O fantástico reino do Sião sobrevive nas antigas capitais de Ayutthaya e Sukhothai e nos plácidos montes que as abraçam. Com os seus canais e templos, Banguecoque é um emocionante ponto de partida para uma viagem que alcança as aldeias tribais do Triângulo de Ouro.
Texto: Georgina Higueras
É difícil escapar à magia de Banguecoque, uma das cidades mais dinâmicas do mundo. De entrada, o viajante fica fascinado pela beleza dos seus palácios e mosteiros, pela simpatia da sua população, pela riqueza do seu artesanato, pelo colorido dos seus mercados, pela delicadeza das suas danças e pelas delícias da sua gastronomia. Tudo isto temperado por um tráfego caótico, um comboio elevado e metro sempre apinhados, barcos e balsas agitados, táxis ruidosos, e claro, os tuk-tuks, os populares riquexós motorizados que serpenteiam pelas ruas no meio da Ásia.
A Tailândia, porém, não é só Banguecoque, e quem procurar neste país algo mais do que as paradisíacas praias encontrará nas antigas capitais o nirvana da arte tailandesa.
A saída da capital também significa recriar a paisagem dos extensos arrozais da planície central do país, dos quais depende boa parte do sustento, felicidade e riqueza dos seus habitantes.
O coração da Tailândia bate nestas férteis planícies, nas quais ao longo da história se estabeleceram os seus grandes núcleos da civilização. Para se deslocar pelo interior do antigo reino do Sião, o veículo mais apropriado é o autocarro, embora Ayutthaya, o primeiro destino desta viagem ao passado tailandês, se encontre tão perto de Banguecoque (85 quilómetros) que é mais rápido entrar numa das carrinhas que se encontram perto da estação Victory Monument.
Ayutthaya, tal como Lopburi e Sukhothai, é uma cidade velha, que espelha o desenho arquitectónico da antiga capital, conjugado com uma cidade nova dotada de múltiplos serviços.
A ENCRUZILHADA DA ÁSIA
Fundada em 1350 por Ramathibodi I, que chegou a Ayutthaya fugindo de um surto de varíola em Lopburi, a nova capital alcançou o apogeu entre os séculos XV e XVII, período em que se converteu num dos centros comerciais mais atraentes da Ásia. Mercadores, mercenários, monges, missionários e aventureiros vindos de países longínquos reuniam-se nesta cidade que rapidamente superou a fasquia de um milhão de habitantes. Khmers e birmaneses cobiçaram-na repetidamente até que finalmente estes últimos conquistaram-na e saquearam-na em 1767.
A animosidade com que os vencedores arrasaram a cidade ainda é palpável nas ruínas, sobre cujos pedestais se erguem centenas de budas decapitados. Ayutthaya, que foi residência de 33 reis, nunca mais voltou a ser habitada, mas algumas das suas prang (torres de santuário) permanecem de pé como testemunho do passado. As ruínas dos palácios e wat (recintos que reuniam templos, mosteiros e monumentos funerários) revelam a criatividade dos arquitectos. Também aqui, pintores e escultores expressaram em frescos e esculturas a sua religiosidade.
Embora ruidoso, como os lisboetas começam a descobrir também, o tuk-tuk é o meio de transporte mais cómodo e pitoresco para vencer os 95 quilómetros que distam de Lopburi. Aninhada entre as duas grandes capitais, Ayutthaya e Sukhothai, Lopburi guarda algumas das torres de santuário mais belas da Tailândia. Essas prang são santuários hindus aos quais posteriormente se adicionaram budas.
Conforme se avança até ao Norte da Tailândia, a planície central dá passagem a suaves colinas como as que rodeiam Sukhothai, a primeira capital do Sião desde meados do século XIII até finais do século XIV. Naquele reino de Sukhothai, viveu-se a idade de ouro da arte tailandesa. Os seus hábeis artesãos sintetizaram os diferentes estilos do Sri Lanka, Birmânia e Camboja, criando uma expressão artística genuína de extraordinária delicadeza.
Os tailandeses eram uma tribo proveniente da província chinesa de Yunnan que se instalou em território khmer. Mais tarde, a rebelião de algumas comunidades levou-as a avançar para sul em busca de um território onde pudessem estabelecer o seu próprio reino. Encontraram-no em Sukhothai. Abandonada no século XV, a cidade encontra-se 313 quilómetros a norte de Lopburi. O centro histórico tem menos de quatro quilómetros quadrados e é, tal como o de Ayutthaya, Património Mundial. Muitos pagodes dos seus 40 wat continuam de pé ou foram restaurados na altura em que o rei Vajiravudb (1910-1925) decidiu resgatá-la da selva que a invadira.
Sukhothai significa “amanhecer da alegria”, mas, actualmente, a capital do que fora um reino muito maior do que a Tailândia dorme o sono da história, enquanto a nova Sukhothai é uma insignificante cidade de
província com o mesmo nome. É preciso avançar mais 250 quilómetros para norte até voltar a encontrar em Chiang Mai, a principal cidade do Noroeste, o rebuliço e o colorido dos mercados de artesanato tailandeses.
A VARIEDADE DO NORTE
Chiang Mai, famosa entre 1960 e meados dos anos 1980 pelas suas casas de fumadores de ópio (hoje fechadas), reinventou-se. A cidade converteu-se na mais cosmopolita urbe depois de Banguecoque.
Enquanto centro do budismo Theravada nos séculos XIII e XIV, Chiang Mai preservou dezenas de wat dessa época. Talvez o melhor momento para os visitar seja durante a festividade da Lua cheia que tem lugar em Novembro. Durante as festas, é possível livrar-se do mal lançando lanternas de papel no céu nocturno (Thai Yi Peng) ou igualmente nas águas do rio Ping em flores de lótus (Loy Krathong).
O íman que mantém um fluxo constante de visitantes na região não se deve tanto aos seus templos ou à singular arquitectura de madeira de estilo Lanna (um reino contemporâneo de Sukhothai), mas sim à sua localização e à diversidade de etnias que povoam as montanhas mais próximas. Chiang Mai e Chiang Rai encontram-se às portas do chamado Triângulo de Ouro, a região que reúne a Tailândia, Myanmar (antiga Birmânia) e Laos. durante os séculos XIX e XX, esta foi uma das maiores áreas de cultivo e comércio de ópio, ganhando um lugar no imaginário global e na cultura cinematográfica.
O Triângulo de Ouro foi, durante décadas, a zona ligada à aventura e à selva, a contrabandistas e apátridas, mas há mais de duas décadas que as suas montanhas são também um apreciado destino turístico. Aqui, encontram-se comunidades de tradições ricas, tradições notáveis e outras, felizmente, em decadência, como as tristemente célebres mulheres-girafa, às quais se esticava o pescoço com aros de latão desde crianças.
Esta é também uma zona ideal para caminhadas. No Parque Nacional Doi Inthanon, ergue-se o pico mais alto do país. Com frequência, o viajante descobre pagodes no alto das colinas atapetadas de arrozais ou debruçando sobre os rios sulcados de barcaças.
É um refúgio de natureza e tradição.
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