A aldeia das Minas da Borralha nasceu e cresceu com a exploração de volfrâmio, cuja história teve início em 1902, chegou mobilizar 2.000 trabalhadores e fechou em 1986.
A atividade mineira poderá ser retomada naquela localidade da freguesia de Salto, concelho de Montalegre, distrito de Vila Real.
A empresa Minerália – Minas, Geotecnia e Construções, Lda. requereu a celebração do contrato de concessão de exploração de volfrâmio, estanho e molibdénio e pretende reaproveitar parte da área da brecha de Santa Helena, uma das várias que existiam no antigo couto mineiro.
Junto ao ‘stockwerk’, uma enorme estrutura de ferro e um dos exemplos do património abandonado, o presidente da Junta de Salto, Alberto Fernandes, disse à agência Lusa que se trata de um dos “últimos locais explorados” nas Minas da Borralha.
“É aqui que está programado iniciar os trabalhos”, contou.
O autarca defendeu que o retomar da exploração pode “ser algo de importante para a freguesia, pode criar alguns postos de trabalho, pode desenvolver o comércio e toda a atividade económica à volta das minas”.
“Agora, esperamos que a exploração também não venha criar outros problemas, como de ambiente (…) Se for com regras e com segurança não temos nada contra”, afirmou.
O antigo trabalhador das minas, Mário Mendes, realçou a importância da criação de emprego, mas disse que não acredita “que a Borralha volte a funcionar como mina”.
Já Lurdes Frutuoso, de 68 anos, olha com preocupação para a vista em frente a casa e queixa-se da falta de informação sobre o projeto mineiro.
“Simplesmente nos ignoraram. Vivi sempre aqui com uma mina, mas não era uma mina destas”, afirmou.
Lurdes teme que se abra “uma cratera” à sua porta, onde diz que “vão fazer explodir 720 quilos de dinamite todos os dias”.
“Vou ter um abalo sísmico todos os dias na minha casa. A minha casa vai ficar danificada e depois o barulho de máquinas, dumpers, britagens, lavagens, não sabemos onde vão por inertes nem para onde vão ser escoadas as águas”, lamentou.
Referiu que a primeira reação à notícia até foi de contentamento, depois de desconfiança, porque as galerias estão inundadas, e agora está contra.
“Vivia-se aqui muito bem, mas não sentíamos nada, porque era tudo subterrâneo. Agora vai ser a céu aberto, vai ser poeira, barulho, vai ser tudo”, frisou.
Kelly Vieira, 33 anos, queixa-se também da falta de informação. “Ainda vive aqui gente, mas esquecem-se completamente disso”, sublinhou.
Esta moradora contou que os pais investiram ali todas as economias que tinham e, por isso, luta para “proteger o património deles”.
“Daquilo que nós fomos informados, estes rebentamentos vão fazer vão destruir isto tudo e como vamos viver aqui com o pó e com os camiões a passar?”, questionou.
O Movimento Não às Minas – Montalegre tem distribuído panfletos pela população e, segundo afirmou Cristiana Barroso, o projeto é preocupante, porque será uma “mina a céu aberto” a uma profundidade de “pelo menos 200 metros”.
Esta ativista disse ainda que a nova “exploração será mais agressiva do que era antigamente”, pois será feita “com máquinas, com explosivos de outra dimensão que provocará também estragos a outra dimensão”.
Cristiana Barroso lembrou que se trata de uma área Património Agrícola Mundial e reserva da biosfera e alertou para as consequência a nível da saúde, da perda de terrenos e subsídios agrícolas, para os riscos de aluimento e a contaminação de rios e barragens.
O gerente da Minerália, Adriano Barros, afirmou à agência Lusa, por escrito, que a empresa está a preparar um projeto que pode ser “um importante vetor de desenvolvimento” e um “exemplo de que é possível a existência de atividade mineira responsável e sustentável”.
O responsável prevê um investimento entre os 10 a 12 milhões de euros, a criação de cerca de 50 postos de trabalho diretos, disse que a “índole da eventual exploração será a céu aberto” e fez questão de salientar que, atualmente, na extração mineira “há um especial cuidado com a proteção das populações e ambiente locais” no que toca a, por exemplo, poeiras, ruídos, linhas de água e segurança.
Devido às condições geológicas da área de exploração, referiu que se prevê “a utilização muito reduzida de explosivos” e que, “mesmo esses são de natureza bem diferente dos usados historicamente”.
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