Divulgar falsas notícias tem sempre propósitos ocultos e nefastos. Não obstante serem potenciadores da ignorância num terreno social que está mais permeável do que nunca, conseguem cumprir o objectivo de encher os bolsos ao autor e à editora.
A Idade Média foi ganhando o timbre de ser ou ter sido a «idade das trevas». Mas essa fama tem sido já competentemente contraditada pela historiografia séria. Sucede, pois, que esse epíteto, outrora imaginado sobretudo por aqueles que viam na ausência de cristianismo o caos da civilização, é muito mais válido nos tempos actuais do que em qualquer outro período da história até aqui conhecida. A negação da ciência e do método científico em níveis estratosféricos; a ascensão meteórica do «oculto» e do «inexplicável» como razões, princípios e fins, em si mesmos; o triunfo mediático da dúvida insincera baseada não na vontade de saber, mas no propósito de estabelecer uma correspondência com a crença ou a convicção interior; a assunção de que «todos nos estão a enganar» e há «interesses instalados» nas mensagens e ideias veiculadas pela ciência, suposição essa que, curiosamente ou nem tanto, nunca é colocada no âmbito do poder financeiro (que efectivamente engana e que efectivamente controla tudo e todos).
Nos tempos destravados que correm, onde os filtros mínimos há muito caíram e a selvajaria alucinada vem dominando transversalmente na sociedade, a imprensa (ou Impresa, neste caso) parece também muito apostada em dedicar-se com cada vez maior afinco a disseminar desinformação de todas as formas possíveis. Divulgar falsas notícias de actualidade tem sempre propósitos, ainda que ocultos e nefastos, e o mesmo sucede com falsos factos relativos ao passado. Não obstante serem potenciadores da ignorância num terreno social que está mais permeável do que nunca, pelo escândalo e pela propaganda patrocinada, conseguem cumprir o objectivo de encher os bolsos ao autor e à editora. Eles ganham, a ignorância avança, as «trevas» impõem-se, a imbecilidade reina, a humanidade perde.
O exemplo que agora salta à vista – que não é o único se nos lembrarmos desde logo do «pivot» dan-brown-ó-idiota-deus-existe-e-eu-tenho-a-prova-neste-livro – é o de um tipo que anda há largos anos, sob a capa de «economista», a passar paninhos quentes nos crimes e desastres da banca, ao mesmo tempo que amansa o pelo aos patrões e seus aliados. Lembrou-se agora, num acesso de incontida estupidez, este sapateiro de tocar rabecão, metendo-se pelos caminhos daquilo que ele chama «história». Não nos cabe aqui desmontar toda a sorte de aldrabices e manipulações grosseiras, o que, em parte, já foi feito aqui. É, aliás, pouco útil a qualquer investigador ou historiador que se preze entrar em diálogo ou em polémica com um saco de brita. Não é no campo selvático dos media controlados e unidireccionais (como a televisão) ou sequer das redes inundadas de trolls, que se faz debate sério sobre coisas sérias.
Mas é precisamente aí que radica esta nova forma de controlo geral da opinião pública. É aí que toda a mentira grosseira cai e se dissemina, e é nestes ventos fortes de ignorância que os oportunistas lançam as suas prosápias absurdas, porque certos do acolhimento, da veneração e sobretudo do proveito financeiro.
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