terça-feira, 27 de setembro de 2022

Crianças retiradas de complexo de seita judaica no México

 


Por Raffi Berg
BBC News

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Imagens de vigilância de crianças no complexo de Lev Tahor no MéxicoFONTE DA IMAGEM,RAFFI BERG
Legenda da imagem,
O grupo estava sob vigilância de uma equipe israelense e da polícia mexicana há meses

Crianças e adolescentes mais velhos foram removidos da selva de uma seita judaica no México após uma batida policial, apurou a BBC.

Dois membros do Lev Tahor foram presos por suspeita de tráfico de pessoas e crimes sexuais graves, incluindo estupro, disse o Ministério das Relações Exteriores de Israel.

Uma criança de três anos removida do complexo foi levada de avião para Israel.

Lev Tahor (hebraico para Coração Puro) é conhecido por práticas extremistas e pela imposição de um regime estrito aos membros.

Defende o casamento infantil, inflige punições severas até mesmo para transgressões menores e exige que mulheres e meninas de três anos de idade se cubram completamente com mantos.

A restrição rendeu ao grupo o apelido de talibã judeu, por causa das aparentes semelhanças com o código de vestimenta imposto pelo grupo extremista muçulmano sunita que controla o Afeganistão.

A polícia entrou no complexo a 17,5 quilômetros ao norte de Tapachula, no estado de Chiapas, na manhã de sexta-feira.

Eles foram instruídos por um juiz federal a deter vários líderes suspeitos de abuso infantil e resgatar membros da seita, após uma investigação da Procuradoria Geral do Ministério Público do Crime Organizado (Femdo).

Uma fonte israelense ligada à operação disse que os meninos e meninas foram rapidamente separados do resto do grupo, por medo de que suas vidas pudessem estar em risco por membros tentarem impedi-los de serem removidos.

Vinte e seis membros foram encontrados no complexo, entre eles israelenses com dupla cidadania, incluindo Canadá, Estados Unidos e Guatemala, disse o Ministério das Relações Exteriores de Israel.

Ele disse que um canadense e um cidadão israelense foram presos, enquanto outros dois membros procurados deixaram o complexo dois dias antes do ataque e estão sendo procurados. Outros cinco foram detidos por supostamente violar as regras de imigração.

Os membros restantes estão sendo alojados em uma instalação do Ministério do Bem-Estar do México, aguardando uma decisão sobre o que acontecerá com eles, disse o Ministério das Relações Exteriores de Israel.

O filho de três anos de um israelense, Yisrael Amir, que já havia deixado o grupo, estava entre os removidos do complexo. Amir, que estava presente durante o ataque, voou de volta para Israel com seu filho na segunda-feira.

'culto perigoso'

A polícia mexicana trabalhou ao lado de uma equipe voluntária de quatro homens de Israel, incluindo ex-agentes do Mossad, no planejamento e execução da operação.

A unidade policial de elite que invadiu o complexo "com muito cuidado e sem recorrer a qualquer violência" incluiu oficiais do sexo masculino e feminino por causa do número de mulheres e crianças na seita, disse a fonte de Israel.

"As autoridades mexicanas cumpriram seu dever da melhor maneira possível", acrescentou a fonte.

Imagens de vigilância de crianças no complexo de Lev Tahor no MéxicoFONTE DA IMAGEM,RAFFI BERG
Legenda da imagem,
Crianças de apenas três anos de idade viviam na seita

A operação foi iniciada há cerca de dois anos, quando Amir e outros parentes de alguns dos integrantes do grupo pediram ajuda a um dos ex-agentes.

A equipe viajou entre Israel e Guatemala, onde a filial vivia desde 2014, realizando operações de vigilância e trabalhando com autoridades locais, policiais e um investigador particular guatemalteco.

Em janeiro, cerca de 40 a 50 membros cruzaram ilegalmente o México, onde continuaram sendo rastreados, estabelecendo-se na selva ao norte de Tapachula.

A liderança na Guatemala está no centro de um caso de sequestro desde 2018, quando duas crianças que foram levadas para Nova York por sua mãe que fugiu da comunidade foram levadas de volta. Eles foram recuperados três semanas depois no México.

Nove dos membros da seita foram acusados ​​em conexão com o caso. Quatro - incluindo o filho do fundador e atual líder Nachman Helbrans - foram presos, enquanto um foi condenado, mas libertado por causa do tempo já cumprido e outro deve ser sentenciado em novembro. Dois aguardam julgamento e um está sob custódia na Guatemala.

O Lev Tahor foi formado em Israel em 1988 pelo rabino Shlomo Helbrans, que mais tarde se mudou para os EUA. Ele cumpriu dois anos de prisão depois de ser condenado por sequestro em 1994 e se afogar no México em 2017.

Com cerca de 350 membros, Lev Tahor foi forçado a se mudar de país para país nos últimos anos depois de estar sob escrutínio das autoridades locais. Atualmente, está espalhado entre Israel, EUA, Macedônia do Norte, Marrocos, México e Guatemala. Entre 70 e 80 membros ainda estão na Guatemala.

Embora o grupo seja frequentemente descrito como ultraortodoxo, ele segue seus próprios conjuntos de regras e foi declarado um "culto perigoso" por um tribunal israelense.

Seus líderes negaram violar as leis locais e dizem que o grupo está sendo alvo por causa de suas crenças.




https://www.bbc.com/

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

ONDE ESTAVA O TERROR QUANDO ZELINSKY SUGERIU TER ARMAS NUCLEARES?



Em 19 de Fevereiro de 2022, Zelinsky, na conferência de Munique da OSCE, comunicou que a Ucrânia não era obrigada a cumprir o Memorando de Budapeste, que visou desnuclearizar os países que resultaram da dissolução da URSS. Esta pretensão significava, e Zelinsky preocupou-se em deixá-lo bem vincado, que caso a Ucrânia considerasse que a garantia de segurança do tratado não funcionasse, estaria no seu direito de se rearmar com armas nucleares. Mais adiantou que, o seu ministro dos negócios estrangeiros já tinha sido instruído para tratar do assunto.
Desta feita, e perante a possibilidade de um regime de extrema direita, apoiado por neonazis e seguidores de Stefan Bandera – hoje com uma avenida em Kiev com o seu nome -, porque razão não despoletaram os EUA, a NATO e todo o seu aparato comunicacional, o terror e o medo nuclear? Não seria este um motivo suficiente para o efeito, dadas as consequências actuais de um “não estou a fazer bluff” de Putin?
A Rússia tem a sua doutrina militar bem clara. Clara como a água, diria. A Rússia só usará armas nucleares caso veja ameaçada a sua integridade territorial. Ora, se ninguém ousar – porque ousaria? – colocar em causa a integridade territorial da nação russa, nada há a temer.
Mas será assim? Porque razão o ocidente fica sempre tão nervoso – sim, sabemos que há que espalhar o medo – quando se trata de abordar o problema da defesa da integridade da federação russa? Porque razão é tão difícil aceitar o respeito pela integridade da de federação Russa? Não terá qualquer país direito a tal? Tal como a Ucrânia, relativamente à qual o ocidente é tão veemente na defesa do seu território?
Para além da estratégia do terror e do medo existe o “Comité para a Segurança e Cooperação na Europa”. Mais conhecido como a “Comissão de Helsínquia”, trata-se de uma comissão “independente” controlada pelo Governo Federal Americano. Com o objectivo de monitorizar os acordos de Helsínquia, promover os sempre fundamentais “direitos humanos”, desde que não sejam os dos seus inimigos, a “democracia” em que ganham sempre os apoiados por si, a “economia” do petrodólar, o “ambiente” que é um negócio e a “cooperação militar” que permite a instalação das suas bases, esta comissão tem tido um trabalho profícuo na análise da Rússia.
O grupo de gente que faz parte da comissão é composto por agentes, alguns de leste (não poderia deixar de ser), pessoal que vem da Radio Liberty/Radio Free Europe e de diversas ONG’s que são capas da CIA para operação no exterior. O grupo é composto por: Fatima Tlisova, da National Endowmwent for Democracy (fundação para promoção da democracia financiada pelo congresso), Botakoz Kassymbekova, da Universidade de Liverpool, Erica Marat da Uniiversidade de Defesa Nacional dos EUA, Hanna Hopko da Conferência “Democracia em Acção”, outra organização financiada pelos EUA e Casey Michael do Hudson Institute, também dos EUA.
Ora, este comité estuda a partição da Rússia de acordo com o mapa em anexo. Não é um mapa novo, pois trata-se de um plano que começou a ser trabalhado logo após a segunda guerra mundial, e que segundo o programa da CIA, Pentágono e Dept de defesa, devera ter-se materializado durante os anos 90 e princípios dos 2000’s. O facto é que, mesmo com o governo de Ieltsin cheio de ministros nomeados pelos EUA e agentes da CIA como assessores, o povo russo logrou conseguir, mesmo assim, que não tenham sido criadas as condições para o prosseguir. Com a ascensão de Putin no início dos 2000’s, tornou-se impossível.
Com a limpeza operada, a partir de 2006/2007, na administração russa, de elementos sob dependência dos EUA, Putin passou a ser apontado como ditador. Já Ieltsin que tinha bombardeado a DUMA para exigir a capitulação da Rússia perante o FMI, tratava-se de um efusivo democrata.
Foi assim que teve de ser adiada a “balcanização” ou “jugoslavização” da Rússia. Adiada, não quer dizer, desistência. Em 2019, a RAND corporation, o principal Think Thank ligado a Washingto e à Casa Branca, em matéria de política de defesa, publicou um relatório com o título “extending Russia”, em que o plano implica propagar guerras e revoluções coloridas à volta da Rússia, de forma a fazer “esticar” (extending) as suas forças, rebentando com o Tratado de Segurança Colectiva que une a Rússia às republicas Euroasiáticas (Cazaquistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Arménia, Azerbaijão…) e obrigando a Rússia a colapsar. A Ucrânia e a Bielorússia seriam as primeiras lanças a apontar. A verdade é a que a Rússia teve de apagar fogos na Bielorrússia, já não o conseguiu na Ucrânia com o EuroMaidan, no Cazaquistão e agora na Arménia/Azerbaijão e no Tajiquistão/Quirguistão.
Eis a razão pela qual é impossível aos EUA tomarem qualquer acção – acordo, memorando, tratado -, que os obriguem a respeitar a integridade do território russo e a inviolabilidade do seu território. A Sibéria e o Árctico têm demasiados recursos naturais para se deixarem ao bel-prazer dos “negros da neve”. Partir um grande estado em coisas mais pequenas facilita muito.
Ora se a Rússia tem a sua doutrina nuclear bem assente e determinada com clareza, bastaria não fazer o que determinaria a aplicação de tal doutrina. Certo? Não!
E se a Rússia deixa bem claro em que situação usaria armas nucleares, o que dá uma certa segurança, mas tal não agrada aos EUA, pois o que pretendem fazer é precisamente destruir a Rússia enquanto nação, sabendo que um país com tal dimensão e riqueza será sempre uma pedra no seu sapato e um entrave ao domínio colonial da Europa.
Mas, e os EUA? O único país que usou e usa armas nucleares nas suas guerras? Sejam elas de Urânio enriquecido ou empobrecido, estratégicas ou tácticas? Dirá a doutrina militar americana que apenas em caso de ofensa à integridade do território, as armas nucleares serão usadas? Não, nem por sombras.
A doutrina nuclear dos EUA é dos mais inseguro que se possa imaginar, pois funciona à sua vontade. As armas nucleares são invocadas quando estão em causa “interesses estratégicos”. Sendo que, ao contrário da Rússia, esta doutrina não se aplica nem às armas de Urânio empobrecido, nem às bombas nucleares tácticas. Essas são usadas em guerras convencionais.
Visto que os “interesses estratégicos” americanos são em todo o globo terrestre e o uso das armas não é meramente defensivo, pois ao contrário da doutrina russa, admite o “uso preventivo”, como sucedeu em Hiroxima e Nagasaki e como esteve para acontecer na China de Mao, eis que aqui já temos razões para ter medo do que possa acontecer, para mais sabendo que é intenção dos EUA acossarem outras duas – para já estas – potências nucleares – a China e a Rússia.
Quanto à Ucrânia de Zelinsky, haverá pior medo do que as armas nucleares caírem em mão de nazis e neo-nazis?
Já assistir a um noticiário das “nossas” TV?s sobre a abordagem do assunto na AG da ONU, é um desafio quer à nossa sanidade mental, quer ao nosso entendimento geográfico do que é o mundo. Para os órgãos comunicacionais oligárquicos, o mundo é composto por EUA, Ucrânia, França, Alemanha e pouco mais. Depois lá colocam Guterres, moço de recados bem-comportado, a fazer os eu papel muito moralista, mas com pouca moral para falar. Quem cala tudo de uns e aponta tudo a outros, não nos deve merecer qualquer respeito, e diria mesmo, que Guterres talvez fique na história como um dos mais importantes coveiros desta ONU de Nova Yorque. Já os EUA impedirem diplomatas da ONU de entrar nos eu território, quando são de países que não lhes agradam, não lhe merece qualquer reparo.
Não passou uma única intervenção de um país fora do G7, EU, a respeito do terror nuclear de Putin. Trata-se, tão só, da maior parte do planeta, o que diz muito do cantinho a que nos querem reduzir. No final, talvez acabemos mais isolados do mundo que aqueles que os EUA querem isolar, o que não deixará de ser caricato, se não fosse trágico.
Mas o mais cómico é ouvir Kirby, com aquele ar sisudo a dar lições de paz e amor… E de moral de uso de “chantagem” nuclear. Isto vindo de um suprematista branco, que acredita do “destino manifesto” dos EUA!!!!
Percebem agora porque é que entrar na lógica do terror nuclear, do terror nuclear que visa manipular ao invés de avisar, implica entrar numa contradição profunda? Identifiquem os moralistas e encontrarão aí os mais perigosos beligerantes.
Num mundo sem provocações, não haveria necessidade de guerra. Num mundo que fosse movido a outra energia que não a ganância, teríamos mais razões para sermos amigos do que inimigos.
Afinal, somos todos humanos.

BANCOS GIGANTES? SÓ SE FOREM CHEIOS DE AR!

 

O que o relatório do OCC (Office of the Comptroller of the Currency) sobre "Bank Trading and Derivatives Activities" do 1.º trimestres de 2014 nos diz é que, os grandes bancos mundiais movimentam derivados (apenas derivados!) cerca de 30x superiores em montante, aos activos que possuem. No caso do Deutche Bank, o montante é 100 vezes maior! Eis o porquê de ter sido aberta a época da caça, pilhagem e saque aos países mais pobres da UE. Eis o porquê de estes gigantes cheios de ar, verem nas nossos míseros salários e economias a sua única fonte de salvação. Onde param afinal aqueles gestores de top, aqueles banqueiros impolutos, aqueles capitalistas rigorosos e éticamente acima de qualquer suspeita? Param no imaginário religioso de uma classe dominante corrompida e dos seus cobardes lacaios. É aí que param!































Num período em que, não obstante os esforços da "propaganda Media" e dos enfeudados comentadores pró-sistema, toda a gente percebeu que a Europa não cresce e que todo modelo económico (e político, e social, etc.) está em causa, são cada vez mais aterradoras as notícias que nos vão chegando sobre as diversas bolhas especulativas e sobre a exposição do sistema financeiro às mesmas.

A propósito disto, ouvi há alguns dias, poucos, um "homo contabilisticus" da ultra-propagandística Sic Notícias,dizendo que "só a Europa é que não cresce", "os EUA já estão a crescer 4%", "os EUA já só têm 8% de desemprego"... Por aí fora.

Já antes tinha lido um artigo no globalresearch.com no qual um reputado economista dizia que todo esse crescimento mais não era do que "balofo". No caso do desemprego, os empregos criados não passam de estágios e empregos precários, no caso da bolsa, a reserva federal injecta-lhe dinheiro para fazer subir, artificialmente, o valor das acções. Uma grande farsa, portanto...


Mas bombástico foi um relatório recentemente publicado sobre a exposição da banca americana aos produtos financeiros, designados como "derivados". E a situação, meus caros, é para lá de má, chegando a entrar no domínio do surreal. E o que diz este relatório?

O relatório diz isto:

JPMorgan Chase
Total de Activos: $2,476,986,000,000 ( 2.5 trillion dollars)
Total da exposição a produtos derivados: $67,951,190,000,000 (mais de 67 trillion dollars)

Citibank
Total de Activos: $1,894,736,000,000 (almost 1.9 trillion dollars)
Total da exposição a produtos derivados: $59,944,502,000,000 (nearly 60 trillion dollars)

Goldman Sachs
Total de Activos: $915,705,000,000 (less than a trillion dollars)
Total da exposição a produtos derivados $54,564,516,000,000 (more than 54 trillion dollars)

Bank Of America
Total de Activos: $2,152,533,000,000 (a bit more than 2.1 trillion dollars)
Total da exposição a produtos derivados $54,457,605,000,000 (more than 54 trillion dollars)

Morgan Stanley
Total de Activos: $831,381,000,000 (less than a trillion dollars)
Total da exposição a produtos derivados $44,946,153,000,000 (more than 44 trillion dollars)

Isto é muito grave! Então o volume de "derivados" que estes bancos movimentam chega a ser 30 vezes mais elevado do que os activos que, na realidade, possuem? 30 vezes mais? 

Isto quer dizer que a riqueza que se apregoa existir é, apenas e tão só, um dígito num relatório. Na prática, o que isto significa é que a riqueza que estes bancos dizem possuir (e todos os seus accionistas, investidores...), não passam de montantes especulativos, dependentes de factos que ainda não ocorreram, nem se sabem se um dia vão ocorrer. Como, por exemplo. no caso da especulação em petróleo, no âmbito da qual foram realizados investimentos em derivados que pressupunham a venda do barril a 300 dólares! E há gentinha (honrados gestores Top tipo o da PT) que investiu nesses derivados, que nunca poderão representar quaisquer mais valia, a não ser que o petróleo ultrapassasse os tais 300 dólares o barril.

Mas outra revelação importante do relatório é que que é feita no caso do Deutche Bank, dos nossos amigos Alemães. O Deutche Bank ainda está pior:

Este banco tão bem gerido pelos "rigorosos" Alemães, está exposto a "derivados" que se situam entre 55 e 75 triliões de dólares. Este banco apenqas tem depósitos no valor de 522 biliões de dólares. 100 vezes menos, portanto! O valor da exposição é 5x o PIB Europeu e mais o menos o PIB mundial!

Agora já percebemos a razão do saque e da pilhagem declarada por estes ladrões (com L gigante) a países como o nosso.

O que o relatório do OCC (Office of the Comptroller of the Currency) sobre "Bank Trading and Derivatives Activities" do 1.º trimestres de 2014 nos diz é que, os grandes bancos mundiais movimentam derivados (apenas derivados!) cerca de 30x superiores em montante, aos activos que possuem. No caso do Deutche Bank, o montante é 100 vezes maior! Eis o porquê de ter sido aberta a época da caça, pilhagem e saque aos países mais pobres da UE. Eis o porquê de estes gigantes cheios de ar, verem nas nossos míseros salários e economias a sua única fonte de salvação. Onde param afinal aqueles gestores de top, aqueles banqueiros impolutos, aqueles capitalistas rigorosos e éticamente acima de qualquer suspeita? Param no imaginário religioso de uma classe dominante corrompida e dos seus cobardes lacaios. É aí que param!

Alguém acredita no fim da crise? Alguém acredita na sobrevivência deste sistema?

Quem não acreditar na imagem do descalabro, junto o seguinte link:

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

Pensões pouco pensadas

 


Fernanda Câncio

O tema das pensões é, em Portugal, um campo minado de ignorância e populismo. Sendo poucos os cidadãos - incluindo jornalistas - que pescam alguma coisa de um sistema previdencial confuso e opaco, é quase impossível ter uma conversa séria 


Calhou: enquanto o país entrava a fundo na discussão sobre se se deve ou não aplicar a taxa de inflação ao aumento das pensões, andava eu a fossar na história da segurança social, a tentar perceber por que motivo há viúvos de funcionários públicos a ver parte da sua pensão de sobrevivência retida para pagar "dívidas" de quotas que os cônjuges teriam em atraso há mais de 30 anos.

Essa investigação jornalística fez-me mais uma vez consciencializar que a maioria das pessoas não faz ideia nenhuma de como se forma o seu direito a uma pensão - é como se se tratasse de um direito absoluto, desligado de qualquer ação ou contribuição -, e de como a discussão pública anda longe do necessário esclarecimento, até porque nem os chamados "especialistas" conhecem a fundo o sistema, de tão confuso e imbricado.

O facto de existirem historicamente dois sistemas de previdência/segurança social, o respeitante aos funcionários públicos e o relativo aos trabalhadores do privado, e de estes estarem "em processo de convergência" desde os anos 1990 é uma complicação acrescida.

Outra baralhada é a existente entre pensões do regime contributivo e as que têm uma parte que não se deve a contribuições, mas funciona como um "subsídio" para certificar que há um mínimo abaixo do qual as pensões não descem - trata-se das chamadas "pensões mínimas", cujo valor é, porque se trata de prestações sociais sem base contributiva, necessariamente baixo (seria iníquo, até porque se trata de uma prestação até agora sem condição de recurso, ou seja, que não depende da averiguação da necessidade económica de quem a recebe, que as pensões assim formadas tivessem valores iguais às que resultam de uma carreira contributiva completa).

E, por fim, há a confusão entre pensões de aposentação e pensões de sobrevivência - sendo estas últimas as que são atribuídas aos herdeiros, geralmente viúvos, mas também filhos menores, dos trabalhadores.

Um exemplo recente da dificuldade geral (dir-se-ia mesmo recusa) em perceber o sistema é o escândalo com que foi recebida a notícia de que a viúva e as filhas de Nuno Santos - o trabalhador que a 18 de junho de 2021 morreu ao ser atropelado, na autoestrada, por uma viatura do ministério da Administração Interna - iriam receber da segurança social uma pensão de pouco mais de 200 euros.

Não me lembro de ver uma única notícia ou discussão mediática sobre o assunto na qual alguém se tivesse interessado em saber quanto tempo tinha Nuno Santos, e as empresas para as quais trabalhou, descontado para a segurança social e sobre que valores, nem alguém a explicar que a pensão de sobrevivência é, no caso dos trabalhadores do setor privado, 60% daquela a que o trabalhador teria direito ao aposentar-se - sendo que aos 41 anos não podia ter os 40 de descontos que a lei prevê para se aceder à aposentação.

Tudo se passou como se a pensão de sobrevivência a atribuir à família devesse cair do céu. E a sua exiguidade servisse de "prova" adicional de que o Estado, cuja viatura matara Nuno, é injusto e sem coração, e a Segurança Social "não funciona" - num mote "antissistema" tanto mais irónico quando alimentado por quem defende a máxima liberalização do mercado laboral e portanto a minimização dos direitos e garantias dos trabalhadores.

A mesma lógica vemos aplicada quando o partido de extrema-direita invoca sistematicamente "polícias e bombeiros" com "pensões de miséria", com o intuito de "provar" que "o sistema" gasta tudo com "quem não trabalha" e poupa com os leais servidores - como se este mesmo partido não defendesse o "Estado mínimo" e a diminuição dos direitos laborais, com desregulação e consequente descida nos salários e contribuições para a segurança social, resultando em pensões mais baixas e inevitável rutura.

Mas a extrema-direita não está sozinha - longe disso - na demagogia.

No que a pensões respeita, demagogia tem sido o prato único no menu da política partidária portuguesa. É muito raro assistirmos a um discurso que se esforce por explicar o sistema e incutir nos cidadãos consciência sobre as consequências das suas ações - por exemplo tornando claro que se "facilitam" o "receber por fora" do salário declarado, "fugindo" aos impostos e à segurança social, tal tem consequências em termos da formação da sua pensão (e, claro, também em eventuais subsídios de doença e desemprego e indemnização por despedimento).

O mesmo quanto à sustentabilidade: a conversa varia conforme quem está no governo. A chamada "reforma Vieira da Silva", durante o primeiro governo de Sócrates, introduziu o fator de sustentabilidade relacionado com a esperança média de vida, aumentou a idade da aposentação para os trabalhadores do setor público, com o objetivo de a aproximar dos do privado, e unificou o sistema de pensões (na Caixa Geral de Aposentações, a instituição que geria as reformas dos funcionários públicos, só ficaram os que já estavam nela inscritos, os novos admitidos passaram para o regime geral), sendo genericamente bem recebida à direita do PS e muito elogiada a nível internacional. Já as propostas de cortes definitivos de pensões do governo de Passos - que incidiam sobre pensões já a pagamento e foram apresentados como necessários para a sustentabilidade, "contribuindo para a justiça intergeracional e prosseguindo a convergência dos sistemas" -, mereceram oposição firme do PS e de todos os outros partidos com representação parlamentar.

É sabido que esses cortes definitivos de pensões propostos pelo governo PSD/CDS-PP em 2013 e 2014 foram chumbados pelo Tribunal Constitucional, pelo que não chegaram a acontecer - mas isso não é desculpa para que o atual líder do PSD afirme comprovadas falsidades como "não houve cortes de pensões abaixo de 1500 euros" (se houve, caramba) e chegue até ao ponto de se representar, qual Messias, em cartazes nos quais promete "nenhum corte em pensões para o futuro".

Trata-se do mesmo Luís Montenegro que em 2013, quando o Governo Passos decidiu o corte definitivo de 10% nas pensões de sobrevivência da Caixa Geral de Aposentações, propôs, enquanto líder parlamentar do PSD, que em vez de se aplicar a pensões a partir dos 419 euros ilíquidos, o corte incidisse só a partir de uns sumptuosos 600.

Como o PS de António Costa, sendo o mesmo que tem garantido que a sustentabilidade do sistema está assegurada, admite agora que um aumento das pensões à taxa da inflação poria a sustentabilidade em risco. Se apelidar de "corte" um aumento abaixo da inflação é inexato - se se tratasse realmente de um corte, todos os trabalhadores que não vão ser aumentados em linha com a inflação poderiam processar os empregadores por lhes cortarem o salário -, também será inexato afirmar que o sistema não tem problemas de sustentabilidade (e de equidade, por assentar desproporcionadamente em sacrifícios dos que atualmente trabalham, face à intocabilidade dos que beneficiaram de regras muitíssimo mais favoráveis, quer em termos de idade da reforma quer de cálculo das pensões).

É conveniente recordar que, nas suas decisões sobre os cortes de pensões já a pagamentoo Tribunal Constitucional reiterou que "não há regras constitucionais impeditivas de leis retrospetivas que imponham a redução do 'quantum' de pensões já reconhecidas"; "o que está constitucionalmente garantido é o direito à pensão, não o direito a um certo montante, a título de pensão". Os juízes conselheiros vincaram até a particular dependência das pensões "da reserva do possível", pela sua "inserção no sistema solidário de prestação do contrato geracional". E apresentaram a "sustentabilidade financeira do sistema" como possível fundamentação justificante de um tal corte.

Talvez dê então para, de uma vez por todas, largarmos as guerrilhas e falarmos deste assunto tão sério como gente crescida. É que, vendo bem, ninguém vai para novo.



dn.pt

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Um duro, terno e inesquecível retrato do Alentejo de 1958-59

 

FOTOGRAFIA

Um duro, terno e inesquecível retrato do Alentejo de 1958-59

O fotógrafo Luís Ferreira Alves, de 83 anos, recorda os dias que passou junto de quem trabalhava nas searas de Peroguarda, “uma aldeia alentejana mergulhada na pobreza” do Estado Novo – nu​ma aventura que terminou com uma detenção da PIDE. "A monda era um trabalho violentíssimo, doloroso, absolutamente desgastante", conta. "O que mais me impressionou foi como mantinham aquele sorriso." 

Fotogaleria
©LUÍS FERREIRA ALVES

“A minha voz está muito fraca, não está?”, pergunta o fotógrafo, do outro lado do ecrã, ao dar início à entrevista ao P3. Aos 83 anos não é fraca a voz, a memória ou a emoção com que o fotógrafo Luís Ferreira Alves revive aquela que guarda como uma aventura inesquecível. O seu olhar ilumina-se ao recordar os dias que passou em Peroguarda, no Alentejo, nas férias da Páscoa de 1959. “Eu era um rapaz de 18 ou 19 anos, apaixonado pelo cinema do real, que tinha, já na altura, uma forte consciência política”, refere.

Em plena ditadura fascista, Luís Ferreira Alves não foi ao Alentejo “fazer reportagem”. O então jovem fotógrafo amador portuense (que trabalhava, na altura, no banco fundado pelo seu pai), a sua esposa Helena Cardoso e o amigo Alexandre Alves Costa chegaram a Peroguarda no seu automóvel. A estadia na pacata aldeia do concelho de Ferreira do Alentejo estava longe de ser fortuita – era, na verdade, fruto de um convite que teve por base a amizade improvável que floresceu durante um festival de folclore, no Porto, entre eles e os membros do grupo coral de Peroguarda. “O clima de amizade que se formou foi de tal ordem que, nessa mesma noite em que nos conhecemos, passámos a ponte Ponte Luiz I de braços dados a entoar cante alentejano”, recorda o fotógrafo, sorridente, de olhar distante. “Quando eles regressaram a Peroguarda, convidaram-nos para ir lá. Davam-nos alojamento e comida.” Assim foi.

Num contexto de pobreza extrema, a presença dos três forasteiros, “meninos bem da burguesia nortenha”, como descreve o fotógrafo, destoava grandemente. “Fomos muito bem recebidos”, refere Luís. “De manhã, saíamos para acompanhar os trabalhos no campo.” Era o tempo da monda. “O objectivo era fotografar e recolher as emoções.”

E emoções encontraram. “Vivemos na aldeia, vivemos as gentes, vivemos as crianças”, refere o fotógrafo nas páginas do fotolivro Peroguarda 58/59, que resultou da viagem que ocorreu há mais de 60 anos. As imagens descrevem as duras condições de vida no final da década de 1950 “de uma aldeia alentejana mergulhada na pobreza”. Os trajes de época ou os objectos modestos do interior das casas são suficientes para prender longamente o olhar, porém, quem se demora um pouco mais na leitura poderá ver muito para além da superfície. Crianças descalças que carregam fardos de palha, mulheres vergadas em ângulos agudos (que prometem infligir dores igualmente agudas) sorriem para a câmara com uma inocência inexplicável.

“A monda era um trabalho de mulheres”, explica o fotógrafo. “Era violentíssimo, doloroso, absolutamente desgastante. O que mais me impressionou foi como mantinham aquele sorriso, aquela raia.” Nas fotografias, as mondadeiras têm as caras mergulhadas nas searas e os homens permanecem na posição vertical. “Eles eram enviados do patrão para fiscalizar o ritmo de trabalho delas. Apenas.” Existe uma crítica implícita, refere; a legenda, original, de 1959, confirma: “O rebanho — num país de machos. O mando é masculino e vertical. A servidão é feminina e horizontal.” Uma crítica política? Em pleno Estado Novo?

A pouco discreta e algo inusitada presença dos três portuenses não passaria despercebida à Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE). “Nós não estávamos ali a fazer política, embora fôssemos os três de esquerda”, refere o fotógrafo. Numa das noites, Luís acordou com uma pancada no peito e uma pistola apontada. “Levaram-nos presos.” Foram interrogados separadamente. “Como é que aquilo podia estar a acontecer?”, questiona o fotógrafo, ainda indignado. “Prenderam-nos e ficámos ali a secar.” O episódio acabou quando um dos agentes entrou na sala de interrogatório e exclamou que o pai de Luís deveria estar contente com os resultados do último jogo do Futebol Clube do Porto. Após averiguação, o agente concluiu que tinha detido o filho do dirigente do clube. À saída, os três recusaram apertar a mão de quem acabava de libertá-los. “Foi um momento perigoso”, recorda, satisfeito. Regressaram a Peroguarda, onde foram recebidos por todos com enorme alegria. “Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida”, conta o fotógrafo, com um sorriso estampado no rosto. “Havia chapéus pelo ar!”

fotolivro Peroguarda 58/59 seria um livro diferente se a história que lhe deu origem não estivesse impressa nas suas páginas, em conjunto com as fotografias que foram realizadas no mesmo período. As duas dimensões expostas fazem o retrato do mesmo país a partir de dois pontos de vista muito distantes; essas acrescentam camadas à leitura do contexto histórico em causa. “No final, conseguimos passar por cima de todos os formalismos e ser aceites pelos habitantes de Peroguarda como irmãos”, conclui o único fotógrafo que é membro honorário da Ordem dos Arquitectos. “Conseguimos abrir a porta daqueles corações fortes, sólidos.” Sente, por isso, gratidão.

O conjunto de imagens estará, brevemente, em itinerância pelo Alentejo. A primeira exposição, na Casa da Arquitectura, em Matosinhos, terminou a 31 de Setembro 2021. Sem data prevista, a que se segue irá decorrer em Serpa. Luís Ferreira Alves, um pioneiro e uma referência da fotografia de arquitectura, espera poder expor, quanto antes, na aldeia de Peroguarda.


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