sábado, 29 de agosto de 2020

(EdH) As epidemias ao longo da História - 1ª/2ª partes




(EdH) As epidemias ao longo da História - 1ª parte



covid-19 deu ambígua notoriedade ao pouco conhecido, e quase extinto, pangolim, animal acusado de ter servido de veículo de transmissão entre o vírus existente nos morcegos e os seres humanos. Ficámos assim a saber que existem oito espécies de pangolins, quatro em África e outras tantas na Ásia e como são caçados para lhes comerem a carne e aproveitarem as escamas para a medicina tradicional chinesa.
Voltámos, igualmente, a ser confrontados com a História das epidemias, havendo vestígios das primeiras em meados do século XI a.C. no Crescente Fértil, que abrangia a Mesopotâmia e o vale do Nilo ou, igualmente, no vale do Ganges.
O sarampo foi a primeira doença letal e contagiosa a ser identificada, quando a domesticação dos animais domésticos, sobretudo dos bovinos, se acentuou e causou significativa mortalidade de quem vivia na Mesopotâmia por volta de 6500 a.C.
Com dimensão de pandemia - ou seja com âmbito mundial - distinguiu-se a varíola, detetada na China no séc. IV d.C. Três séculos depois já se propagara à Índia e à bacia mediterrânica, chegando à península ibérica través dos exércitos muçulmanos, que atravessaram o estreito de Gibraltar e vieram dar fulgor ao al-Andalus.
Nos séculos XI e XII a varíola andou para trás e para diante, entre a Europa e a Terra dita Santa, levada e trazida pelos cruzados. E, no século XVI, portugueses e espanhóis levaram-na nas naus e caravelas para o Novo Mundo causando um terrível morticínio nos ameríndios, que perderam 10% da sua população.
Por essa altura já toda a Eurásia tinha sido assombrada por outra pandemia, ainda mais letal: a peste negra, que aproveitou a aceleração das trocas comerciais e a urbanização dos grandes aglomerados populacionais para se propagar.
Curioso foi o sítio onde essa epidemia surgiu pela primeira vez: foi em 1334 na cidade chinesa de Wuhan, precisamente aquela donde proveio a atual ameaça sanitária. Através da Rota da Seda atravessou a Ásia Central. chegou à Índia e ao entreposto de Caffa nas margens do mar Negro, ganhando depois boleia dos mongóis para chegar à Europa, tendo também a via alternativa dos navios genoveses, que a fizeram chegar a Constantinopla, a Messina, e aos demais portos italianos e do Norte de África. Em 1347 chegava a Marselha, daí irradiando para as grandes cidades europeias. Nessa altura tudo valia para erradicar  o mal: orações e procissões, quarentenas e migração das cidades para o campo.
Em 1352 a peste já causara 50 milhões de mortos na Europa, ou seja entre 30 e 60% da população existente.


(EdH) As epidemias ao longo da História – 2ª parte



A cólera é uma bactéria que mata por desidratação. Em 1834 um surto proveniente de Bengala, detetado em 1817, chegou ao porto de Marselha, depois de atravessar toda a Rússia e a bacia mediterrânica.
As autoridades impuseram o controle das fronteiras e a quarentena causando grande polémica pública entre os seus defensores e os que nela viam entrave ao prosseguimento das atividades económicas (onde já vimos isto?). Os efeitos dissuasores da propagação da doença não surtiram efeito e só com os trabalhos de Robert Koch, na segunda metade do século, é que se consolidou a ideia de causa-efeito entre as péssimas condições sanitárias e a doença que, até hoje, já conheceu sete grandes epidemias e saldou-se por milhões de vítimas.
A gripe espanhola, na realidade norte-americana, surgiu em 1918, atravessando rapidamente o Atlântico e aproveitando as péssimas condições sanitárias do final da Primeira Guerra Mundial para, em três vagas sucessivas, causar 50 milhões de vítimas mortais (5% da população mundial), muitas mais do que os 19 milhões resultantes do conflito em si.
Apesar dos progressos da medicina e dos cuidados de higiene, nova gripe devastadora surgiu em 1968 em Hong Kong, logo potenciada com o avanço do inverno de 1969.
Surge logo a seguir a epidemia da Sida, transmitida sexualmente ou através do sangue, mas oriunda do sul da República dos Camarões, onde passara dos chimpanzés para os seres humanos. Em 1981 irradiou da Califórnia, e muito particularmente de São Francisco, num alarme internacional motivado pela letalidade da doença que, em quarenta anos matou 32 milhões de pessoas e, hoje me dia, apesar dos progressos dos tratamentos antivirais, ainda vitima anualmente 800 mil, sobretudo na África e na Ásia.
Outra epidemia assustadora, sobretudo por matar uma em cada duas pessoas afetadas pelo vírus, é a do Ébola, embora se mantenha cingida geograficamente na Libéria, na Guiné, na Serra leoa e na Republica Democrática do Congo, todos eles países em acelerada desflorestação, que favorece o contacto entre espécies selvagens outrora distantes dos contactos com os homens e a eles subitamente forçados.
Neste século, antes do covid, duas outras epidemias com coronavírus surgiram na Ásia e ali ficaram circunscritas.: o SARS em 2003, que grassou na China, em Taiwan e Hong Kong e o MERS em 2012 na Arábia Saudita, nos Emiratos Árabes e na Coreia do Sul. Uma vez mais constatou-se neste último síndroma respiratório, que a transmissão proviera de morcegos, que tinham passado o vírus aos dromedários.
E assim chegamos a esta crise atual, que detetada em Wuhan, se viu potenciada pela enorme migração anual suscitada pelas festas do Ano Novo chinês. Para já o resultado é uma crise económica com dimensão bem maior do que a verificada durante a Grande Depressão de 1929.

temposinteressantes.blogspot.com

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