segunda-feira, 26 de setembro de 2022

ONDE ESTAVA O TERROR QUANDO ZELINSKY SUGERIU TER ARMAS NUCLEARES?



Em 19 de Fevereiro de 2022, Zelinsky, na conferência de Munique da OSCE, comunicou que a Ucrânia não era obrigada a cumprir o Memorando de Budapeste, que visou desnuclearizar os países que resultaram da dissolução da URSS. Esta pretensão significava, e Zelinsky preocupou-se em deixá-lo bem vincado, que caso a Ucrânia considerasse que a garantia de segurança do tratado não funcionasse, estaria no seu direito de se rearmar com armas nucleares. Mais adiantou que, o seu ministro dos negócios estrangeiros já tinha sido instruído para tratar do assunto.
Desta feita, e perante a possibilidade de um regime de extrema direita, apoiado por neonazis e seguidores de Stefan Bandera – hoje com uma avenida em Kiev com o seu nome -, porque razão não despoletaram os EUA, a NATO e todo o seu aparato comunicacional, o terror e o medo nuclear? Não seria este um motivo suficiente para o efeito, dadas as consequências actuais de um “não estou a fazer bluff” de Putin?
A Rússia tem a sua doutrina militar bem clara. Clara como a água, diria. A Rússia só usará armas nucleares caso veja ameaçada a sua integridade territorial. Ora, se ninguém ousar – porque ousaria? – colocar em causa a integridade territorial da nação russa, nada há a temer.
Mas será assim? Porque razão o ocidente fica sempre tão nervoso – sim, sabemos que há que espalhar o medo – quando se trata de abordar o problema da defesa da integridade da federação russa? Porque razão é tão difícil aceitar o respeito pela integridade da de federação Russa? Não terá qualquer país direito a tal? Tal como a Ucrânia, relativamente à qual o ocidente é tão veemente na defesa do seu território?
Para além da estratégia do terror e do medo existe o “Comité para a Segurança e Cooperação na Europa”. Mais conhecido como a “Comissão de Helsínquia”, trata-se de uma comissão “independente” controlada pelo Governo Federal Americano. Com o objectivo de monitorizar os acordos de Helsínquia, promover os sempre fundamentais “direitos humanos”, desde que não sejam os dos seus inimigos, a “democracia” em que ganham sempre os apoiados por si, a “economia” do petrodólar, o “ambiente” que é um negócio e a “cooperação militar” que permite a instalação das suas bases, esta comissão tem tido um trabalho profícuo na análise da Rússia.
O grupo de gente que faz parte da comissão é composto por agentes, alguns de leste (não poderia deixar de ser), pessoal que vem da Radio Liberty/Radio Free Europe e de diversas ONG’s que são capas da CIA para operação no exterior. O grupo é composto por: Fatima Tlisova, da National Endowmwent for Democracy (fundação para promoção da democracia financiada pelo congresso), Botakoz Kassymbekova, da Universidade de Liverpool, Erica Marat da Uniiversidade de Defesa Nacional dos EUA, Hanna Hopko da Conferência “Democracia em Acção”, outra organização financiada pelos EUA e Casey Michael do Hudson Institute, também dos EUA.
Ora, este comité estuda a partição da Rússia de acordo com o mapa em anexo. Não é um mapa novo, pois trata-se de um plano que começou a ser trabalhado logo após a segunda guerra mundial, e que segundo o programa da CIA, Pentágono e Dept de defesa, devera ter-se materializado durante os anos 90 e princípios dos 2000’s. O facto é que, mesmo com o governo de Ieltsin cheio de ministros nomeados pelos EUA e agentes da CIA como assessores, o povo russo logrou conseguir, mesmo assim, que não tenham sido criadas as condições para o prosseguir. Com a ascensão de Putin no início dos 2000’s, tornou-se impossível.
Com a limpeza operada, a partir de 2006/2007, na administração russa, de elementos sob dependência dos EUA, Putin passou a ser apontado como ditador. Já Ieltsin que tinha bombardeado a DUMA para exigir a capitulação da Rússia perante o FMI, tratava-se de um efusivo democrata.
Foi assim que teve de ser adiada a “balcanização” ou “jugoslavização” da Rússia. Adiada, não quer dizer, desistência. Em 2019, a RAND corporation, o principal Think Thank ligado a Washingto e à Casa Branca, em matéria de política de defesa, publicou um relatório com o título “extending Russia”, em que o plano implica propagar guerras e revoluções coloridas à volta da Rússia, de forma a fazer “esticar” (extending) as suas forças, rebentando com o Tratado de Segurança Colectiva que une a Rússia às republicas Euroasiáticas (Cazaquistão, Uzbequistão, Tajiquistão, Arménia, Azerbaijão…) e obrigando a Rússia a colapsar. A Ucrânia e a Bielorússia seriam as primeiras lanças a apontar. A verdade é a que a Rússia teve de apagar fogos na Bielorrússia, já não o conseguiu na Ucrânia com o EuroMaidan, no Cazaquistão e agora na Arménia/Azerbaijão e no Tajiquistão/Quirguistão.
Eis a razão pela qual é impossível aos EUA tomarem qualquer acção – acordo, memorando, tratado -, que os obriguem a respeitar a integridade do território russo e a inviolabilidade do seu território. A Sibéria e o Árctico têm demasiados recursos naturais para se deixarem ao bel-prazer dos “negros da neve”. Partir um grande estado em coisas mais pequenas facilita muito.
Ora se a Rússia tem a sua doutrina nuclear bem assente e determinada com clareza, bastaria não fazer o que determinaria a aplicação de tal doutrina. Certo? Não!
E se a Rússia deixa bem claro em que situação usaria armas nucleares, o que dá uma certa segurança, mas tal não agrada aos EUA, pois o que pretendem fazer é precisamente destruir a Rússia enquanto nação, sabendo que um país com tal dimensão e riqueza será sempre uma pedra no seu sapato e um entrave ao domínio colonial da Europa.
Mas, e os EUA? O único país que usou e usa armas nucleares nas suas guerras? Sejam elas de Urânio enriquecido ou empobrecido, estratégicas ou tácticas? Dirá a doutrina militar americana que apenas em caso de ofensa à integridade do território, as armas nucleares serão usadas? Não, nem por sombras.
A doutrina nuclear dos EUA é dos mais inseguro que se possa imaginar, pois funciona à sua vontade. As armas nucleares são invocadas quando estão em causa “interesses estratégicos”. Sendo que, ao contrário da Rússia, esta doutrina não se aplica nem às armas de Urânio empobrecido, nem às bombas nucleares tácticas. Essas são usadas em guerras convencionais.
Visto que os “interesses estratégicos” americanos são em todo o globo terrestre e o uso das armas não é meramente defensivo, pois ao contrário da doutrina russa, admite o “uso preventivo”, como sucedeu em Hiroxima e Nagasaki e como esteve para acontecer na China de Mao, eis que aqui já temos razões para ter medo do que possa acontecer, para mais sabendo que é intenção dos EUA acossarem outras duas – para já estas – potências nucleares – a China e a Rússia.
Quanto à Ucrânia de Zelinsky, haverá pior medo do que as armas nucleares caírem em mão de nazis e neo-nazis?
Já assistir a um noticiário das “nossas” TV?s sobre a abordagem do assunto na AG da ONU, é um desafio quer à nossa sanidade mental, quer ao nosso entendimento geográfico do que é o mundo. Para os órgãos comunicacionais oligárquicos, o mundo é composto por EUA, Ucrânia, França, Alemanha e pouco mais. Depois lá colocam Guterres, moço de recados bem-comportado, a fazer os eu papel muito moralista, mas com pouca moral para falar. Quem cala tudo de uns e aponta tudo a outros, não nos deve merecer qualquer respeito, e diria mesmo, que Guterres talvez fique na história como um dos mais importantes coveiros desta ONU de Nova Yorque. Já os EUA impedirem diplomatas da ONU de entrar nos eu território, quando são de países que não lhes agradam, não lhe merece qualquer reparo.
Não passou uma única intervenção de um país fora do G7, EU, a respeito do terror nuclear de Putin. Trata-se, tão só, da maior parte do planeta, o que diz muito do cantinho a que nos querem reduzir. No final, talvez acabemos mais isolados do mundo que aqueles que os EUA querem isolar, o que não deixará de ser caricato, se não fosse trágico.
Mas o mais cómico é ouvir Kirby, com aquele ar sisudo a dar lições de paz e amor… E de moral de uso de “chantagem” nuclear. Isto vindo de um suprematista branco, que acredita do “destino manifesto” dos EUA!!!!
Percebem agora porque é que entrar na lógica do terror nuclear, do terror nuclear que visa manipular ao invés de avisar, implica entrar numa contradição profunda? Identifiquem os moralistas e encontrarão aí os mais perigosos beligerantes.
Num mundo sem provocações, não haveria necessidade de guerra. Num mundo que fosse movido a outra energia que não a ganância, teríamos mais razões para sermos amigos do que inimigos.
Afinal, somos todos humanos.

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