya
A Torre Spasskaya do Kremlin, construída em 1491 pelo arquiteto italiano Pietro Solari, tem quatro mostradores de relógio. Mas poucos sabem que dentro da torre existe outro mostrador de relógio! Em 1628, o engenheiro escocês Christopher Galloway a construiu por ordem de Mikhail Fyodorovich, o primeiro Romanov. O relógio era muito incomum: seu mostrador era dividido em 17 partes! O vídeo mostra os restos do mostrador do relógio original e explica como funcionava.
Você já se perguntou como os líderes soviéticos -que geralmente eram idosos- subiam à tribuna do Mausoléu, onde ficavam durante os desfiles militares? Acontece que eles tinham um mecanismo especial para ajudá-los e podemos finalmente ver isso pela primeira vez.
Esta torre, construída em 1488 por outro arquiteto italiano chamado Antonio Gislardi, foi nomeada "vodovzvodnaya" ("abastecimento de água") depois que Christopher Galloway instalou um mecanismo de abastecimento de água aqui em 1633. O vídeo mostra o interior da torre e explica como as primeiras canalizações de Moscovo funcionavam. Além disso, esta é a primeira vez que uma equipe de filmagem pode entrar nesta torre!
O Grande Palácio do Kremlin, construído em 1837-1849, foi a residência dos imperadores da Rússia em Moscovo. Neste vídeo, podemos dar uma olhada nos aposentos pessoais do imperador com móveis originais do século XIX.
(Reuters) - A banda de rock americana The Flaming Lips surgiu com uma maneira criativa de fazer shows ao vivo no meio da pandemia COVID-19 - colocando a si e seu público em "bolhas espaciais" protetoras.
O grupo realizou dois shows no fim de semana em Oklahoma, onde o público dançou envolto em bolhas de plástico.
Em postagens pré-show, o fotógrafo e cameraman Nathan Poppe tuitou fotos do local, dizendo que havia 100 bolhas, cada uma com capacidade para no máximo três pessoas.
As cápsulas foram equipadas com alto-falante, ventilador, garrafa d'água, toalha e uma placa dizendo “Tenho que fazer xixi / Está calor aqui” para serem mostradas aos comissários, que acompanhavam os foliões ou enchiam as bolhas com ar fresco.
Os participantes tinham que usar máscaras quando estavam fora de sua bolha, mas podiam tirá-las dentro, mostrou um vídeo instrutivo compartilhado pelo vocalista Wayne Coyne.
“Acho que temos muita sorte que os fãs de The Flaming Lips gostem dessa ... aventura”, disse Coyne, que há muito tempo é conhecido por surfar em uma bolha, disse à BBC.
“Não é apenas mais um show ... você é parte disto e isto nunca foi feito antes ... Eles estão bastante dispostos a serem diferente.”
O grupo havia realizado um show de bolhas no ano passado, quando a pandemia global forçou a maioria dos shows a serem cancelados ou adiados.
A ambição dos algarvios na realização de um II Congresso Regional atravessou décadas e regimes políticos. Recorde-se que em 1915 teve lugar na Praia da Rocha o I Congresso Regional, que já aqui evocámos.
Na altura logo se aventou para 1918 a realização de uma nova reunião magna.
Todavia, a entrada de Portugal na I Guerra Mundial, em 1916, a instabilidade advinda, o golpe militar de Sidónio Pais, o falecimento precoce de Tomás Cabreira, a alma mater do I Congresso, foram algumas vicissitudes que fizeram protelar a iniciativa, às quais se juntaram a instauração da Ditadura Militar e a consolidação do regime ditatorial, com o Estado Novo, a partir de 1933.
Não obstante a imprensa noticiar amiudadamente a sua realização (1920, 1928), só no fim da década de 1940 ela ganhou alguma solidez. Ainda assim as dificuldades levantadas pelo regime fizeram adiar a sua realização «definitivamente marcada para os primeiros dias de Fevereiro» de 1950, conforme noticiava o periódico «Correio do Sul», na sua edição de 29/12/1949, para o ano seguinte.
Tempos em que o significado das palavras também mudava ao sabor dos interesses governamentais.
Afinal, havia que garantir «que não caíssemos nos inconvenientes de assistir ao debate de ideias que nos não interessassem», ou seja, os críticos do regime, todos aqueles que logravam pensar diferente, jamais poderiam participar. A comissão organizadora teve pois de expurgar vozes incómodas, o que terá protelado a concretização do evento.
Os resumos das teses, conferências e comunicações, organizados por Mário Lyster Franco, foram publicados em 1950, mas o evento teve lugar somente a 26, 27 e 28 Janeiro de 1951 e, contrariamente ao previsto, não decorreu em Faro, mas em Lisboa.
A participação implicava um custo mínimo de 100$00 (0,50 €), uma pequena fortuna para muitos portugueses na época. Mais de 35 anos depois da Praia da Rocha os problemas do Algarve voltavam a debate, ainda que sob o crivo da censura.
A organização coube à diligente Casa do Algarve, criada em Lisboa em 1930, presidida por Amadeu Ferreira de Almeida. À exceção das sessões de abertura e de encerramento, que ocorreram na sala «Algarve» da Sociedade de Geografia, as restantes tiveram lugar na sede daquela coletividade, na Rua Capelo n.º 5, para onde se havia transferido no mês anterior.
Sala Algarve. Sociedade de Geografia de Lisboa | Fonte: Câmara Municipal de Lisboa
Ao todo foram efetuadas 41 comunicações, subdivididas em quatro temáticas, «História, Arte e Arqueologia», «Problemas Económicos, Assistenciais e Administrativos», «Educação, Desporto e Turismo» e por fim «Assuntos Diversos».
Ferreira de Almeida traçou na sessão de abertura os principais problemas da região, sintetizados pelo «Diário de Notícias» (DN), como os arranjos nas estradas de acessos à Praia da Rocha, principalmente por Odemira, a construção de uma estação de correios em Faro e de um aeroporto de «características internacionais, para em caso de emergência, substituir o de Lisboa».
O diário «O Século» sobre o seu discurso acrescentou «não há uma só estrada alcatroada e a poeira contrária incomoda e afasta os turistas principalmente os estrangeiros». Na Praia da Rocha faltava água, «a tal ponto que os hotéis não podem fornecer banhos aos seus clientes».
Praia da Rocha. Anos 1950. Postal ilustrado.
A Praia da Rocha, as Caldas de Monchique e Sagres eram consideradas na época o expoente maior das potencialidades turísticas do Algarve – a trindade maravilhosa, a que se adicionava o espetáculo proporcionado pelas amendoeiras floridas, «num milagre perpetuamente renovado de beleza, harmonia, de graça e das melhores esperanças», nas palavras de Lyster Franco, secretário-geral do congresso e segundo orador.
Um Algarve ainda longe das praias, mas onde estas já mereciam referências, ainda que ténues, e como estâncias de inverno. O orador seguinte, António Baião, debruçou-se sobre a transferência da sede episcopal de Silves para Faro. A sessão inaugural, emitida em simultâneo pela rádio, terminou com a intervenção do governador civil, que lembrou que o «Algarve só pela união dos algarvios pode ser mais olhado pelo poder central, mais amado pelo país e melhor servido pelos seus filhos», uma constatação que não perdeu atualidade.
Em «Consagrem-se condignamente os valores algarvios», Lyster Franco propôs a criação de monumentos a diversos algarvios. Estiveram ainda em destaque as Cantigas de Santa Maria, por Francisco Fernandes Lopes, bem como «subsídios para o estudo da vida económica no “cyneticum”», povos antigos que ocuparam a região, os cinetes. Concluindo o orador, Bairrão Oleiro, que as principais características económicas do Algarve não haviam sofrido «grandes modificações com o decorrer dos séculos»: tinturaria, lagares, cultura do esparto e sobretudo da pesca e indústrias correlativas.
À noite, a Casa do Alentejo ofereceu um porto de honra aos componentes do congresso algarvio. Na manhã seguinte estiveram em discussão a profilaxia e terapêutica das doenças mentais na região, museus provinciais e museus do Algarve, a pesca do atum e a sua defesa, bem como igrejas e capelas do Algarve, apresentadas, respetivamente, por Manuel Silva, Justino Weinholtz, António Galvão e Pinheiro e Rosa.
O primeiro orador, entre outros aspetos, enalteceu a secção psiquiátrica da Misericórdia de Faro e criticou os métodos primitivos usados pela população na cura de enfermidades. Weinholtz frisou a importância dos museus como fatores de desenvolvimento da cultura popular e elevação cultural dos portugueses, defendendo a instalação em edifício próprio das coleções de arte existentes em Faro, o qual deveria reunir a biblioteca, o museu, arquivo e recinto para manifestações de carácter popular.
Por sua vez, Galvão colocou em destaque a importância da pesca e do atum em particular, na economia regional, bem como solicitou ao governo a necessidade de maior fiscalização para a defesa da atividade.
Pinheiro e Rosa fez a história de cerca de 200 templos e demonstrou a indispensabilidade de efetuar obras de restauro em 27 deles. O congresso prosseguiu com as teses «Águas minerais do Algarve e da Andaluzia», de Ascensão Contreiras e a construção de um jardim escola na terra de João de Deus, por Maurício Monteiro.
Francisco Barros propôs dez medidas para a defesa dos produtos frutícolas em «os frutos do Algarve, sua produção e comércio».
Recorde-se que este setor da economia regional, então um dos mais importantes, vinha já a registar algumas dificuldades que se agudizariam nas décadas seguintes. As derradeiras comunicações do painel foram a arqueologia na Serra da Monchique, de José Formosinho, Octávio Pereira e Abel Viana e a arquitectura tumular do Bronze inicial na região, também de Octávio Pereira.
À tarde estiveram em relevo, entre outras, a entomofauna regional, por Armando Castel-Branco, a utilidade da criação de um conservatório regional de música, em Faro, por Pavia de Magalhães, o pensamento filosófico teológico do sufismo muridínico no Algarve, de Garcia Domingues, e Afonso X, o sábio, como rei do Algarve, de novo por Francisco Lopes.
A sessão prosseguiu com a localização de Ossónoba, de Abel Viana, sustentando o autor que esta se situava em Faro e não em Estoi, como durante muito tempo se defendeu, os problemas das Caldas de Monchique, com a necessidade da conclusão dos trabalhos que ali decorriam, de Alberto Sousa e o turismo no Algarve, de Julião Quintinha.
Este último, segundo o DN, expôs «os motivos que impõem o Algarve como província turística por excelência», apresentando diversas sugestões «tendentes a uma indispensável valorização do turismo local».
Entre elas mencione-se a conclusão do plano de urbanização da Praia da Rocha, bem como das obras das Caldas, construção de uma pousada de turismo e de um monumento ao Infante em Sagres, sem esquecer um aeroporto em Faro. Defendia ainda a abertura de um «posto internacional de propaganda e informações turísticas em Vila Real de Santo António».
Durante o debate foi lembrada a deficiente iluminação de muitas localidades e a falta de abastecimento de água às mesmas, além de se «dar realização ao casino de Armação de Pêra». A derradeira sessão foi sobre o Refúgio Aboim Ascensão, de José Lage.
O dia terminou com um jantar de confraternização na Casa do Algarve, com perto de uma centena de algarvios. Na manhã de dia 29 o congresso prosseguiu ininterruptamente das 10h00 às 15h00.
Entre os painéis note-se os pintores do Algarve, de Virgílio Passos, defendendo a promoção de exposições de artes plásticas em Faro, Praia da Rocha e Monte Gordo.
Durante o debate, surgiu uma sugestão profícua de Julião Quintinha: a publicação periódica de um boletim, pela Casa do Algarve, com estudos sobre a região (económicos, históricos, literários e artísticos). Uma prática que logo se tornou frequente com a edição de preciosos ensaios. Das outras teses relevo para o Algarve carece de aviação civil, ou hotéis e pensões de turismo, ambas de Ferreira de Almeida.
Estas propunham a criação de carreiras de hidroaviões, no Verão, que fizessem a viagem entre Lisboa e Faro e entre os portos e as praias algarvias, além da remodelação dos estabelecimentos de hospedagem de modo a torná-los atraentes e confortáveis.
Por sua vez, Julião Quintinha deteve-se sobre a indústria corticeira, enquanto Tavares Franco em o Algarve na produção da cortiça portuguesa.
Esta indústria atravessava um período de grande crise na região, sendo solicitadas várias medidas ao governo para a atenuar. Também aos algarvios era proposta a substituição dos sobreiros velhos por novos, de forma a dar continuidade à excelência da cortiça algarvia.
Faro – Amendoal – Postal ilustrado
Foi também submetido à apreciação dos congressistas um estudo sobre frutos do Algarve, o qual demonstrava a singularidade da província, no contexto nacional, por as árvores de furto (figueira, amendoeira) sobrelevarem qualquer outro produto agrícola.
José Murta, em «mais pão para a boca e mais pão para o espírito», advogou a criação de uma escola técnica agrícola em Loulé, especializada em arboricultura, com algumas aulas de artes e ofícios, bem como a criação de um conservatório em Faro. A estância de turismo da Praia da Rocha, de Velho Correia, trouxe de novo à liça as potencialidades da região enquanto destino turístico, pedindo ao governo para «reorganizar as bases essenciais em que esta indústria deverá, no futuro, assentar», e «mais autonomia e mando» para as forças vivas locais.
Um derradeiro pedido, ainda que longe da independência do Algarve, defendida na segunda década do século XX, de certo horrorizou as autoridades do regime.
Reiterou também a necessidade de um aeroporto, o aperfeiçoamento das vias de comunicação, e a limpeza pública, medidas tidas como «absolutamente essenciais para que o turismo se possa desenvolver no Algarve».
O problema da tuberculose, «a peste branca», esteve em evidência por Gabriel Galvão, enquanto José Madeira destacou as caraterísticas meteorológicas da região, enunciando as especificidades que poderiam levar à escolha do Algarve para a realização de estudos científicos, «um verdadeiro laboratório», mas também para desportos náuticos e afins. Elencou as condições excecionais para a construção de um aeroporto, considerando que o mesmo não devia ser adiado por mais tempo.
O mesmo orador proferiu seguidamente uma comunicação sobre o litoral, lembrando «o perigo que corre Quarteira de ser destruída pelo mar», pois, afinal, em 25 anos o mar avançara mais de 100 m sobre a aldeia, e a carência de uma intervenção na foz do rio Guadiana, sem descurar o «perigo de dispêndios exagerados em trabalhos que a natureza condenou inexoravelmente».
Propôs ainda a consagração nacional do Infante D. Henrique com a criação de um estabelecimento científico (hidrografia e meteorologia) próximo de Lagos.
O combate à erosão dos solos e a criação do ensino superior foram assuntos que também vieram a debate. Manuel Guerreiro propôs a valorização do Algarve sob o ponto de vista agro-pecuário, evocando os danos da erosão intensa na serra, sugerindo a sua imprescindível arborização e a criação de albufeiras nos rios, para irrigação.
Sobre este assunto foi ainda apresentada uma outra comunicação por Francisco Mendonça. Por sua vez, Mariana Santos discorreu sobre a história da filosofia no Algarve, enquanto Garcia Domingues, sobre o problema cultural, propondo a instalação de centros de estudos, como base para a criação de uma universidade.
Já Lyster Franco leu «subsídios para uma bibliografia do Algarve», um estudo que vinha a realizar e que ficaria conhecido como «Algarviana».
Embarque de Cortiça e Sal em Vila Real de Santo António. Postal ilustrado
No congresso foram também apresentadas, entre outras, as teses sobre os desportos náuticos, ou a raça e população algarvia, pelo Ginásio Clube Naval de Faro e Maurício Monteiro, respetivamente.
A sessão de encerramento foi presidida pelo farense Adelino da Palma Carlos, então bastonário da Ordem dos Advogados (mais tarde primeiro-ministro do I Governo Provisório, a seguir à Revolução de 1974).
Palma Carlos considerou os problemas da região como problemas nacionais, lembrando que o congresso mostrou o «Algarve a Portugal – um Algarve dinâmico e diferente da província ensimesmada que muitos imaginavam».
Nessa noite, decorreu a festa de despedida na Casa do Algarve e, no dia seguinte, a Câmara de Lisboa e a Carris ofereceram um passeio turístico pela cidade e com ele terminava a reunião magna dos algarvios, amplamente difundida pela imprensa nacional.
O II Congresso Regional Algarvio foi a reunião possível, que o regime consentiu. Pese embora esta realidade, ele materializou-se num momento de viragem económica do Algarve. Nele estão patentes as dificuldades que se faziam sentir na indústria corticeira e conserveira, mas também na agricultura, principalmente nos frutos secos, as bases da economia regional de antanho e que perduraram até meados do século XX, e a mudança de paradigma com a afirmação do turismo, cujas potencialidades, já evidenciadas em 1915, se consagravam agora a velocidade cruzeiro.
Em 1951, foram apresentadas quase o dobro das teses relativamente a 1915, com uma outra particularidade, por entre os oradores surgiu uma mulher, também ela algarvia, como a maioria, todos académicos, a olhanense Mariana Machado Santos.
Apesar de ter ficado planeado um novo congresso para 1953, e depois de, em 1957, a imprensa propalar a sua realização, os problemas do Algarve só voltaram a debate após o 25 de Abril, mais concretamente em 1980.
Volvidos 70 anos, a pluralidade das propostas então elencadas estão concretizadas, como uma das mais iteradas, o aeroporto (1965), o Conservatório e o Museu de Faro (1973), ou a Universidade (1979), mas também não é menos verdade que a serra continua por arborizar, ou que a «Algarviana», de Lyster Franco, não viu ainda a luz do dia.
Por outro lado, as «aulas» de artes e ofícios em Loulé surgiram já nos nossos dias, enquanto as amendoeiras quase desapareceram das paisagens algarvias. Quanto à autonomia, não passou até agora de uma utopia.
A aposta no turismo, como alternativa à crise que se começava a sentir na agricultura e nas pescas, foi seguramente o feixe de luz, para o futuro, do farol que constituiu o II Congresso Regional Algarvio.
Todavia, hoje é o turismo que vacila, numa crise que também pode e deve ser uma oportunidade para transformar a região mais sustentável e menos dependente de uma única atividade económica, como vinha a suceder.
Como diz o adágio popular «não se deve colocar todos os ovos na mesma cesta».
Hoje a pandemia, amanhã o sismo e o tsunami…
Terminamos parafraseando o governador civil, Luís Vaz de Sousa: o «Algarve só pela união dos algarvios pode ser mais olhado pelo poder central, mais amado pelo país e melhor servido pelos seus filhos». Um alvitre tão atual como então.
Autor: Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de ambiente e investigador de história local e regional, bem como colaborador habitual do Sul Informação.
Nota: Nas transcrições manteve-se a ortografia da época.