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quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Espanha já enfrenta segunda vaga e pode contaminar o resto da Europa





zap.aeiou.pt 

A propagação do coronavírus está a acelerar em Espanha mais depressa do que em qualquer outro país da Europa. Os números dos últimos dias deixam Governo e especialistas preocupados, fruto de um crescimento rápido que sinaliza uma segunda vaga que chegou mais cedo e que pode contaminar o resto do continente.
Espanha teve, no fim-de-semana passado, o maior número de novos casos da Europa, com 53 mil infectados detectados.
El País avança que Agosto terminou com “174.336 casos diagnosticados”, dos quais 23.572 desde sexta-feira passada, o que dá uma média de 5.623 novos casos diários. “É quase cinco vezes mais do que em Julho”, aponta o jornal espanhol.
Estes números indiciam que o vírus está a espalhar-se mais depressa em Espanha do que nos EUA, sendo que a propagação ocorre duas vezes mais rápido do que em França e oito vezes mais depressa do que em Itália e no Reino Unido, de acordo com dados divulgados pelo The New York Times.
No total, Espanha soma mais de 440 mil infectados e mais de 29 mil mortes associadas à covid-19.
No país vizinho, acredita-se que a famigerada segunda vaga da pandemia já começou, um pouco mais cedo do que se esperava – acreditava-se que chegaria apenas em Outubro.
Madrid é, de novo, o principal foco da epidemia, com um aumento de 70% nos pacientes internados com covid-19 durante o mês de Agosto, ainda segundo o El País.
A par da situação em Espanha, verificam-se também crescimentos nos novos casos em França, Alemanha, Grécia, Itália e Bélgica e noutras partes da Europa oriental.

Sánchez culpa cidadãos e comunidades autónomas

O líder do Governo espanhol, Pedro Sánchez, acredita que os motivos para este aumento rápido dos números são “claros”, apontando “a mobilidade” e “o ócio nocturno” como as principais causas numa entrevista à Cadena SER.
“Houve um relaxamento da cidadania“, refere também Sánchez, culpando ainda algumas comunidades autónomas “na parte administrativa” e considerando que têm de “melhorar os níveis de rastreio”.
Sánchez refere-se especificamente à situação em Madrid, considerando que “a evolução é preocupante“.
“O aumento é maior do que gostaríamos, mas é expectável”, diz, por seu turno, o director do Centro de Coordenação de Alertas e Emergências Sanitárias (CCAES), Fernando Simón, em declarações divulgadas pelo El País.
O responsável pela resposta de saúde de Espanha à pandemia nota que estão a ser detectados “quase tantos casos como nos picos de Março e Abril”, também graças a um aumento no número de testes realizados, constata.
“A população não tem que se angustiar, mas sim preocupar-se”, alerta Simón.
O professor Ildefonso Hernández da Sociedade Espanhola de Saúde Pública (Sespas) também diz ao El País que a evolução da pandemia é “muito preocupante”.
Na óptica de Hernández, os números provam que “não se levou a sério a vigilância epidemiológica, a detecção rápida e o rastreio de casos” e resultam, em parte, da “pressa” para retomar algumas actividades.

Férias e vida nocturna

A reabertura da vida nocturna, com menos restrições do que noutros países, é apontada como um dos factores para o aumento acelerado de casos. As discotecas e clubes nocturnos chegaram a poder abrir até às 5 da manhã nalgumas localidades muito dependentes economicamente do turismo e da diversão nocturna.
As férias, com a mobilidade de pessoas dentro do território espanhol, pode também ter contribuído para antecipar a segunda vaga de contágios, com os encontros familiares mais alargados e o regresso dos turistas ao país depois do fim do confinamento nacional obrigatório.
As questões culturais relacionadas com o facto de os espanhóis gostarem da proximidade, do toque e dos contactos sociais, bem como a resistência ao uso de máscaras são outros factores que podem ajudar a explicar a aceleração dos contágios.
“Talvez, Espanha seja o canário na mina de carvão”, constata no The New York Times o epidemiologista Antoni Trilla do Instituto de Barcelona para a Saúde Global que se dedica à investigação. A expressão significa que há um sinal de que vem aí um qualquer perigo.
“Muitos países podem seguir-nos – mas, felizmente, não à mesma velocidade ou com o mesmo número de casos que estamos a enfrentar”, prevê Antoni Trilla.

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