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sábado, 15 de outubro de 2022

Laurinda e a marcha dos vulneráveis

 


Depois da salutar chuva de críticas, o município de Lisboa cancelou, e bem, a «marcha das pessoas vulneráveis» na Avenida da Liberdade, promovida pela Vereadora com o pelouro dos Direitos Humanos e Sociais, Laurinda Alves, em parceria com a «Associação Impossible – Passionate Happenings», que teria lugar na próxima segunda-feira, 17 de outubro, Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

Através de um email enviado ainda em setembro, Laurinda Alves solicitou às juntas de freguesia da cidade que divulgassem a iniciativa junto de «pessoas em situação de vulnerabilidade» (ou seja, pessoas pobres, carenciadas, se prescindirmos do eufemismo), promovendo a sua adesão às atividades a realizar no Parque Eduardo VII (que incluíam o tema da empregabilidade), seguidas de um almoço «em formato "piquenique"» (com a inevitável entrega prévia de senha) e procedendo-se então à dita marcha, até ao arco da Rua Augusta.

Por mais que se tente perscrutar a bondade da iniciativa, não se encontra um propósito digno nesta ideia de juntar os «vulneráveis» e assim os expor, num conjunto devidamente delimitado, ao olhar da cidade, aos olhos dos «não-vulneráveis». Que mensagem se quer transmitir? Em nome de quê marchariam estas pessoas, num desfile que não nasce sequer da sua vontade? Como se sentiria quem caminha no meio desta mole humana, sabendo-se e sentindo-se à partida rotulado como parte dos «vulneráveis»? Ninguém entre os promotores colocou questões como estas e pensou em tudo isto, por um segundo que fosse?

O problema é que esta ideia brota, indisfarçavelmente, da «caridadezinha». Do caritativismo onde o que sobra em preconceito de classe falta em humanismo e empatia, no melhor esteio da escola Jonet. Uma caridadezinha onde o que sobeja em voluntarismo irrefletido e autocentrado escasseia em respeito pelo outro e pela sua dignidade. Se têm dúvidas atentem nas reações da vereadora e de Henrique Pinto (da Passionate Happenings) na sequência do cancelamento da dita marcha, a oscilar entre a tentativa de transformar a questão num «vergonhoso aproveitamento político» e o apelidar os críticos de «incompetentes, estúpidos e ignorantes». Um primor.


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