sábado, 20 de fevereiro de 2021

HISTÓRIA - GUERRAS DA CRIMEIA E BIAFRA

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Guerra da Crimeia 


Batalha de Sinop
Batalha de Sinop
Cerco a Sebastopol

A Guerra da Crimeia, disputada entre a Rússia e a coligação da França, da Sardenha e Império Otomano, marcou um dos pontos de viragem na história política europeia da era pós-napoleónica. 

O grande fator que esteve na base deste conflito foi a questão do Levante, levantada com o declínio do Império Otomano, que abalou profundamente a estrutura do continente europeu. 

No mês de novembro de 1853 rebentou o conflito, quando a Rússia destruiu a frota turca no mar Negro. 

Em março do ano seguinte, a Grã-Bretanha e a França entram no conflito quando a Rússia desrespeita o seu pedido de evacuação da Moldávia e da Valáquia, acreditando que a contenda se resolveria rapidamente devido à supremacia da sua frota naval. 

Foi decidido um ataque das forças aliadas sobre o centro da frota russa em Sebastopol, na Crimeia, em dezembro de 1854. Embora a Rússia tenha sido vencida em batalhas como a de Balaklava e em Inkerman, o conflito arrastou-se com a recusa da Rússia em aceitar os termos de paz. 

A paz foi acordada no Tratado de Paris, de 30 de março de 1856. Neste tratado ficou estipulado que a Rússia devolveria a Bessarábia do Sul e a Boca do Danúbio ao Império Otomano e a Moldávia, a Valáquia e a Sérvia passaram a estar sob proteção internacional. 

Florence Nightingale, uma enfermeira inglesa, ficou associada a este conflito, pois participou com grande empenho no tratamento dos feridos de guerra.


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Guerra do Biafra 


fome

soldados igbos

fome
bebé com Kwashiorkor
uma mulher, na região de Biafra, sofrendo de inanição aguda
O Estado independente da República de Biafra em junho de 1967

O Biafra foi um estado efémero formado pela separação dos Igbos (muito cristianizados) do Sudeste da Nigéria que surge na sequência de antigos antagonismos entre estes e populações do Norte, muçulmanas e tradicionalistas (Hauçás, Peuls), e do Sudoeste, muçulmanas e cristãs (Iorubas). 

O Biafra contava então cerca de 14 milhões de habitantes, um quarto da população da Nigéria nessa época. 

É uma região rica em petróleo, gás natural e carvão, dos quais era produtora de 60% do total do país.

Em 1964, acontece um boicote no Sul às eleições federais. Ironsi, general ibo, chefe de Estado, suprime as regiões. 

Mas a 1 de agosto de 1966 é derrubado, é reposta a Federação, enquanto as etnias do Norte massacram os igbos. 

Cerca de 2 milhões refugiam-se no Sudeste. 

Os Hauçás eram muçulmanos originários do norte do país e viviam em um sistema semi-feudal. 

Os Ibos eram considerados a elite nigeriana, possuíam melhores cargos e melhores salários, e provinham das tribos ao leste. 

Em 1966, soldados da etnia Igbo tomaram o poder do país num golpe de estado. 

No entanto, os Hauçás tomaram o poder seis meses depois num contra golpe de estado e iniciaram um massacre aos Ibos em todo o país. 

Estima-se que cerca de 30.000 Igbos tenham sofrido nesse primeiro ataque. 

Os sobreviventes refugiaram-se nas terras ao leste e proclamaram a República de Biafra. 

Embora as tensões culturais, étnicas e religiosas tenham sido alguns dos principais instigadores do conflito, a questão económica acabou sendo um dos fatores mais importantes, com o controlo do Delta do Níger (região rica em recursos naturais, como petróleo) tendo um significado estratégico gigantesco.

A 28 de maio de 1967, Gowon, novo chefe de Estado, divide a Nigéria em 12 regiões. 

A 30 de maio, o Biafra, habitado maioritariamente pelos ibos, proclama a sua independência em relação àquele país. 

Assume a presidência o coronel Ojukwu. Gowon Haússa, presidente nigeriano, logo envia contingentes militares para, de forma rápida, reprimir a intentona secessionista dos Ibos. Toma então a capital rebelde Port Harcourt. 

Os rebeldes biafrenses tomam o Benim (que corresponde de grosso modo ao atual estado de Edo, não confundir com a República do Benim, país a oeste da Nigéria) e dirigem-se para Lagos, capital da Nigéria até 1982. 

Em setembro, porém, batem em retirada. 

A OUA (Organização da Unidade Africana) condena a secessão em nome da inalterabilidade das fronteiras herdadas da descolonização. 

Todavia, em 1968, a Tanzânia reconhece o Biafra, tal como o Gabão, a Costa do Marfim e a Zâmbia, para além de ser ajudado materialmente por Portugal, Israel e França. 

Lagos era apoiada pelo Reino Unido e ex-URSS. 

O Governo Federal empreenderá então um bloqueio eficaz sobre o Biafra a 18 de maio de 1968, o que torna esta região como que uma "fortaleza" sitiada. 

No final deste ano, as regiões do Biafra produtoras de alimentos caem; a fome alastra, matando cerca de 2 milhões de biafrenses. Ojukwu refugia-se na Costa do Marfim, depois de ceder os seus poderes ao general Effiong, que assina a capitulação em Lagos, a 2 de janeiro de 1970.

Na prática, a secessão do Biafra tinha um forte cunho económico em termos geostratégicos, para além de luta racial. 

As maiores reservas de hidrocarbonetos nigerianos, que possuía, logo despertaram "apetites" por grande parte de companhias internacionais: a seu lado, os franceses da Elf e os americanos da Gulf Oil, de forma sub-reptícia; com o Governo Federal, o Reino Unido e a BP (British Petroleum). Com receio de se iniciar um conjunto de secessões em África, a OUA viu com bons olhos o fim da experiência do Biafra.

Com as tropas nigerianas a isolarem a província rebelde, limitando a quantidade de produtos de fora que aí podiam chegar, a curto prazo a escassez de alimentos tornou-se crónica, e em breve a fome em grande escala assola a população. 

Pela primeira vez, através da televisão, as imagens de populações inteiras literalmente a morrer de fome pelos caminhos chegam em direto e com todo o impacto ao Ocidente. 

O choque que causam levam a que um pouco por todo lado apareçam movimentos, muitos enquadrados pela Igreja, tanto católica como protestante, para o envio de alimentos. 

Foi a primeira vez que a exibição das imagens de uma catástrofe humana pela televisão gerou resposta popular, obrigando várias instituições e governos a intervir pela pressão da opinião pública.

A 15 de janeiro de 1970, o Biafra deixou de existir, mergulhado na maior tragédia humanitária que o mundo conheceu fora da Europa no século XX, e foi reintegrado na Nigéria. 

A República do Biafra teve uma existência efémera entre 30 de Maio de 1967 e 15 de Janeiro de 1970. 

O Vaticano, Portugal e França foram os seus principais aliados. 

O Reino Unido, ex-potência colonial, o Egito e a URSS apoiaram a Nigéria. 

A China também apoiou o Biafra, denunciando o apoio à Nigéria do "imperialismo revisionista", numa alusão à URSS. 

A crise do Biafra começou em 1966 na sequência de uma tentativa falhada de golpe de Estado na Nigéria. 

A maioria dos oficiais superiores envolvidos pertencia à etnia ibo (cristãos do Biafra), a elite do país. 

No rescaldo do golpe, 30 mil ibos foram massacrados pelos militares islâmicos. 

Oito milhões de ibos viviam na região oriental da Nigéria que tinha como governador provincial o coronel Chukwuemeka Odumegwu (Emeka) Ojukwu. 

Foi ele que declarou a independência da região a 30 de Maio de 1967. Na resposta, as forças armadas nigerianas bombardearam e mataram indiscriminadamente soldados biafrenses e civis. 

A marinha da Nigéria fez um bloqueio que impediu o acesso a alimentos, medicamentos e armamento. No pico da crise humanitária, cinco mil biafrenses morriam todos os dias de fome e doença. 

O Governo nigeriano agravou a situação ao proibir o auxílio da Cruz Vermelha Internacional. 

O Biafra foi a primeira nação africana a refinar o seu próprio petróleo, o que desagradou às multinacionais que ali operavam e que tinham sede em Lagos, a capital. 

Um ataque da guerrilha contra pipelines da Shell-BP na região, onde o Reino Unido recolhia 20 por cento do seu petróleo, da Nigéria, ditou as alianças das petrolíferas com o Governo de Lagos.

A guerra do Biafra foi o primeiro grande desastre humanitário provocado por um conflito de origem étnica, após o Holocausto. Foi também o primeiro conflito armado do século XX em África, entre africanos, e a primeira guerra onde a questão do acesso às fontes de energia teve um peso determinante. Por esse motivo, o Reino Unido foi a única potência ocidental que alinhou com o Governo Federal da Nigéria que era apoiado pela União Soviética.

O conflito - e as suas consequências trágicas - foi também o primeiro a receber ampla cobertura mediática internacional. Em 1970, a catástrofe humanitária do Biafra assumia dimensões bíblicas. Quando a região foi reintegrada na Nigéria tinham morrido cerca de três milhões de pessoas e a imagem da tragédia eram os campos de refugiados com milhares de crianças famélicas. 

Em 1980, o Governo nigeriano concedeu um perdão a Ojukwu, que agora goza de um estatuto de ex-estadista e vive confortavelmente em Enugu, a antiga capital do Biafra. Confessando não sentir remorsos nem qualquer responsabilidade pelo que se passou, Ojukwu disse recentemente que se voltasse atrás "repetiria tudo", porque "todas as razões que levaram à secessão ainda não foram resolvidas e estão agravadas".

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