sábado, 26 de dezembro de 2020

Enfermagem e futuro

 







Mário Macedo

 www.publico.pt 

Enfermagem e futuro



Os últimos três anos foram para a enfermagem portuguesa verdadeiros tempos de mudança. Foram experimentadas novas formas de luta e protesto, foram alcançadas algumas das reivindicações, mas a nova carreira ficou muito aquém das legítimas expectativas dos enfermeiros.

A Ordem dos Enfermeiros não é nem deve ser um sindicato. No entanto, ao possuir a competência de regular a profissão, tem a capacidade e o dever de a fazer evoluir. 

A resposta às expectativas da enfermagem está, sem dúvida, relacionada com a evolução que a profissão consiga demonstrar nos próximos tempos.

Neste sentido, as próximas eleições de novembro para a Ordem dos Enfermeiros ganham renovada importância. 

Fazer avançar a profissão, conseguindo desta forma corresponder aos legítimos anseios de todos os enfermeiros, deve ser a plataforma central da futura direção.

O enorme sucesso de programas geridos e operados por enfermeiros, como o programa nacional de vacinação, é uma clara indicação que outros programas de cariz semelhante poderiam passar para o domínio da enfermagem, com claros ganhos económicos e de saúde. O rastreio do cancro do colo do útero, programas de cessação tabágica ou programas de formação de suporte básico de vida na comunidade são bons exemplos onde o papel da enfermagem poderia desempenhar um papel decisivo, alavancando a eficácia e os resultados em saúde. Nas urgências, mais autonomia para a enfermagem diminuiria de forma exponencial os tempos de espera, na mesma medida que aumentaria o conforto dos utentes.

Esta evolução encontra-se intimamente relacionada com a prescrição por enfermeiros, que já ocorre em vários países europeus. Este ato não pretende substituir o trabalho de outros profissionais de saúde. Pelo contrário, o objetivo é melhorar a acessibilidade e disponibilidade de cuidados de saúde, assim como aumentar a monitorização e vigilância da medicação fornecida.

Porque a enfermagem é a nossa causa maior, a direção que sair das eleições de novembro deve pugnar por ganhos em complexidade, por um maior conteúdo funcional, novas competências e autonomia.

Paralelamente, é indispensável lutar pela alteração do paradigma de financiamento hospitalar. A enfermagem é vista como uma despesa e não como um investimento em melhores cuidados oferecidos à população. 

É urgente promover uma alteração desta forma de financiamento hospitalar. Hospitais receberem financiamento pelo número de consultas de enfermagem efetuadas, pela monitorização da sua eficácia e pelo reduzido número de infeções nosocomiais ou úlceras de pressão, seria um inegável avanço para a enfermagem. Iria permitir que o próprio papel social do enfermeiro sofresse alterações, com as devidas consequências: respeito pelas dotações seguras, valorização das condições de trabalho e uma maior relevância e investimento na formação e investigação.

Até às eleições, é importante que o debate de ideias seja saudável e construtivo. 

Que os enfermeiros se mobilizem, participem e votem. Todos juntos, com os objetivos bem definidos, temos a capacidade de promover a saúde dos portugueses, tornando possível a construção de um sistema de saúde mais acessível e equitativo.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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