AVISO

OS COMENTÁRIOS, E AS PUBLICAÇÕES DE OUTROS
NÃO REFLETEM NECESSARIAMENTE A OPINIÃO DO ADMINISTRADOR DO "COMO UM CLARIM DO CÉU"

Este blogue está aberto à participação de todos.


Não haverá censura aos textos mas carecerá
obviamente, da minha aprovação que depende
da actualidade do artigo, do tema abordado, da minha disponibilidade, e desde que não
contrarie a matriz do blogue.

Os comentários são inseridos automaticamente
com a excepção dos que o sistema considere como
SPAM, sem moderação e sem censura.

Serão excluídos os comentários que façam
a apologia do racismo, xenofobia, homofobia
ou do fascismo/nazismo.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

O filme da luta de boxe que foi proibida em todo o mundo por causa da segregação


 

No início do século 20, a luta de boxe era ainda mais incivilizada do que agora. Enquanto as lutas entre lutadores negros contra brancos atraíam multidões, as lutas pelo título dos pesos pesados eram segregadas. 

Havia o "Campeão Mundial de Pesos Pesados", que era branco por padrão, e um "Campeão Mundial de Pesos Pesados Negro" separado. Jack Johnson trabalhou durante anos para ter a chance de lutar contra o campeão dos pesos pesados Tommy Burns, e o derrotou em 1908, mas a polícia subiu no ringue para acabar com a luta antes que Jack nocauteasse Tommy.


O filme sobre boxe que foi banido em todo o mundo por causa da segregação

A luta ocorreu em Sydney, Austrália, na frente de 20.000 espectadores, em sua maioria brancos, e foi filmada por câmeras de cinema. Poucos dias depois as salas de cinema se abarrotavam de gente para ver a vitória sem esforço de Jack.

A derrota de Tommy interrompeu a narrativa da superioridade branca, e no momento da vitória de Jack começou uma busca desenfreada por um boxeador branco. 

Foi quando desaposentaram o ex-campeão Jim Jeffries para reaver o título.

A luta deles, conhecida como a "Batalha do Século", aconteceu em Reno, no estado americano de Nevada, em 4 de julho de 1910, na frente de 20.000 espectadores na maioria brancos e nove câmeras de cinema. 

Em todo o país, muitos milhares mais ouviam os boletins de rádio ao vivo de cada round.

Johnson venceu Jeffries facilmente e, como resultado, a violência estourou em todo o país, e afro-americanos que comemoravam a vitória de Jack eram atacados e alguns foram mortos.

O filme da luta foi banido e, portanto, tornou-se o filme que todos queriam ver anos depois. Este vídeo fantástico da Vox conta toda a história. Ele tem legendas em inglês, então basta habilitá-las e usar o tradutor do player do Youtube.






VÍDEO


www.mdig.com.br

Terei que usar uma máscara depois de receber a vacina Covid? A ciência explicou

 

Com a vacina one-shot da Johnson & Johnson próxima da distribuição nos Estados Unidos, o fim da pandemia parece um grande passo mais perto. Mas nem tudo vai voltar ao normal imediatamente








A resposta é complicada: a grande maioria das pessoas vacinadas estará protegida contra Covid-19 , a doença causada pelo vírus SARS-CoV-2. No entanto, as pessoas vacinadas ainda podem transmitir o vírus, embora não apresentem quaisquer sintomas.

“Nós sabemos agora que as vacinas podem proteger, mas o que não tivemos tempo suficiente para entender realmente é - elas protegem contra a propagação?” disse Avery August, professor de imunologia da Universidade Cornell.

Isso ocorre porque o vírus SARS-CoV-2 ainda pode colonizar o trato respiratório, mesmo que as células do sistema imunológico sistêmico protejam todo o corpo da doença que ele causa - Covid-19.

É assim que funciona:

vacina para o coronavírus é injetado profundamente no tecido.

Ele faz com que nossos corpos se formem anticorpos para lutar contra vírus sistematicamente.

Alguns daqueles sistêmicos anticorpos circulam para outras partes do corpo e nos protegem contra doenças graves.

Coronavírus normalmente entra no corpo pelas cavidades nasais.

Os cientistas ainda estão estudando se o corpo produz o suficiente anticorpos no nariz para prevenir o vírus de proliferar lá.

Enquanto isso, o vírus também tentará se proliferar em outras partes do corpo, como nosso sistema respiratório.

Anticorpos sistêmicosprovavelmente irá matá-los. Isso significa que uma pessoa vacinada provavelmente não desenvolverá sintomas, mesmo que ovírus multiplica no nariz.

Mas as pessoas vacinadas ainda podem ter o suficiente vírus no nariz para infectar outras pessoas.

Então, se uma pessoa vacinada respira ou espirra eles ainda podem infectar outra pessoa, mesmo que se sintam bem.

Isso significa que as pessoas vacinadas ainda precisam usar máscaras e se distanciar socialmente, mesmo que o risco individual seja muito menor.













Quando posso parar de usar máscara?

Segure sua (s) máscara (s) pelo futuro próximo. No momento, existem várias incógnitas, o que torna o uso de máscaras e o distanciamento social importante para proteger a comunidade em geral.

Os cientistas também estarão observando de perto como as mudanças evolutivas no vírus, ou variantes , afetam a eficácia das vacinas. Os pesquisadores já descobriram que a eficácia da vacina Johnson & Johnson foi reduzida na África do Sul, onde a variante B1351 está presente.Primeiro, os cientistas não sabem como as vacinas Covid-19 podem proteger contra a transmissão assintomática do SARS-CoV-2 (conforme explicado acima). Existem sinais promissores - mas a pesquisa permanece incompleta. Os pesquisadores também não sabem por quanto tempo as vacinas de Covid-19 podem proteger as pessoas contra o vírus.

No entanto, o fator mais importante pode ser até que ponto os adultos elegíveis aceitam a vacina . As crianças podem espalhar a doença, mas não são elegíveis para a vacina ; algumas pessoas podem estar com o sistema imunológico muito comprometido para tomá-lo; e outros podem enfrentar barreiras burocráticas à vacinação .

De que adianta tomar a vacina se ainda tenho que usar máscara

?Pense no uso de máscara e no distanciamento social como um continuum de estratégias de mitigação de risco, que estão em vigor enquanto os cientistas conduzem pesquisas, mais e mais pessoas são vacinadas e a prevalência de Covid-19 diminui.

Por exemplo, à medida que as vacinas continuam a ser distribuídas, pequenos grupos de pessoas vacinadas se tornarão mais comuns. Essas mesmas pessoas precisam, então, ter cuidado com o distanciamento social e o uso de máscaras em público, pois podem transmitir a doença em uma comunidade mais ampla.

A esperança é que, à medida que mais e mais pessoas forem vacinadas, menos pessoas terão casos graves de Covid-19 e que a pressão sobre o sistema de saúde diminua com a prevalência da doença.

“Esperamos poder vacinar a maioria da população”, disse o Dr. Bruce Y Lee, professor de política de saúde da Escola de Saúde Pública da City University of New York “É quando podemos começar a falar sobre como voltar ao normal.”

Quando teremos essas respostas?

Os estudos sobre até que ponto as vacinas protegem contra a transmissão são contínuos e promissores, mas incompletos. É improvável que as vacinas forneçam proteção completa ou “esterilizante”. Apenas um punhado de vacinas é capaz de fazer essa afirmação, incluindo, por exemplo, a vacina contra a varíola . No entanto, se uma vacina reduzisse significativamente a transmissão, seria uma boa notícia para a capacidade mundial de conter o vírus.

Em circunstâncias normais, esses tipos de perguntas podem ter sido respondidas em testes clínicos de vacinas que duraram anos. Nessa situação de emergência, deter a doença era uma meta mais importante, e as vacinas disponíveis fazem isso de maneira muito eficaz.

“Provavelmente saberíamos à medida que mais e mais pessoas fossem vacinadas, em algum lugar perto de meados de setembro”, disse agosto.

Porém, é importante ressaltar que as vacinas não precisam necessariamente fornecer proteção completa para ajudar a combater a pandemia. “Se todos forem vacinados, haverá menos vírus ao redor”, disse 









https://www.theguardian.com/

Os Flechas: o exército secreto da PIDE em Angola




O emprego de grupos autóctones em ações de combate contra os independentistas não era uma novidade. 

Porém, ao contrário de grupos semelhantes criados por ingleses, franceses ou sul-africanos, os “Flechas” atuavam na dependência direta dos serviços secretos da PIDE/DGS. 

Com a sua criação em 1967 procurou-se, acima de tudo, melhorar a capacidade de recolha de informações estratégicas, operacionais e táticas, tentando desenvolver ações encobertas e clandestinas de combate aos grupos  que ganhavam cada vez mais terreno em Angola.

Os “Flechas” eram constituídos principalmente por bosquímanos, um povo que habitava a parte sul de África há vários séculos e que se dedicava à caça e à recoleção. 

Foi  Óscar Cardoso que lhes escolheu o nome, por utilizarem arcos e flechas envenenadas para caçarem. 

A grande vantagem de formar um grupo de bosquímanos estava no seu conhecimento do território africano — conseguiam permanecer vários dias destacados em território hostil, alimentando-se do que a natureza lhes dava, perseguindo pistas e seguindo o rasto de insurgentes.

Uma vez encontrados os acampamentos dos independentistas, bastava conduzirem ações de vigília para obterem mais informações e esperarem para fazer uma emboscada. 

A ordem era que capturassem os opositores e os levassem para serem interrogados. 

Porém, isso raramente acontecia — na maioria das vezes, os “Flechas” acabavam por matar os insurgentes durante os confrontos. 

As informações recolhidas no acampamento eram depois entregues a elementos da PIDE/DGS para serem analisadas.

Esta realidade da guerra angolana, desconhecida de muitos portugueses, é o tema do livro 

Os Flechas: A tropa secreta da PIDE/DGS na Guerra de Angola, de Fernando Cavaleiro Ângelo, chefe da Divisão de Informações do Comando Naval e diretor do Centro de Análise e Gestão de Dados Operacionais, o primeiro publicado em Portugal sobre os “Flechas”. 

Baseando-se em documentos, fontes históricas inéditas e recorrendo ao testemunho em primeira mão de Óscar Cardoso, Cavaleiro Ângelo procurou descrever o impacto deste grupo paramilitar no contexto angolano e internacional.

“Os Flechas: a tropa secreta da PIDE/DGS na guerra de Angola”, de Fernando Cavaleiro Ângelo (Casa das Letras)


“Os Flechas nasceram na região do Cuando-Cubango, propagaram-se à vila de Gago Coutinho (Lumbala Nguimbo) e, na fase final do conflito, chegaram à região de Luanda, Luso (Luena) e Caxito, onde assumiram um carácter especial por serem aí antigos combatentes do MPLA capturados pelas tropas portuguesas. 

Devido ao sucesso obtido, mormente no Leste de Angola (onde o nome Flechas já causava alguma intimidação nos insurgentes, pois a sua atuação resultara no desmantelamento de entrepostos, rotas logísticas e acampamentos, e também em inúmeras emboscadas infligidas particularmente no interior do refúgio zambiano), o recrutamento de novos Flechas foi estendido a outros grupos étnicos que não os originais bosquímanos. 

Com efeito, o número de bosquímanos não chegava para se ter uma presença substancial nas diversas frentes de combate.

Na fase final da guerra de Angola, quase todas as subdelegações da PIDE/DGS em áreas afetadas pela atividade insurgente tinham os seus próprios Flechas. Torna-se, por isso, difícil perceber se o sucesso se deveu ao uso de bosquímanos, ou se foi o próprio conceito de «exército privado» liderado exclusivamente pela PIDE/DGS que fez a diferença.

Na fase inicial, os Flechas bosquímanos efetuavam as suas missões sempre sozinhos. Não gostavam da companhia dos brancos, pois o cheiro da pasta de dentes e da pomada da barba, para além de interferir com o seu apurado olfato, permitia que os os guerrilheiros do MPLA os detetassem a distâncias apreciáveis, se o vento estivesse de feição. 

Adicionalmente, a sua marcha era deveras atrasada pelo ritmo lento dos brancos e o ruído que estes provocavam ouvia-se a léguas. Alimentavam-se de raízes, carochas, insetos, frutos e animais, e negavam as rações de combate. 

Na única ocasião em que lhes foram fornecidas rações de combate, os bosquímanos comeram literalmente tudo de uma vez. 

Nem os plásticos que protegiam alguns alimentos se safaram. 

Chegou-se, então, à conclusão de que seria mais profícuo manter os hábitos tradicionais dos bosquímanos intocados. 

A mudança de hábitos e tradições podia ser prejudicial ao desempenho dos Flechas, pois a sua ocidentalização anularia o lado primitivo que tanta vantagem lhes concedia sobre os brancos e os negros bantos.

"Em Angola, os missionários protestantes e católicos eram os únicos capazes de comunicar com os bosquímanos e outros grupos étnicos, e muitos deles terão sido agentes a soldo de outros serviços de informações estrangeiros."

Numa fase posterior, havia pelo menos um elemento da PIDE/DGS que acompanhava, por rotina, os Flechas no decorrer das suas missões, tanto para efeitos de coordenação e direção como para coadjuvar na recolha de informações. Algumas missões eram conduzidas com tropas portuguesas e elementos da PIDE/DGS, e outras exclusivamente levadas a cabo pelos próprios Flechas, tais como operações de reconhecimento, vigilância e encobertas, muitas vezes durando mais de 15 dias.

Nenhum grupo de Flechas excedia os 30 elementos e todos operavam, na maioria das vezes, em áreas onde estavam familiarizados com os dialetos e o terreno. No seu primeiro ano de existência, os Flechas atingiram os 600 elementos, subindo o número para cerca dos mil em 1974. Entre 1968 e 1971, nas diversas subdelegações da PIDE/DGS, chegou-se ao número de 489 Flechas na Zona Militar Leste, 255 na Zona Militar Sul e perto de 158 na Zona Militar Norte. Não sendo já a maioria desses Flechas bosquímanos, a sua maior concentração localizava-se na Frente Leste, com as suas principais áreas de operação em torno das cidades de Carmona (Uíge), Caxito, Gago Coutinho (Moxico) e Serpa Pinto (Menongue).

No período compreendido entre 1970 e 1973, a maioria das operações executadas pelos Flechas teve como área de atuação a Zona Militar Leste, num total de 119 missões, das quais 88 ocorreram em 1972. 

Esse ano acabou por representar um marco na luta contra o MPLA, fruto das roturas internas no próprio movimento, do desmantelamento de toda a estrutura logística proveniente da Zâmbia, das ações dos Flechas e do esforço coordenado entre os militares, a PIDE/DGS e os congéneres vizinhos da Rodésia e África do Sul. 

As outras zonas militares tinham números muito abaixo desses: a Zona Militar Norte contava com 50 missões, a Zona Militar Sul com 33 e a Zona Militar Centro somente com quatro. 

Em termos de grupos independentistas o MPLA era o principal alvo dos Flechas, com um total de 54 missões registadas, seguido da FNLA com nove e da UNITA com duas. Na Frente Leste, a zona de guerra mais ativa em Angola, os Flechas capturaram 46 insurgentes, mataram mais de 134, apreenderam largas quantidades de armas, munições e documentos extremamente importantes.




 Entrega de condecorações aos Flechas da província de Uíge, envergando estes a famosa boina camuflada instituída pelo inspetor da PIDE Alves Cardoso

Um dos maiores obstáculos ao processo de recolha de informações da PIDE/DGS era a proliferação de línguas faladas em Angola, um número que atingiria os 15 dialetos. Para as fontes humanas que andavam no terreno com a missão de recolha de informações era vital a compreensão exata das mensagens, sob o risco de estas serem deturpadas e indevidamente enquadradas na realidade da situação. Os intérpretes eram, portanto, o elo. Em Angola, os missionários protestantes e católicos eram os únicos capazes de comunicar com os bosquímanos e outros grupos étnicos, e muitos deles terão sido agentes a soldo de outros serviços de informações estrangeiros.

Muitas das informações recolhidas por esses espiões seriam usadas para pressionar Portugal na arena internacional. 

Para evitar a situação, a PIDE/DGS planeou diversos ataques clandestinos de tropas auxiliares nativas fardadas com uniformes de independentistas, para se livrar dos alegados espiões sem qualquer exposição mediática que desencadeasse um incidente diplomático com os países mandantes. 

Alguns missionários protestantes seriam agentes a trabalhar para serviços de informações norte-americanos, britânicos e franceses. 

Numa das missões em Catota, localidade perto de Serpa Pinto (Menongue), um missionário acabou por ser identificado como espião da agência de espionagem norte-americana CIA, após a interceção e análise de correspondência diversa. Existiu igualmente a suspeita de que colaborasse também com a UNESCO.

O missionário escreveu diversas cartas para os Estados Unidos da América com uma descrição exaustiva da situação interna em Angola, com informação sobre as tendências e motivações da população, as atividades e desenvolvimentos operacionais, as localizações das tropas portuguesas e insurgentes, os ataques ocorridos e a avaliação dos efeitos das diversas manobras militares entre as partes beligerantes, entre outros dados pertinentes. 

A redação desses relatórios de informações foi percecionada pela PIDE/DGS como um acto hostil à presença portuguesa em Angola, o que desencadeou o planeamento de um ataque direto para incutir medo ao missionário. 

A tarefa foi entregue aos Flechas, que usariam uniformes da UNITA, para deixar a ideia de que se tratava de um ato de vandalismo perpetrado por um grupo insurgente. A ação de intimidação, além de implicar a UNITA, teve o resultado esperado sobre os alegados espiões.

"Os Flechas possuíam, definitivamente, um sexto sentido que lhes permitia antecipar o perigo e saber, assim que entravam numa área, se o inimigo lá estava ou não. 

Tratar-se-ia de uma combinação de experiência com profundo conhecimento da natureza do inimigo."

Estávamos em meados de 1970, numa noite abrasadora com índices de humidade bastante altos e um céu coberto de estrelas cintilantes. 

O plano era os Flechas deslocarem-se pela calada da noite, entrarem na casa do missionário e provocarem alguns estragos para lhe provocarem um susto que lhe permanecesse para sempre gravado na memória. 

E lá foram por entre os arbustos, movimentando-se de forma cautelosa e silenciosa, como felinos à procura de presas, não emitindo qualquer ruído que acordasse o alvo. 

A entrada na casa deu-se de forma cautelosa, não fosse estar alguém por detrás da porta. Num ápice imobilizaram o missionário, tapando-lhe a boca para que não gritasse, e começaram as tropelias destruidoras dentro da residência. 

Nem as bebidas escaparam à onda de destruição. O missionário terá mudado a sua perceção da presença portuguesa em África. 

O efeito desejado foi, aparentemente, alcançado e os volumes de correspondência, bem como a natureza das missivas, alteraram-se radicalmente.

Noutra missão com contornos semelhantes, desta feita numa localidade chamada de Xamavera, no Cuando-Cubango, a PIDE/DGS ordenou os Flechas, novamente trajados como independentistas que atacassem uma congregação de frades franceses denominada Irmãos do Nosso Senhor Jesus Cristo. 

Eram suspeitos de providenciar alimentação aos insurgentes e, cumulativamente, operar em prol dos serviços secretos franceses, a SEDEC (Service de documentation extérieure et de contre-espionnage). 

O modus operandi foi em tudo idêntico, mas, alegadamente, com mais contacto físico com os irmãos. Desse ataque de surpresa resultou a retirada dos frades de Angola, o que satisfez o objetivo da PIDE/DGS de impedir que os missionários informassem países que pudessem interferir, de forma direta ou indireta, no desenrolar das operações portuguesas contra os insurgentes.




 Óscar Cardoso a ministrar formação de manuseamento de uma metralhadora ligeira Browning MAG 7,62mm a um Flecha Bosquímano

O número de missões atribuídas aos Flechas em Angola durante o ano de 1972 é, per se, demonstrativo da importância dessa «tropa secreta» da PIDE/DGS: 128 missões conjuntas com o exército e 316 atuando de forma autónoma. Além de excelentes fontes de informações, os Flechas mostravam uma «elevada eficiência operacional». Assim provam as diversas condecorações e louvores que os Flechas acumularam durante um período de três anos. 

Foram agraciados com 14 Cruzes de Guerra e 11 louvores do governador-geral de Angola, o que é deveras representativo da eficiência e eficácia das suas operações militares e de recolha de informações em apoio das atividades de contrainsurgência das tropas portuguesas.

Foram, igualmente, reconhecidos pelas SADF com a condecoração Honoris Crux, pela sua lealdade e bravura no combate ao movimento insurgente independentista SWAPO, depois da independência de Angola em 1974. 

O sul-africano Delville Linford reconheceu a excelência dos Flechas bosquímanos na arte da recolha de evidências e provas, ações de reconhecimento e vigilância, pese embora não fossem capazes de interpretar ou contextualizar as informações que obtinham.

Os Flechas possuíam, definitivamente, um sexto sentido que lhes permitia antecipar o perigo e saber, assim que entravam numa área, se o inimigo lá estava ou não. 

Tratar-se-ia de uma combinação de experiência com profundo conhecimento da natureza do inimigo. 

O tenente-coronel Ron Reid-Daly, comandante dos Selous Scouts na Rodésia, considerou-os os melhores soldados indígenas que alguma vez conhecera durante a sua comissão de serviço em África. Reid-Daly possuía uma enorme experiência na arte da guerrilha não só na Rodésia, mas também na Malásia, durante a sua missão no Special Air Service (SAS) britânico, tropa especial de comandos temidos em todos os teatros operacionais em que participaram. 

(VÍDEOS) AS MANIFESTAÇÕES EM ESPANHA NESTE FIM DE SEMANA MOSTRAM QUE O VANDALISMO SE APROVEITA DA CONTESTAÇÃO PARA OUTROS FINS - Pelo menos 13 presos nas manifestações em Barcelona


  

Pelo menos 13 presos  em Barcelona 



Protestos violentos contra a prisão do rapper Pablo Hasel recomeçaram em Barcelona, ​​levando a mais de uma dúzia de prisões enquanto manifestantes incendiaram uma van da polícia, atiraram objetos contra policias e danificaram bancos e outras empresas.


O vídeo filmado de outro ângulo próximo à mesma cena mostra pessoas jogando garrafas, sinalizadores e outros objetos  e pintando os veículos com símbolos anarquistas.


RT

O momento em que os manifestantes quebraram a vitrine de uma loja de roupas Zara também foi capturado em vídeo.

RT



A violência de sábado se seguiu a duas noites relativamente calmas em Barcelona, ​​enquanto a cidade tinha uma pausa das manifestações. Os protestos começaram em Barcelona e Madrid depois que Hasel foi preso em 16 de fevereiro. 


A molécula que salvou a vida de centenas de milhares de pacientes de covid



 

elpais.com


Centenas de milhares de pessoas devem suas vidas a uma molécula composta de 22 átomos de carbono, 29 hidrogênio, um flúor e cinco oxigênio: dexametasona (C₂₂H₂₉FO₅). A Dra. Ana Fernández Cruz lembra o desamparo que sentiu na primeira onda da pandemia, quando ela e seus colegas ao redor do mundo atiraram "às cegas" contra o novo coronavírus e pacientes morreram sufocados em hospitais lotados. 

Nenhum tratamento funcionou. Os mortos foram amontoados em necrotérios improvisados .

A equipe médica, do hospital Puerta de Hierro Majadahonda, em Madri, foi pioneira na investigação da eficácia da dexametasona, um antiinflamatório sintetizado em 1957 que mal custava algumas moedas de euro. 

E eles estavam certos. Um grande ensaio clínico coordenado pela Universidade de Oxford (Reino Unido) mostrou em junho que a molécula reduz em um terço o risco de morte nos pacientes mais graves. 

Os autores descobriram rapidamente: a dexametasona poderia salvar 650.000 vidas no restante do ano.

José Luis Barredo , nascido há 59 anos na cidade de Trespaderne, em Burgos, lembra que seu primeiro trabalho foi na vizinha usina nuclear Santa María de Garoña, como acontecia com todas as crianças da região. Quando completaram 18 anos, eles entraram na instalação atómica para fazer tarefas de limpeza ou manutenção. 

“Eles contratavam  por um mês no verão,  recebiam o seu dinheiro e com o que ganhava era capitão-general”, lembra ele. 

Barredo estudou Biologia e hoje é um dos responsáveis ​​pela única fábrica de dexametasona na Espanha, a da empresa Crystal Pharma, em Boecillo, a cerca de 15 quilômetros de Valladolid.

A fábrica de Valladolid produziu 3.000 quilos de dexametasona no ano passado, 65% a mais do que antes da pandemia. 

Pode parecer uma coisa pequena, mas Barredo coloca a figura em perspectiva: se as três toneladas fossem dedicadas a tratamentos para pacientes , seriam suficientes para 50 milhões . 

Cálculos da Universidade de Oxford mostram que para cada oito pacientes gravemente enfermos tratados com dexametasona , uma morte é evitada .

A história da molécula começa em 1941, em plena Segunda Guerra Mundial. Corriam então rumores de que os nazistas organizavam missões secretas em submarinos para adquirir na Argentina as glândulas supra-renais de vacas, das quais extraíam hormónios esteróides com os quais aumentavam a resistência de seus pilotos de combate. 

As autoridades norte-americanas consideraram uma prioridade científica a obtenção da síntese artificial de um desses hormónios, a cortisona. 

Um químico de 26 anos, Lewis Sarett , teve sucesso em 1944 com um método revolucionário . 

Seu sobrinho de 12 anos, Donald Rumsfeld , acabaria como secretário de Defesa dos Estados Unidos e promotor das guerras no Afeganistão, em 2001, e no Iraque, em 2003.

Os pesquisadores Lewis Sarett e Glen Arth (centro) sintetizaram a dexametasona em 1957, nos laboratórios da Merck & Co.
Os pesquisadores Lewis Sarett e Glen Arth (centro) sintetizaram a dexametasona em 1957, nos laboratórios da Merck & Co. MSD.

O boato dos pilotos nazistas sobre hormónios com cortisona argentina, no entanto, era falso. 

No final da Segunda Guerra Mundial, a farmacêutica Merck & Co., onde Lewis Sarett trabalhava, promoveu a busca por aplicações reais para a molécula. 

Dois pesquisadores, Philip Hench e Edward Kendall, decidiram experimentar a cortisona como tratamento  numa mulher com artrite reumatóide, considerada uma das doenças mais cruéis e incapacitantes da época . O paciente melhorou notavelmente em apenas três dias em setembro de 1948. E Hench e Kendall dividiram o Prêmio Nobel de Medicina em 1950 .

A cortisona era considerada um antiinflamatório milagroso, mas apresentava efeitos adversos consideráveis, como causar delírios em muitos pacientes. 

Em dezembro de 1957, Lewis Sarett e seu colega Glen Arth sintetizaram uma nova versão, mais segura, mais barata e 35 vezes mais potente. 

Dexametasona nasceu. 

A droga não funciona para eliminar o coronavírus, mas mitiga a reação inflamatória descontrolada que surge em alguns pacientes  e pode ser letal.

Um precursor da dexametasona deve o seu nome à legião romana que deu origem à cidade de León

José Luis Barredo explica o incrível método de síntese da molécula. A viagem começa no sul dos Estados Unidos, nas gigantescas plantações de pinheiros destinadas à produção de papel. As fábricas que transformam a madeira em celulose geram um resíduo do qual podem ser extraídos os esteróis vegetais , compostos que são adicionados aos laticínios anunciados na televisão como bons para baixar o colesterol . A empresa de Barredo compra toneladas desses esteróis de pinho nos EUA e os leva para a Espanha, no Parque Tecnológico de León.

A bióloga mostra uma espécie de horchata, obtida após deixar os esteróis vegetais na água por 48 horas, com um cockail de bactérias selecionadas. 

Os microrganismos então geram um novo composto químico, que a empresa conhece pelo nome épico de gemina. 

O nome da cidade de deriva León de Legio, porque a Legião Romana Legio VII Gemina foi estabelecida há no século 1 . “Produzimos semanalmente cerca de 20 mil litros desse caldo de fermentação com gema”, explica Barredo.

Um camião-tanque leva esta horchata de León às instalações da empresa em San Cristóbal de Entreviñas (Zamora). 

Lá a gema é purificada e  transforma-se  num sólido branco com aparência de açúcar. 

A jornada continua em camiões que transportam toneladas de gemas até a fábrica da Crystal Pharma em Valladolid, onde, por meio de uma dezena de etapas de síntese química, são convertidas em dexametasona. 

A receita inteira é um segredo comercial.

Esta viagem pela chamada Espanha vazia termina em meio mundo. A Crystal Pharma - que além da dexametasona fabrica outros insumos farmacêuticos - exporta 90% de sua produção para mais de 70 países, segundo dados do Barredo. “Estamos orgulhosos de nossa contribuição na luta contra a pandemia”, comemora. A multinacional americana AMRI comprou o grupo empresarial Crystal Pharma em 2015 por cerca de US $ 175 milhões.

A médica Ana Fernández Cruz, do hospital Puerta de Hierro Majadahonda, em Madrid.
A médica Ana Fernández Cruz, do hospital Puerta de Hierro Majadahonda, em Madrid. Imagem de espaço reservado de Andrea Comas

“A base do tratamento da covidose grave, no momento, é a dexametasona”, diz o farmacêutico Jesús Sierra , da Sociedade Espanhola de Farmácia Hospitalar (SEFH). 

Os resultados do ensaio clínico da Universidade de Oxford, detalhados nesta quinta-feira, mostram que 34 pessoas precisam ser tratadas para salvar uma vida no grupo de pacientes que precisam de oxigénio, mas não estão em estado crítico. 

Na UTI, apenas oito pacientes gravemente enfermos precisam ser tratados para evitar um óbito. 

Sierra lembra que um tratamento de 10 dias com comprimidos de dexametasona custa pouco mais de três euros. Por via intravenosa, conforme aplicado nas UTI, o preço oficial chega a 25 euros por paciente. “Salvar uma vida custaria entre 100 e 200 euros”, resume o farmacêutico, do Hospital Universitário de Jerez de la Frontera (Cádiz).

“Salvar uma vida com a dexametasona custa entre 100 e 200 euros”, explica o farmacêutico Jesús Sierra

A dexametasona é a melhor descoberta em um ano de pandemia, mas não é uma bala de prata, longe disso. O estudo Oxford, realizado na primeira onda, mostra que a mortalidade dos pacientes em ventilação mecânica na UTI caiu de 41% para 29% graças à dexametasona. “Ainda há uma mortalidade muito alta em pacientes covid hospitalizados”, lamenta Sierra. 

A combinação de dexametasona com tocilizumabe - um medicamento contra a artrite reumatóide que custa cerca de 1.000 euros por pessoa - reduz a mortalidade de pacientes internados na UTI em até 50% , de acordo com os últimos resultados do estudo Oxford, publicado em 11 de maio. 

 Esses 50% é o máximo que foi alcançado até agora em Fevereiro

A médica Ana Fernández Cruz ressalta que a molécula C₂₂H₂₉FO₅ só tem utilidade em pacientes gravemente enfermos. 

Se administrado muito cedo, pode até ser prejudicial. 

O Hospital Puerta de Hierro Majadahonda teve cerca de 150 pacientes  internados ao mesmo tempo nesta última onda e praticamente todos estavam em tratamento com dexametasona. 

O medicamento, segundo o médico, pode produzir alguns efeitos adversos , como o aumento do açúcar em diabéticos, mas é um risco perfeitamente aceitável. “Entre morrer e não morrer, compensa totalmente”, diz o médico.