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sábado, 22 de outubro de 2022

Novo têxtil de alfarroba algarvia substitui couro animal

 barlavento.sapo.pt /algarve/novo-textil-de-alfarroba-algarvia-substitui-couro-animal



Designer Mónica Gonçalves, inspirada pelas raízes familiares algarvias, criou um têxtil artesanal a partir das alfarrobas de Silves. Encomendas da «Alfarroba.Tex» são diárias no país e Europa.

São dezenas de quilos de alfarroba que, todas as semanas, rumam de Algoz, no concelho de Silves, ao atelier da designer de moda Mónica Gonçalves, na Póvoa de Santa Iria.

Depois de bem desidratadas, trituradas e estabilizadas com celulose reciclada, a fórmula final dá origem a um têxtil de alfarroba, para já, diz a criadora, único no mundo.

A grande vantagem é que possibilita a substituição do couro animal usado em peças de design de moda, arquitetura ou até mesmo calçado.

A ideia da lisboeta de 33 anos, que se especializou no desenvolvimento de materiais naturais em Itália, nasceu no mês de fevereiro último, e deu origem à marca «Alfarroba.Tex».

A história, contudo, é mais antiga. «Remeto sempre à minha família porque acho que é muito interessante. A minha avó, algarvia, nos anos 1960 era uma mulher de ferro, muito empreendedora, chegou a ser a maior vendedora de laranjas do Algarve e foi uma das primeiras mulheres a ter carro na região. Chamava-se Florência e tinha muitos terrenos no Algarve. As minhas férias eram sempre passadas com ela e com 30 primos. Todos brincávamos no campo, em Algoz, no meio das flores, das laranjeiras e das alfarrobeiras. O meu pai deu-me a conhecer a alfarroba e ficou sempre na minha memória devido ao cheiro intenso. Apercebi-me que o fruto estava presente em diversos doces regionais. No ano passado, estava em processo criativo, de férias com a família no Algarve, e procurava encontrar uma opção forte a nível nacional e que ainda não fosse utilizada na área do têxtil. Surgiu a alfarroba, quase de forma natural», recorda.

Depois de o pai, natural de Portimão, lhe ter levado ao atelier uma saca de 50 quilos de alfarroba, o resto do ano foi passado em ensaios laboratoriais.

«Comecei por pesquisar sobre a composição do material e a solidez da fibra», conta, mas surgiram alguns contratempos iniciais «porque a alfarroba além de quebrar muito, comporta-se como um material rico em açúcar, o que se tornava pegajoso. Levei de setembro até fevereiro para conseguir garantir um material resistente. Testei a nível de resistência mecânica e percebi que estava pronto. Quando o resultado final foi atingido, ficou espetacular. Foi aí que senti as borboletas na barriga e percebi que ia ser algo mesmo interessante», explica.

Estava assim criado o primeiro têxtil de alfarroba do mundo, com o objetivo de substituir o couro animal. O passo seguinte foi registar a marca. «Meia hora depois, tinha a primeira encomenda, para uma designer de malas que, para minha alegria, era de Silves! Creio que foi o destino, porque é, precisamente, a origem das minhas alfarrobas», salienta.
Seguiram-se pedidos para Lisboa, norte e, duas semanas depois, a primeira internacionalização da «Alfarroba.Tex», para o Reino Unido. Mais recentemente, foi uma empresa italiana, que trabalha com bordados de grandes marcas como a Gucci e a Dior, que entrou em contacto com a artesã.

E uma vez que se trata de um material tão novo, que está no mercado há pouco mais de um mês, em todas as encomendas que recebe, Mónica precisa de esclarecer a forma como pode ser manuseado.

«Não existe mais nenhum a nível global e é interessante perceber que as dúvidas dos interessados passam por saber a maneira correta de coser o têxtil. A minha resposta é sempre a mesma: tal e qual como o couro. A diferença é que a pele animal não se pode colocar na máquina de lavar, mas o tecido de alfarroba pode ser lavado a qualquer temperatura e com qualquer rotação. Além disso, pode ser cosido à máquina e até à mão, diretamente com a agulha», compara.

Apesar de ainda não existirem peças finais com o material de origem algarvia, a designer de moda assegura que pode ser utilizado para peças de vestuário como casacos, calças, malas, chapelaria, e não só.

«Tenho uma série de clientes de várias áreas como arquitetos e designers de interiores e de mobiliário que estão a criar as suas peças do zero. Adquiriram o material no final do mês de fevereiro e estão agora a dar-lhe uso», revela.

De acordo com a empreendedora, «a adesão está a ser histórica. Todos os dias recebo encomendas. Até à entrega do produto, a espera é de cerca de duas a três semanas, até porque é tudo feito de forma artesanal. Estou já com dificuldade em dar resposta aos pedidos e estou a ultrapassar as 30 unidades por mês», limite que estava definido, desde o início, como capacidade máxima.

Outro pormenor que a artesã faz questão de destacar, é o facto de cada têxtil ser único. «É muito interessante porque, apesar de o tecido ser apenas castanho, que é a cor natural da alfarroba, tem variações de tonalidades. Ou seja, nunca sai sempre com a mesma cor, porque como a matéria-prima é natural, a mistura resulta em tons mais escuros e outros mais claros», detalha.

Questionada sobre a possibilidade de produzir com outras cores, Mónica Gonçalves responde que, por enquanto, «vou manter a original. Embora o material cheire sempre a alfarroba, ainda existe muito ceticismo por parte das pessoas, o que é normal, e questionam se é mesmo o fruto. Se começar já a produzir com outras cores, ainda dificulto mais essa leitura e essa percepção. Para já, pretendo educar o mercado. Mais tarde, será possível, até porque já houve esse trabalho de perceber que cores se conseguem desenvolver e atingir».

Na marca «Alfarroba.Tex» não se utilizam produtos químicos e a água utilizada na produção do têxtil, é incluída no material. «Não é desperdiçada. A pegada que deixo é muito mais pequena que em materiais industrializados. É um artigo 100 por cento natural e 100 por cento artesanal. O único consumo envolvido no processo é o de eletricidade para alcançar a formulação, nada mais», garante.

Já sobre a possibilidade de industrializar a marca, a designer salienta que se encontra «muito feliz com a escala atual. Se as encomendas assim o exigirem, terei de responder. Faço planos de até junho conseguir produzir 90 unidades por mês. Se algum dia fosse mecanizado, o processo seria exatamente igual ao que faço, com a diferença de que teria de ser repetido» em série.

Para os próximos meses, o objetivo passa por aliciar marcas de grande dimensão, «até por uma questão de afirmação do produto português» e talvez apostar em recursos humanos. Ainda assim, a génese «vai ser sempre afirmar o têxtil como substituto do couro animal e daí nunca irei comercializar rolos de tecido. Cada um tem o seu dom e o meu acho que é desenvolver novos materiais. Acho que a Alfarroba.Tex foi uma ideia abençoada e tenho muita crença nesta marca», conclui a empreendedora.

Cada unidade mede 50 por 70 centímetros (cm), o que corresponde a 11 alfarrobas, e custa 20 euros já com IVA incluído. O site encontra-se em fase de construção, pelo que todas as encomendas devem ser feitas através das redes sociais (@alfarroba.tex).

Patente em fase de registo

A marca «Alfarroba.Tex» nasceu no final de fevereiro último com um têxtil de alfarroba substituto do couro animal. A designer de moda Mónica Gonçalves, responsável pelo projeto, revela ao barlavento que o pedido de patente já foi feito. «Está agora a ser analisado e aguardo que passe a ter um código de patente para depois se tornar estado de arte. Isso significa que vai passar a ser um artigo científico protegido, que pertence à Mónica Gonçalves, mas que pode ser de consulta para outras pessoas. Só pode é ser comercializada pelo autor e requerente da patente, que sou eu», explica.

Fio de couve para substituir a lã

Foi aos 21 anos que Mónica Gonçalves, designer de moda e criadora da marca «Alfarroba.Tex», criou o seu primeiro material inovador, um fio de cortiça, com o objetivo de substituir a lã. «Na altura, há 12 anos, a cortiça servia para bases de panelas, tachos e rolhas de garrafas. Quando lancei o fio, a adesão foi muito grande e foi um caso de sucesso em Portugal. Hoje já não produzo esse fio, e agora o meu maior foco é o têxtil de alfarroba. As encomendas do fio de cortiça começaram a ser de tal maneira grandes, que decidiu-se colocar a patente para venda. Vai agora para outros voos». Na calha está, neste momento, um fio de couve, «no qual já estou a trabalhar e irei precisar de maquinaria para afiar o produto», revela ao barlavento.

Couro de casca de banana valeu prémio europeu

Antes mesmo de nascer a «Alfarroba.Tex», e em plena pandemia, Mónica Gonçalves, especialista em desenvolvimento de materiais naturais, criou o seu primeiro substituto de couro animal, produzido com casca de banana, o «Pacoba.Tex». «Trata-se de um material que produzo desde 2020. Comecei por fazer umas capas de livro inovadoras para a marca Sonae com casca de banana, e acabei por ser convidada por uma empresa italiana a participar num concurso de inovação e a desenvolver um material análogo. Criei esse couro e ganhámos o prémio europeu de inovação», refere. Foi um know-how que inspirou a criação da recente «Alfarroba.Tex», mas que, de acordo com a designer, «apesar de ter tido sucesso», não se compara com a sua última criação. Ainda assim, já se encontra em estado de arte e, por isso, patenteada.

Afirmar um produto português e inovador não é fácil

«Só começámos a ter orgulho na cortiça depois da cantora norte-americana Pink ter exibido uma mala feita com esse material. É preciso muito tempo para a afirmação de um produto português», opina ao barlavento Mónica Gonçalves, a designer responsável pela criação da nova marca «Alfarroba.Tex».

«O que vejo são apoios para empresas que já têm milhões de faturação e, as mais pequenas, onde existe a verdadeira génese da inovação, nunca têm tantas oportunidades, o mesmo apoio e a mesma visibilidade». Em relação à sua experiência pessoal, Gonçalves considera-se uma privilegiada, «no sentido em que já tenho 12 anos de alguma experiência em como me devo mexer no terreno. A minha primeira coleção foi desenhada enquanto ainda estudava. Sou privilegiada porque sei como colocar um produto no mercado. Todos os percursos têm desafios, mas quando se trabalha com inovação há sempre um desafio acrescido, porque há uma grande margem de risco», conclui.

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